18 de outubro de 2006

Belo Horizonte - Minas Gerais


XVI Encontro Brasileiro do Campo Freudiano

2 a 4 de Novembro de 2006 Belo Horizonte - Minas Gerais

Amor: da impotência à impossibilidade
O amor está sempre na moda? Para Freud sim, por considerar que o amor é uma forma do sujeito suportar a incomodidade da vida, na suposição de fundar uma harmonia com o objeto. O amante crê que o amado tem o objeto agalmático. A conquista amorosa é um dos nomes da estratégia do amor: fazer o amado passar para o lugar da falta. A falta e a castração se referem à impotência.
Lacan, a partir do Seminário 20, faz a passagem da impotência para a impossibilidade. Do amor, que se instala no lugar da falta, solidário à castração, para a função do amor imaginário, que liga o real ao simbólico e faz suplência ao impossível da relação sexual, que não existe. É o amor de (a)muro, que põe em evidência o muro que separa os dois sexos
Cartas de Amuro quer debater com você os Nomes do Amor.
Nesta edição vamos encontrar várias seções: Atividades nas Seções e Delegações, é o espaço reservado para anunciar o que está sendo realizado na EBP sobre o tema do XVI EBCF. Os Laços do Amor, A Invenção do Amor, Os Nós do Amor, Vamos falar de amor? – são os temas das jornadas de Pernambuco, Paraíba, RGN e Santa Catarina que vão acontecer antes do XVI EBCF, Nomes do Amor.Em Conversas de (a)muro, temos o texto de Sérgio de Castro apresentado recentemente na EBP–MG. Na seção Imagens do amor, publicamos uma das imagens selecionadas pela Comissão do Boletim, escolhidas entre inúmeras que nos foram enviadas.
Esperamos para os próximos números as contribuições dos colegas, a partir do que vêm sendo trabalhado sobre os Nomes do amor.
Boletim nº 02, de 12 de julho de 2006.
Iordan Gurgel Diretor da EBP Presidente do XVI EBCF

2 comentários:

MG disse...

Nomes do amor por Sérgio de Castro Coordenador da Comissão Científica

O ensaio freudiano Sobre o narcisismo, uma introdução distingue dois tipos de amor que poderão ser tomados como pontos de partida de nosso debate em direção ao XVI Encontro Brasileiro do Campo Freudiano. Temos ali o amor narcísico, cuja referência inicial será a homossexualidade, e o amor anaclítico, que, a partir do apoio em um objeto que satisfaz uma necessidade, coloca a dimensão de um mais além onde poderemos situar propriamente o amor. Depreendem-se daqui então dois eixos, o imaginário e, nesse além visado pelo amor anaclítico, o simbólico.
É certo que a dimensão do ser, mais que a do ter, estará também envolvida no amor. O dito lacaniano segundo o qual o amor visa a fazer Um evidencia que o amor se dirigirá ao cerne do outro, quando podemos nos dar conta de que há também algo do real concernido aí.
Na clínica, tais dimensões, a imaginária, a simbólica e a real, estarão sempre, mais ou menos, presentes. Partindo do amor de transferência que se sustentará inicialmente no imaginário, será sempre a “um novo amor” — para nos atermos a uma citação lacaniana de Rimbaud — que se deverá dirigir o tratamento. Tal “novo amor”, entendido por Lacan como uma elaboração de saber, dirá então respeito ao simbólico. Sabemos, no entanto, que algo gradativamente resiste ao significante — ou só se deixará tocar por ele em arranjos em que o sentido esbarrará em seus limites. Localizaremos aqui o sintoma — aquele de elaboração tardia no ensino de Lacan — sempre articulado a um núcleo autista de gozo que comportará, no entanto, uma modalidade de abertura ao outro. Tal abertura, certamente paradoxal, será ainda um nome do amor e resultará no que aprendemos, com Jacques-Alain Miller, a chamar de parceria sintomática. Talvez tenhamos aqui a forma mais desidealizada do amor, em que o outro, mais além de um fascínio imaginário pelo semelhante, tanto quanto de qualquer dimensão de troca simbólica — ainda que para “dar o que não se tem” — deverá ser situado como meio de gozo daquele falasser. Toda uma tipologia clínica poderá ser depreendida daqui, visto que caberá ao parceiro ser o sustentáculo de um impossível que se localizará então em uma dimensão intersubjetiva.
Dessas sumárias indicações clínicas poderemos também partir para uma leitura mais ampla, em que questões como a que Lacan chamou de triunfo da religião não se chocarão mais com uma incidência cada vez mais abrangente do discurso da ciência, ou em que a expansão inaudita — mas que encontra sérios pontos de resistência — de mercados cada vez mais comuns leva o discurso capitalista aos confins do mundo contemporâneo. Aqui também se produzirão novos nomes do amor e novas ficções que visarão sempre a apreender o que em seu cerne sabemos não ser apreensível. Todo o afã contábil e de avaliação que também vemos intensificar-se hoje, com medidas que atingiriam inclusive a psicanálise — como as tentativas recentes de regulamentação, pelo estado, de sua prática — deverá ser situado em tal panorama e também será debatido em nosso Encontro.
Enfim, a Comissão Científica do XVI Encontro Brasileiro do Campo Freudiano espera que possamos discutir, tendo a clínica como referência, uma ampla gama de questões que se desdobram de nosso tema, tão caro à psicanálise desde seus primórdios.

MG disse...

Elisa Alvarenga escribió:

É ótimo ver, no Blog da AMP, uma foto de Belo Horizonte, cidade onde acontecerá o XVI Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, mas também... o 3o Encontro Americano. Assim, os colegas americanos vão se familiarizando com o nosso belo horizonte...
O Encontro Brasileiro, que se realiza nos próximos dias 2 a 4 de novembro, recebeu 90 propostas de trabalho (!), procedentes das várias Seções e Delegações da EBP. Estarão em Belo Horizonte colegas de todos os cantos do Brasil, discutindo a atualidade dos "nomes do amor". Em entrevista ao boletim eletrônico "Cartas de Amuro" n. 4, Iordan Gurgel, diretor da EBP, pergunta: há na atualidade um declínio do amor? O amor varia de acordo com as estruturas clínicas? Podemos considerar que os encontros via internet são novas formas de se amar?
Lacan, em 1978, disse: "não é certo que a neurose histérica exista, mas há certamente uma neurose que existe, que é o que chamamos de neurose obsessiva". Estariam as novas formas de amor, sintomáticas, associadas com a prevalência da neurose obsessiva na atualidade, ou ainda, associadas com a solidão, o isolamento e a frouxidão dos laços contemporâneos, dos quais nos fala Zigmunt Bauman em seu livro "O amor líquido?"
Freud, sem acreditar ingenuamente no amor, soube fazer uso do amor - de transferência - para inventar a psicanálise. Cabe-nos saber reinventar, em cada caso que se nos apresenta, e nas situações as mais diversas, esse laço com o Outro que permite que um tratamento - analítico - seja ele curto ou longo, terapêutico e didático, se inaugure para cada um.