31 de outubro de 2007



Foi-se o tempo em que soava pertinente a provocação de Sartre, quando este definia o filósofo, por ocasião de uma conferência no Japão, como aquele que se mete com o que não é da sua conta. Se a filosofia, até então, parecia capaz de se intrometer e formular juízos de valor acerca dos demais campos de saber, era por crer se situar num espaço de reflexão exterior às atividades sobre as quais emitia seu julgamento. Por que então a filosofia hoje se retrai, disposta agora a ocupar, modestamente, o lugar que a sociedade lhe reserva no leque das especialidades, como se ela não mais fosse do que uma espécie de habilidade técnica do intelecto?

. Estamos, ao que tudo indica, diante de uma configuração sofística do pensamento, na medida em que a própria filosofia, ao denunciar a conformação ideológica das formas de organização do saber, viu-se ela mesma destituída de um lugar extra-ideológico em que sua atividade crítica poderia habitar. Diante desse mal estar, a saída contemporânea, dita pós-moderna, consiste na astúcia de tratar o problema como solução: se não há referente extra-ideológico, devemos demitir, definitivamente, a categoria de verdade, e tratar os conceitos como ficções. Nada mais resta senão aceitar que tudo é ideologia, aceitação que aliás constitui o próprio conformismo ideológico contemporâneo, caricaturizado no slogan que dá o título a terceira série desses dez-encontros: All star na civilização, todas as ficções são válidas, desde que nos valham quinze minutos de fama.

. Ou será que não, será que a ideologia ainda não é tudo, será que ainda é possível assumir um lugar distanciado em relação a ela e dali criar um eixo para o exercício crítico do pensamento? Situar esse lugar, dizer como especificá-lo, é o que aqui propomos como princípio diretivo desse colóquio. Mas sem determinar, ideologicamente, o sentido dessa direção, ainda que nos sintamos inclinados a referir esse lugar à categoria de sujeito que a práxis psicanalítica atualiza. Adiantamos somente, na esteira do filósofo S. Zizek, que esse lugar deve permanecer vazio, descomprometido com toda e qualquer realidade positivamente determinada. E que esse lugar, tal como o título do colóquio indica, exibe parentesco com a estrutura formal do Witz, na medida em que é próprio ao chiste sinalizar, na infração do conceito, o modo de expressão de uma verdade exterior à norma da ideologia.



evento ocorrerá na FAFICH (Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas ) da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) em auditórios e salas a determinar.


Tel/Fax: (31) 3499-6316 email: rh_jrufmg@yahoo.com.br

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