Editorial
Esse número de Latusa digital escreve com dois textos de Marie-Hélène Brousse os preparativos para nossas XVIII Jornadas Clínicas, Objetos soletrados no corpo a se realizar em 2 e 3 de novembro de 2007, que contará com sua presença como convidada internacional. Dois textos que nos permitem debruçar sobre o objeto em relação com o corpo de pulsão e gozo.
No primeiro, Em direção a uma nova clínica psicanalítica, Marie-Hélène Brousse discute, a partir do Discurso do Capitalista, o lugar que os objetos ocupam hoje na cultura e nos sintomas. Em um mundo no qual o mercado ocupa o lugar de significante-mestre (S1), nada escapa à troca e tudo pode se tornar objeto de consumo para um sujeito, efeito de uma rede em que a informação vale como saber (S2). Assim, os quatro elementos dos discursos (S1, S2, $, a) estão organizados segundo uma lógica na qual o limite ao gozo, que anteriormente se escrevia pela interdição, passa a se situar no esgotamento da própria função de gozo do objeto. Consequentemente, se tudo pode vir a ser objeto de gozo, fatalmente encontrará seu destino de resto, deixando ao sujeito, diante desse excesso, a precariedade de estabelecer limites: Nomes-do-pai, por meio da angústia que limita pelo real, da inibição pelo imaginário, ou do sintoma pelo simbólico.
Vale ressaltar também a diferença que Marie-Hélène Brousse delineia entre esses objetos que abundam e o objeto a. Neste, ela assinala, reside o vazio irredutível do objeto ao significante, o que resguarda não só o desejo como a verdade do sujeito. “Em face disso”, nos diz ela, “a psicanálise responde pela reintrodução do enigma no discurso e pela transformação do desejo em efeito de verdade a respeito do que é o objeto da pulsão”.
No segundo texto, O uso do objeto, Marie-Hélène Brousse parece dialogar com o primeiro texto escolhido, situando, o analista no tempo em que tudo vira objeto. Com o título, ela enfatiza o lugar e o ato analítico como prática da clínica da transferência, na qual importa o psicanalista funcionando na experiência, e não a prática da palavra. Ainda que o dispositivo analítico seja construído com linguagem e Lacan o tenha concebido ordenado segundo os pólos do dizer e da escrita, ela enfatiza que se trata de um dispositivo em que “o real toca o real”. Melhor dizendo, como ela conclui: “Servir-se do analista como objeto permite passar do Outro da necessidade pulsional ao Outro que não existe, ao gozo”.
Heloisa Caldas.
Em direção a uma nova clínica psicanalítica - Marie-Hélène Brousse
O uso do objeto - Marie-Hélène Brousse
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