29 de abril de 2014

LACAN COTIDIANO N. 378 - PORTUGUÊS


 

Sábado, 15 de fevereiro de 2014 - 20 h 09   [GMT + 1]
NÚMERO 378
Eu não teria faltado a um seminário por nada nesse mundo — Philippe Sollers
Nós ganharemos porque não temos outra escolha — Agnès Aflalo
www.lacanquotidien.fr
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Alguns Pedaços de real
Pérolas, Witz, punctum, clarões ou divinos detalhes

por Caroline Leduc e Ève Miller-Rose

A geração real investiu no site do congresso da AMP. A rubrica «Pedaços de real» propõe aos espíritos vivos e decididos do campo da AMP de escreverem textos breves, mordendo o real do século XXI.

Uns trinta Pedaços de real resultantes dos largos horizontes da AMP e de todos os seus recantos estão desde agora já publicados em várias línguas. Vocês encontrarão sonhos de refeições terapêuticas e ou de elfes gelados, uma criança em cólera e, uma outra muito decepcionada com seu presente de papai Noël e uma para a qual um real do séc. XXI se encarna no corpo. Uma zeladora de museu fala, dos visitantes afobados que fogem, um tenente da OTAN enfrenta o mar – um real ressoa onde ele se expõe. Eles se deparam com uma  ninfomaníaca – um real irredutível – e com internautas canibais – nova versão do real sem lei. As marcas do real são ai interrogadas, slogan que captura o impossível, tendência skull cabeças de morto ou reconfiguração produtivista pelo 24/7. Apostamos que você também será fisgado por um surpreendente arroubo do real por um smartphone, pela hipótese de um empuxo-à-mãe no séc. XXI … e várias outras pérolas, Witz, punctum, clarões ou divinos detalhes com os quais se alfineta o real contemporâneo.
Para escrever seu pedaço de real, informe-se aqui - Siga @scilitwitt sur Twitter
Enviem seus textos a wapwebtext@gmail.com                                    


- Uma família para todos -

O aborto, uma lei que protege

A crônica de Hélène Bonnaud

A atualidade nos mantém alertas. O adiamento da lei do direito ao aborto, tal como foi pronunciado na Espanha, constitui-se numa verdadeira intrusão na questão do desejo de ter um filho. Enquanto a ciência faz de tudo para permitir a todos terem uma criança, um movimento negativo aparece concernindo a possibilidade, para cada mulher, de colocar fim a uma gravidez não desejada.

A religião é a primeira a se opor ao aborto, com o pretexto de que um embrião é um ser vivo que pediria para viver. Ah ! Dar a palavra aos embriões não seria delirante desde que imaginemos que toda vida é um presente de Deus...
Outros aderem a esta tese indicando a função da criança como um objeto imaterial, deificado e anulando tudo aquilo que concerne às condições de sua vinda ao mundo.

Não se suporta a idéia de que uma mulher possa decidir não querer o filho que ela carrega, pois a mãe é mais ideal que a mulher, ou seja, Mãe > Mulher (M > F).

Esta recusa do direito ao aborto concerne não à um direito de nascer de toda criança, mas à idéia de que a criança é a condição do vir a ser de uma mulher. Que ela lhe é intrínseca. Que ela lhe é natural e o aborto seria o ato que viria perturbar esta crença que faz de toda mulher - uma mãe em potencial.

De fato, trata-se de uma posição de recusa da feminilidade, tal como Freud teria deduzido a causa. A mulher deve esquecer-se diante da mãe. Ela deve se submeter ao real da natureza...

A demolição da feminilidade aí está em curso, pois mesmo que não seja mãe, uma mulher permanece marcada pelo selo da privação primeira da qual presentifica o horror, o horror da castração, diz Lacan em seguida a Freud.

Hoje em dia, a criança desejada faz esquecer que no início do século passado, ela surgia como um real que incomodava mas impunha sua presença, fazendo das crianças, abortos do desejo de seus pais. Esta submissão ao real do parto cessou com a chegada dos contraceptivos orais que então abriram a via - e a voz – a este slogan de maio de 68: «uma criança se eu quiser, quando eu quiser». A lei do direito ao aborto de Simone Veil (1975) respondeu a esta concepção da liberdade da mulher de escolher ter ou não um filho e de ser responsável por sua decisão. Pois abortar é uma experiência que pode deixar uma marca indelével no psiquismo.

Proibir o aborto em nome da vida é recusar o princípio de uma escolha, para uma mulher, de decidir ou não o momento de se tornar mãe. Proibir o aborto é recusar o princípio do feminino, do não-todo feminino, mais precisamente, que não se quer ser mãe a todo preço, mas busca-se a lógica de sua vida muitas vezes em outro lugar que não naquele de um destino de ser mãe, que não estaria no momento de seu desejo.

Finalmente, já que o casamento para todos defende o direito à escolha do sexo do parceiro, à escolha de gozo e seu reconhecimento, a escolha de ter um filho se quiser e quando quiser se tornaria de repente caduca. É o que se passa na Espanha. Por um lado, é um dos primeiros estados a ratificar a lei do casamento para todos, e hoje, é ela quem se opõe ao aborto, em nome de um direito de palavra exclusivo dado ao «não-nascido»!

A criança fica forçadamente alienada à questão da feminilidade, mas a psicanálise ensina que uma mulher não é forçadamente destinada a se tornar mãe. A criança pode vir a ocupar uma função que ela ignora no momento em que a mãe o espera, um real que não tem sentido. Neste, nem sempre a promessa é de felicidade.

Também, quando na França, no que concerne a lei Veil, o governo atual se curva diante da noção de situação de perigo que acompanhava os tramites para uma IVG, e propõe suprimir este termo, se desfaz a idéia de qualquer julgamento para verificar a validade do pedido. Assim, o estado psíquico de uma mulher não deverá mais ser considerado. Isto a previne contra a ditadura do diagnóstico psicológico como condensador de mal-estar, e mesmo de culpabilidade. O que conta no nível da lei, do para todos que ela organiza, não é certamente o estado de aflição, mas o fato de dizer «eu não quero esta gravidez», pois pode-se não querer uma gravidez sem dever se explicar por isso. Pode-se não querer isso por um monte de razões que não dizem respeito a mais ninguém além do sujeito ele mesmo. Ser mãe levanta uma questão de liberdade e de dignidade e, como o dizem as mulheres espanholas em seu slogan, «aborto livre, senão iremos morrer».

Pippo Delbono : real e teatro do corpo
por Dominique Corpelet

Pippo Delbono retorna à França (1) com uma nova obra, intitulada Orchidées. Orquídeas é certamente a planta, mas também esta espécie de inseto que imita as cores e as formas da flor sobre a qual ele se coloca, para melhor capturar suas presas.

O teatro de Pippo Delbono não tem grande coisa a ver com as formas habituais do gênero: aqui nada de ator que faz um papel, nada de personagem nem de história. É uma forma inclassificável do teatro. Pois nada se parece ao que fazem o ator italiano e sua trupe. Performance? Dança-teatro? Certamente o encontro de Delbono com Pina Bausch foi decisivo. Mas o que ele faz é apenas dele. Nenhuma categoria conhecida poderia vir a esgotar o que ele concebe.


Uma coisa é certa, é um teatro que incomoda: ele desregula os códigos estabelecidos, ele perturba o conforto do espectador – à julgar pelo número daqueles que, a cada vez, se apressam em deixar a sala na primeira meia hora da apresentação. É um teatro que acorda: nenhum sossego é deixado verdadeiramente àquele que ousa vir ver. Em Orchidées, somos, como frequentemente nestas peças, mantidos acordados pela voz de Delbono, por seus gritos e por sua presença na sala e em cena. É uma presença real que se impõe.
Somos, além disso, mantidos acordados pelas imagens difundidas: como o pequeno filme que o ator fez dos últimos instantes de sua mãe em seu leito de morte. Ou ainda as imagens do inseto orquídeo devorando suas presas. Ou enfim, as imagens de guerra difundidas numa tela de televisão.

Estas imagens, nunca obscenas, deixam entrever um real.  Orchidées não oferece nenhum momento de repouso : somos a cada instigante capturados pela surpresa, pelo incômodo e pelo inesperado. Ora surge um ator de não se sabe que canto da sala ; ora jorra uma voz ensurdecedora. Ora um ator estranhamente disfarçado atravessa a cena. Esta verdadeira Commedia Dell'Arte heteróclita não cessa de nos surpreender: de Bob o surdo-mudo microcéfalo que vivia outrora no asilo psiquiátrico, à Gianluca Ballare, o sujeito trisômico e ao antigo mendigo... Excluídos da sociedade, marginais, eles são na cena os personagens que eles são na vida.

Isso irrompe de todos os lados. Aqui o corpo está à frente : corpos dançantes, corpos falantes, corpos doentes, corpos morrendo : « Desde minhas primeiras experiências cênicas, (...) minha pesquisa foi baseada sobre os princípios dramáticos que podem ser expressos pelo corpo. » (2) Pippo Delbono coloca a ênfase sobre um querer-fazer mais do que sobre um querer-dizer : « eu não me concentro sobre o que eu quero dizer, mas sobre o que eu quero fazer. O corpo é uma soma, uma gama que é preciso conhecer na ponta dos dedos ». (3) Daí a importância que ele dá ao treinamento cotidiano que ele ensaia há anos. O destaque do corpo vai de par com uma desconfiança de tudo o que é pensamento. Pippo Delbono defende um teatro que seria a colocação do corpo em jogo sem o pensamento, sem aquilo que ele chama uma « psicologia ».
Escutemo-lo explicar os fundamentos de uma tal forma teatral. « É verdade que eu tenho medo do pensamento e mais ainda depois que eu tive a experiência da loucura : é errado acreditar que podemos controlar nossos pensamentos, o pensamento pode verdadeiramente te jogar no inferno. A cabeça pode se tornar um monstro. » (4) 

Profundamente marcado pela doença do corpo e pela experiência da loucura, Pippo Delbono parece assim – é uma hipótese – ter encontrado através de sua forma original de fazer teatro, um modo de distanciamento do pensamento ; o corpo, mantido em perpétua atividade em cena, o permite «adiar ou diferir [seus] pensamentos».(5) Daí uma atividade muitas vezes quase frenética: «se teu corpo é tomado na dimensão da viagem, na atividade, o pensamento é mais concreto, mais correto, mais adaptado à situação». É estar na ação, apenas estar lá, nos «momentos sem pensamentos».(6) Pippo explica por exemplo que é o trabalho incessante sobre o corpo que o ajudou outrora a transpor a dor ligada à perda de seu amigo, Vittorio : «(...) este trabalho sobre o corpo, um trabalho fora de si que impedia de pensar, de refletir e de projetar sobretudo, me ajudou a superar».(7) Diante do sem sentido da morte, o corpo é convocado contra o pensamento.

Daí também as vozes incessantes. Pois, em suas peças, Pippo Delbono se faz tagarela : ele pega o microfone, fala, grita e berra do fundo da sala, comenta as imagens que desfilam em cena, empresta sua voz ao jogo dos atores silenciosos. Sua voz se transplanta sobre o corpo de Bobo mudo. O corpo do ator em cena é cortado de sua voz, que lhe vem de um outro. O berro vem dizer o sem sentido, o insuportável e o impensável.
Em sua peça, Pippo Delbono se bate com o real. E nós nos batemos com ele. Ele não nos poupa de nada: a morte, a raiva, a destruição, a desregulação introduzida pelo capitalismo, as segregações de todo tipo. Suas idas e vindas incessantes da sala à cena, sua forma de interpelar o público, abolem a distância que há de ordinária entre o espetáculo e o espectador. Aqui, só se escapa do espetáculo saindo da sala. Não tem jeito de se evadir pelo pensamento, não tem jeito de se abstrair por um curto instante, de não escutar ou de não ver. Pippo vocifera o sem-sentido ao qual ele se encontra confrontado : a morte de sua mãe, o insuportável da vida, o imundo.
Por trás da beleza da flor da orquídea há o inseto predador.

Seu teatro toca o real e ele nos toca. Dentre as numerosas definições que Lacan dá do real, eu retiraria esta, da lição de 11 de março de 1975 de seu Seminário «RSI»: «O real, é preciso conceber que é a expulsão do sentido. É o impossível como tal, é a aversão do sentido. É também a versão do sentido no anti-senso e ante-senso, o choque em retorno do verbo, enquanto que o verbo não está ai senão para isso – isso que da imundice que o mundo se monda em princípio – se é que há um mundo. Isso não quer dizer  que ele consiga. O homem está sempre ai. A existência do imundo, à saber disso que não é mundo, eis o real em resumo».(8) Desse imundo Pippo Delbono testemunha, através de seu verbo, seus gritos e suas imagens, sem o socorro de um discurso estabelecido. Seu teatro do corpo é a forma que ele encontrou de fazer arte e testemunho, introduzindo ai um fio de metáfora.

(1) Orchidées, de Pippo Delbono, au Théâtre du Rond-Point (a eu lieu du 29 janvier au16 février 2014)
(2) Delbono P., Le Corps de l'acteur, ou la nécessité de trouver un autre langage. Six entretiens romains avec Hervé Pons, Besançon : Les Solitaires Intempestifs, 2004, p. 19.
(3) Ibid., p. 25.
(4) Delbono P. , Mon théâtre, Arles : Actes Sud, 2004, p. 53.
(5) Ibid., p. 53.
(6) Delbono P., Le Corps de l'acteur, op. cit., p. 25.
(7) Delbono P., Mon théâtre, op. cit., p. 27.
(8) Lacan J, Le Séminaire, Livre XXII, «RSI»(1974-1975), Ornicar? 5, Paris, Lyse, hiver 75/76, leçon du 11 mars 1975, p.17.


O direito de ter um filho e de
escolher um corpo sexuado

por Deborah Allio


Direitos e leis

O real, que outrora se nomeava natureza, assegurava um mundo previsível. Com o discurso hipermoderno do capitalismo e da ciência, assim como concomitantemente com o declínio do pai, a ordem do mundo ficou perturbada(1). A igreja católica denuncia o real sem lei e nomeadamente as novas tecnologias que fazem desaparecer a « família natural » : um pai, uma mãe, um filho biológico. A família natural se desfaz em proveito das novas formas: as famílias monoparentais, recompostas ou ainda homoparentais.

O direito evolui em função das mutações da sociedade e busca responder às reivindicações dos casais homossexuais de ter um filho.
Alguns meses depois da lei sobre o casamento para todos, o tribunal de grande instância de Lille acaba por conceder à duas mulheres casadas a adoção plena de duas crianças nascidas através de inseminação artificial com doador desconhecido. A aceitação dos pedidos depende todavia da boa vontade do tribunal. O vazio jurídico permanece com relação à procriação medicamente assistida (PMA) para os casais de mulheres assim como para a gestação para outros (GPA). O governo atual acaba de anunciar novamente o adiamento da lei sobre família em 2015 em seguida às manifestações recentes e ao debate virulento na cidade sobre a suposta teoria do gênero ensinada na escola.

Pela primeira vez no Japão, um homem transexual, nascido mulher, acaba de ser reconhecido pelo tribunal japonês como pai legalmente reconhecido de um filho nascido de sua mulher após uma inseminação artificial do esperma de um terceiro(2). O pedido deste homem tinha sido recusado anteriormente por várias vezes. Os juízes se apoiaram na lei de 2004 que estipula que um transexual tem o direito de se casar mas também de ser reconhecido como ai de uma criança concebida por sua esposa durante seu casamento.
As leis definem assim os modelos familiares a partir do direito de ter um filho o que permite que Éric Laurent diga que: «a criança faz a família». Ele a constitui, com efeito, socialmente.


A transidentidade, uma questão moderna

A lei francesa impõe uma retificação do corpo pela cirurgia para obter uma retificação do estado civil.
Axel Léotard, uma mulher que se tornou homem, denuncia em seu livro, Ousar mudar de sexo(3), as esterilizações assim como os exames judiciais sexuais obrigatórios para obter uma mudança de nome. Um homem que se torna mulher deve se submeter a uma vaginoplastia. Retira-se o útero, as trompas e os ovários de uma mulher que se torna homem. A faloplastia não é obrigatória «precisamente, pela simples e boa razão de que os cirurgiões franceses não sabem fazê-la».
A operação cirúrgica, segundo ele, não é portanto sempre almejada: «70% desta comunidade não quer ser operada, portanto temos 70% desta comunidade que vive sem estado civil». Ele milita assim ativamente no seio de associações afim de que cada um possa escolher seu corpo sexuado e sua identidade.
Axel Léotard divulga que as leis européias são mais suaves que as leis francesas. A Espanha, destaca-se, concedeu a mudança de estado civil à pessoas não operadas.

Os direitos das pessoas transidentitárias evoluem com o tempo. Estes sujeitos não são mais estigmatizados após a retirada pela Ministra da Saúde, Roselyne Bachelot, em 2010, do transexualismo da lista das doenças mentais.

Chloé Avrillon, um homem que se tornou mulher, se apoiou sobre este decreto para fazer seu coming out e realizar seu percurso até o exame judicial sexual. Ele temia até então não apenas a internação em hospital psiquiátrico mas também a retirada de sua autoridade parental (4).

O tribunal de apelação de Rennes aceitou em 2012 o pedido de mudança de estado civil de Chloé. Sua consulta havia sido recusada um ano antes pelo tribunal penal de Brest pelo motivo de que Wilfrid era casado e pai. Esta mudança de identidade conduziu, antes mesmo do voto do casamento para todos em 2013, ao reconhecimento de um casamento homossexual.
A lei sobre o casamento para todos adotada em 2013 inscreve, portanto, em um regime legal, a mudança de estado civil das pessoas transidentitárias.
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(1)  Cf. Miller J.-A., « Le réel au XXI siècle », La Cause du désir n°82, Paris, Navarin, 2012, pp.88-94 et Scilicet. Un réel pour le XXIe siècle, Paris, ECF-Collection Huysmans, p.17-27.
(2) Un transexuel né femme reconnu papa , Le Monde.fr, 12 décembre 2013.
(3) Leotard A., Oser changer de sexe, Editions la Musardine, Paris, Septembre 2013.
(4) Wilfrid est devenu Chloé : Papa est une fille, le Nouvel observateur, novembre 2012.

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A céu aberto de Mariana Otero na Ilha da Reunião
em 31 de maio de 2014

LQ divulga este anúncio de Annie Smadja :
A diretora Mariana Otero e Marie Brémond, interventora no Courtil, apresentarão o filme e seu livro* na Ilha de Reunião. O debate, ampliado na sala, será sustentado pelos profissionais e não-profissionais de diferentes setores, psicanalistas, famílias e políticos. Façam circular a informação e venham todos! Nós o ajudaremos a organizar sua viagem e sua estadia em nossa bela ilha.
*À ciel ouvert, entretiens. Le Courtil, L'invention au quotidien de Mariana Otero et Marie Brémond, Buddy Movies, janvier 2014.
Na  grande sala do Cinema-Cambaie de Saint Paul de La Réunion, em 31 de maio de 2014 às 9h 
Informações:
Annie Smadja 87, rue des Sables 97434 Saint Gilles les Bains - 02 62 32 52 90

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Boletin Latigazo nº 3,

Editorial de Dalila Arpin

Neste terceiro número de Latigazo,  vocês encontrarão a primeira parte de um texto de Éric Laurent sobre um tema de grande atualidade, a crise do DSM. Ele nos dá os resultados de uma pesquisa muito completa que ele conduziu junto de « iniciados » - especialistas que trabalharam na confecção deste manual diagnóstico -, assim que de epistemólogos. Os primeiros denunciam as condições e os objetivos em torno dos quais giravam os estudos científicos e a redação do documento, enquanto que os segundos expõem os fundamentos filosóficos subjacentes. Esta pesquisa desvela tanto a lógica oculta dos trâmites do DSM quanto as fontes de sua crise. A partir da leitura dos trabalhos de Allen Frances, que se formou psicanalista no Instituto de Colúmbia, Éric Laurent pinça igualmente  um sintoma contemporâneo: «À medida em que nosso mundo se globaliza e se homogeiniza, também diminui nossa tolerância com relação à excentricidade ou a diferença, que temos tendência a subitamente medicalizar». Esta intolerância pode tomar outras formas, como o racismo (1).

Depois vocês poderão ler o fruto das reflexões de Carlos Motta, Psicanalista da EOL e membro de Latigo, sobre um filme documentário de Louis Malle, citado por Lacan nestes termos: «Sejamos grosseiros, sejamos sumários e coloquemos em algum lugar em um ponto aquilo que eu chamei o real...
Eu ainda não fui vê-lo, mas há, me parece, um filme de Louis Malle sobre Calcutá. Vemos uma quantidade enorme de pessoas que morrem de fome. É isso o real. Ali onde as pessoas morrem de fome, eles morrem de fome. Nada falta. Começamos a falar de falta por que? Porque eles fizeram parte de um império. Sem as necessidades deste império, não haveria nem mesmo Calcutá, não teria existido aglomeração nesse lugar. Eu não sou suficientemente historiador para sabê-lo, mas eu admito já que o dizem.»(2) O diretor, filmando os pedaços de real de Calcutá, «acerta em cheio», como o diz Lacan, no Nouvel Observateur de 29 de março de 1976, a propósito do Músico assassino de Benoît Jacquot. Com efeito, quando vamos à India, somos imediatamente capturados pelo impacto de certas situações: pessoas que, não somente vivem na rua, mas que se fazem arrancar os dentes, crianças mutiladas intencionalmente para obter uma caridade, deficientes de todos os tipos que percorrem as ruas, famintos, a procura de algumas rupias, constituindo verdadeiras encarnações da «miséria humana».

A diligência de Louis Malle está assim mais próxima do real e, neste sentido, ela se liga ao «real no século XXI», tema do próximo Congresso da AMP. Ela nos lembra, como o diz Carlos Motta, que no real, é preciso ai se fazer, suportá-lo e nós poderíamos acrescentar, se habituar, como o diz Lacan (3). Mas com a condição de não confundir a realidade da miséria na Índia com o real, pois aquele ao qual é preciso se habituar é aquele cujo sintoma é uma manifestação. Carlos Motta postula que o simbólico pode circunscrever o triunfo do imaginário. Como psicanalistas, estamos concernidos pelas manifestações dos pedaços de real, indo da fome no mundo à privação da liberdade.

Assim vocês encontrarão, para terminar, a entrevista realizada por
Raquel Cors e Heidi Gehler, membros de Latigo, com Samuel Doria Medina, homem político e empresário boliviano, sequestrado pelo movimento Tupac Katari de Libertação (MRTKL) durante um mês e meio em 1995. S. D. Medina fala de um assunto tabu: a negociação com os sequestradores e a forma de servir desta atitude para desencorajar a tomada de reféns. Seu testemunho presta contas também de um ponto preciso : aceitar a morte, logo após sua remoção, lhe permitiu restabelecer a conexão com «a articulação mais íntima do sentimento da vida»(4).

Cabe a vocês, leitores de Latigazo, descobrirem este número apaixonante que aparece para celebrar o primeiro aniversário de Latigo!
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(1) On trouvera une analyse du phénomène du racisme, et son enracinement dans  la civilisation chez Lacan, dans Lacan Quotidien n° 371 : « Racisme 2.0 » par Éric Laurent.
(2) Lacan, J., le Séminaire livre XVI, D'un Autre à l'autre, Paris, Seuil, p. 299
(3) Lacan, J., Le Triomphe de la religion, Paris, Seuil, 2005, coll. Champ Freudien, dirigée par Jacques-Alain Miller,  p. 93.
(4) Lacan, J., Ecrits, Paris, Seuil, 1966, p. 558.

Responsáveis : Raquel Cors Ulloa & Dalila Arpin
Lacan Cotidiano
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Tradução: Alessandra Thomaz Rocha



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