IX Jornada
O que sabe o psicanalista?
João Pessoa, 05 e 06 de novembro de 2010
Convidado: Ricardo Seldes
Membro da Associação Mundial de Psicanálise
Analista Membro da Escuela de Orientación Lacaniana (EOL) – Buenos Aires
Seminário: O sintoma e o delírio generalizado
Romildo do Rêgo Barros
Analista Membro da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP)
O saber do analista tem nos permitido abordá-lo de diversos ângulos. Em nossos encontros preparatórios, temos explorado o tema das paixões em Lacan e nos esforçado em articular o que o trabalho com as paixões do ser ou da alma - como nos ensina Lacan - pode nos acrescentar sobre o saber do psicanalista. Nesse número do boletim, Margarida Assad nos apresenta suas impressões a partir das leituras realizadas.
Prosseguindo com nossa enquete, dessa vez Elisa Alvarenga (MG), Liége Uchoa (RN), Fernanda Leal (PB), Sandra Conrado (PB) eElisabete Siqueira (PE), trazem suas contribuições ao nosso debate.
Enquete
“O que sabe o psicanalista?”
“O que sabe o psicanalista? Sabe, a partir de sua análise, sobre o incurável do sintoma e o que é possível fazer com ele. Sabe que nenhum saber recobre o real e portanto, há que lidar com as contingências. Sabe fazer uso dos semblantes, na vida e na direção do tratamento de seus analisantes. Sabe, enfim, não saber, para que a singularidade do sinthoma de cada um possa advir”.
Elisa Alvarenga – AME / AE (novembro de 2000)
"O analista é aquele que precisa saber que o saber que conta é sempre o do analisando. O seu trabalho é permitir que um novo arranjo sinthomático seja possível e que as marcas ´(Letras) que a vida deixa em cada sujeito possam, através da análise, estruturar novos textos".
Paixão e Corpo
Intitularia o resultado de nossas leituras e discussões sobre o tema das paixões em Lacan, por Paixão e Corpo. Dizer: paixões do serou paixões da alma, como observamos no percurso da transmissão lacaniana, não nos permite especificar a relação entre paixão e corpo.
Vou partir de uma questão que me pareceu central colocada por Lacan em Televisão[1]: “Um afeto, isso concerne ao corpo?” Pergunta singela, que para mim toca uma questão nevrálgica: qual a natureza dos afetos? Lacan afirma que o que o afeto descarrega é pensamento, mesmo que ele perturbe as funções do corpo. Assim estar afetado de algo é estar marcado por uma idéia, um pensamento. Marcus André ao abordar as paixões nos aponta a passagem de Freud a Lacan em relação ao afeto. Cito: “ Ao deslocar o debate de ‘representação e energia’ para ‘pensamento e ação’[2]...Esse deslocamento apontado por Marcus André situa a paixão no âmbito da ética, um afeto que não dispensa a idéia, o pensamento. Nele se situam o significante e o gozo.
Se pensamos na personagem de Marguerite Duras: Lol V Stein, a quem Laurent[3] se refere em sua conferência sobre as paixões do ser, veremos que o que ela busca em sua amiga para quem se coloca como voyeur, é um corpo para si. Ela está afetada pelo corpo, não o seu, pois ela não o tem, e precisa de um, daí sua paixão ser encarnada pelo corpo de uma outra.
Será que esse pequeno fragmento da invenção de Duras nos permite chegar ao que há de saber na paixão? Será que Lol, com seu sintoma – inventado por Duras, não clínico - ao se colocar a olhar a relação sexual de sua amiga com seu amante ela quer saber de algo?
A pista que me dou como resposta vem da paixão da ignorância. Cito Lacan: reconhecer em seu saber o sintoma de sua ignorância.[4]A ignorância é certamente algo que afeta o corpo enquanto sintoma, sendo aquilo de onde provém o saber. Um saber impossível, só passível de ser dito quando se está causado por um outro saber, o do analista. Lol ignora seu corpo sexuado, mas é dessa paixão que emerge na carência de um corpo, (‘verdadeiro dano epistêmico’)[5], o que a faz buscar olhar loucamente sua amiga com seu amante.
[1] Vieira, M.A . O Real da Paixão – disponível em Biblioteca virtual EBP
[1] Laurent, E. As Paixões do Ser. Bahia. Escola Brasileira de Psicanálise. Seminário II
[1] Lacan, J. Variantes do Tratamento Padrão. Escritos. RJ. Jorge Zahar Ed.
[1] Vivas, H. Cid, La Curiosidad Infantil. Biblioteca do Passe AMP
[1] Id. Pasión de la ignorancia, . Biblioteca do Passe AMP
Bibliografia recomendada para a Jornada
Ricardo Seldes. Saber, Scilicet Semblantes e Sinthoma
Jacques Lacan. Variantes do tipo padrão, Escritos
Jacques Lacan. Resumo do Ato Analítico
Jacques Lacan. O engano do sujeito suposto saber´, em Outros Escritos
Jacques-Alain Miller. ´O desbaste da formação analítica´, Opção 52
Jacques-Alain Miller.Como alguém se torna psicanalista na orla do século XXI
Jacques-Alain Miller.´O passe e as Escolas´
Jacques-Alain Miller. Coisas de Finura
Jacques-Alain Miller, De la naturaleza de los semblantes (lição VI)
IX JORNADA DA DPB – O que sabe o psicanalista?
Coordenação Geral: Cleide Pereira Monteiro
Comissão Científica: Cassandra Dias (coordenadora), Mª Cristina Maia e Margarida Assad
INFORMAÇÕES: delegacaoparaiba@yahoo.com.br
Fone: 83. 3226.3671
[1] Lacan, J. Televisão. RJ. Jorge Zahar Ed. P. 41
[2] Vieira, M.A . O Real da Paixão,
[3] Laurent, E. As Paixões do Ser. Bahia. Escola Brasileira de Psiacanálise. Conferência II
[4] Lacan, J. Variantes do Tratamento Padrão. Escritos. RJ. Jorge Zahar Ed.
[5] Vivas, H. Cid, em um texto: La Curiosidad Infantil. On line
[6] Id. Pasión de la ignorancia,
Nenhum comentário:
Postar um comentário