4 de dezembro de 2017

¡¡¡Novedad!!! OPÇÃO LACANIANA on line #24, por Ondina Machado




A Escola se faz presente em ato: quem dá ideias é convocado a fazer. Pois é, caí nessa e estou aqui inaugurando minha participação em Opção Lacaniana online. Nesse número temos a importante contribuição de Jacques-Alain Miller sobre a relação entre saber e ensino. Ele parte desta consideração: se o saber é o do inconsciente, como poderia ser ensinado? Vai mais longe ao situar como estúpida a tentativa, na empreitada educacional, de separar saber e gozo, fazendo-nos deduzir daí os fracassos escolares comuns nos dias atuais. Ao colocar o saber ao lado do gozo, Miller lembra que há em Lacan um rigor clínico que não aceita a simples dicotomia entre ciência e retórica, elas formariam uma espécie de placa tectônica em cuja falha se situaria a psicanálise

A meu ver, Angelina Harari responde a isso ao comentar e apresentar um editorial de Judith Miller sobre a "Proposição" de 67 de Lacan. A autora articula a "Proposição" ao recente texto de Miller "Campo freudiano ano zero", demonstrando que em ambos a lógica do passe resiste. Assim, na esteira da ousada concepção de Freud sobre a formação do analista, em A questão da análise leiga, o passe proposto por Lacan é mais do que um dispositivo institucional, apresenta-se como um instrumento clínico no lugar em que o saber científico e a retórica se chocam, no justo lugar onde um analista é consequência do ato analítico.

Assim o faz Éric Laurent numa sofisticada análise da "estranha montagem" feita por James Joyce que serviu a Lacan para pensar como uma psicose pode fazer uso do pai, em uma obra literária, para manejar com o gozo opaco. Com esta hipótese, o autor desafia o analista pós-joyceano a ir além dos finais de análise medíocres.

Nada mais oportuno que tomar as psicoses sob a luz da clínica aplicando-lhe o rigor proposto por Lacan. É o que nossos colegas autores se propõem neste número, motivados pelo tema do próximo Congresso da AMP em Barcelona – As psicose ordinárias e as outras sob transferência. Partindo dos pontos que lhe interessam, eles examinam postulados anteriormente consagrados às psicoses extraordinárias questionando seu modo de incidência nas psicoses ordinárias. Esta expressão de Jacques-Alain Miller esclarece os casos de 'não neuróticos' nos quais sinais discretos exigem um novo manejo da transferência, de modo a extrair das sombras pequenos desencadeamentos, arranjos no modo de ter um corpo ou mesmo um elemento compensatório que, por ser instável, poderá ou não se performar em uma psicose. A psicose ordinária não se deixa apreender por fenômenos exuberantes, mas antes, por sinais captados nas bordas entre simbólico e imaginário, ou, como Lacan dizia, em fenômenos de franja que precisam que o analista os destaque e agrupe para que a psicose seja detectada. De tão discretos, seus sinais podem ser entendidos de maneira conceitual diversa, como veremos nos textos a seguir, porém neles percebemos a fecundidade clínica dessa noção.

Ondina Machado



[1] Harari, A. Em: Boletim do Conselho da EBP, Um por Um, n.329.
[2]Idem.
[3]Miller, J.-A. “Campo freudiano, ano zero”. Disponível em: http://ampblog2006.blogspot.com.br/2017/06/champ-freudien-annee-zero-campo.html
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