Artigo II
Lacan Cotidiano
Agência lacaniana de imprensa
Algumas reações ao número do Point
Na data de 18 de agosto
Tenho o Point desta manhã nas mãos: Isso impressiona de verdade. A foto de Lacan é uma das que prefiro: é preciso dizer que, quando eu o encontrei em 79, ele era exatamente assim.
A questão é, verdadeiramente, a introdução ao dossiê. O tom de Schneider está deslocado e o fundo está essencialmente bobo. Esta posição de não-tolos que se crêem obrigados a utilizar alguns quando falam ou de Lacan ou de Freud (protesto viril?) faz emergir uma hostilidade de que podemos duvidar que ela se limita a esse campo.
Um dia de 1980, quando ia de ônibus pelo Boulevard St Germain para uma sessão com Lacan, encontrei um professor de neurocirurgia o Prof. Pouyanne, com quem eu tinha feito meu primeiro estágio de medicina alguns anos antes. Ele me perguntou a razão de minha presença, eu lhe dei e ele me respondeu: "Cuide-se bem”. Eu lhe prometi isso rindo. Minha análise era já um jeito de me cuidar, da boa maneira.
Não havia nenhuma maldade nesse médico humanista, rigoroso, que não ignorava os poderes da palavra e do inconsciente. Ele era, em seu serviço, confrontado com sintomas que o colocavam numa boa posição para fazê-lo. Nada disso com M Schneider, mas um estilo voluntariamente equívoco que frisa a difamação de Lacan e daqueles que ele formou (um louco que tem por objeto deixá-los loucos). Começar desse modo um dossiê de imprensa que é também comemorativo não é defensável: é preciso que a imprensa pare de pensar que é desejável.
As páginas de Lacan e as suas sobrepassam com elegância tudo isso. Isso permanece absolutamente formidável.
Carole.
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Caro JA,
Suas citações cuidadosamente escolhidas de Lacan, sua entrevista sobre as profecias de Lacan: for-mi-dável! O senhor diz em poucas palavras o que se pode dizer, e que ninguém diz, senão “por” Lacan. Entusiasmo!
Eu lhe digo, ainda mais, que acabando de chegar ontem à noite em Denver (Colorado), eu me precipitei a baixar o Point no Zinio, excelente site que permite baixar tudo o que o se quer da imprensa mundial no dia de sua publicação. E eu li Le Point aqui antes que ele estivesse nas bancas na França. Isso me diverte! Eu o coloquei no Twitter e no Facebook depois, para todo mundo.
Parto essa manhã de Wyoming. Mas wifi está em toda parte. É, certamente, também do Um, removendo-se de maneira mais “visível” nos grandes espaços americanos, mas não é difícil para mim repará-lo, e há muito tempo. Obrigada mais uma vez. Nos veremos em Mollat no dia 10/09.
(pego por Zaloszyc e Castanet).
Jean-Pierre
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Desde o começo da apresentação no Le Point do excerto do Seminário do Dr. Lacan, Ou Pior eis me dividido entre o riso e as lágrimas – não, dividida entre o riso e ... o riso. E até ao fim!
Tantas enormidades que pretendem introduzir os termos de um balanço “equilibrado” sobre o aporte de Lacan. Muito desequilibrado com certeza. Pois mesmo a única frase que parece mais amena: «Quaisquer fulgurantes luzes misturadas a tantas preciosidades obscuras”, que a lemos atentivamente e se vê que ela faz pender a balança pro lado ruim! É um enterro de primeira classe. Está aí desde o começo mesmo. O tom é dado, torcendo o título de Liberação, e não por se contorcer de rir, o que, entretanto, teria merecido esse título, apesar do anúncio da morte de Lacan. «Todo louco Lacan», bem, isso quer dizer que ele era louco? E, aliás, por que esse desprezo pela loucura? Talvez isso produza coisas belas, novas, inventivas, vivas, fora do sentido comum. Certamente, Lacan não era banal, longe disso. Não no discurso corrente, longe disso. Não na meia-tinta, longe disso. Talvez difícil de ler, sim, frequentemente aliás. Genial, mas sim. Libé, com seu gosto pelos jogos de palavras, rendia uma bela homenagem à Lacan que, talvez, o teria feito sorrir. “Todo louco Lacan” (Tout fou Lacan), “Saia daqui” (Tu fous le camp), “Tout fou le camp”...)* Jogo de palavras com a expressão: ‘Foutre le camp’ que quer dizer “dá o fora, some”! NT
Sim, Lacan amava jogar com as palavras, para capturar a verdade escondida nos dizeres. Sim, temos verdadeiramente necessidade disso em nossas curas. Necessita-se disso, e não de superinterpretações como essa feita desse título. Todo louco, era bem visto: Lacan estava cheio de ardor e de entusiasmo. E sim, isso suscitava o amor, o amor ao saber. E isso continua. Não “Perinde ac cadaver”, porque é muito na vida. Nenhum fantasma. O amor é cego, diz-se. Todos os alunos cegos? Loucos? Por que não. Mas não é louco quem quer... o amor, justamente, Lacan esclareceu a cegueira dele, imagine . Então ler a transformação feita da formulação “Não há relação sexual” em “a sexualidade não relaciona nada”, é muito bobo, se não fosse patético, pelo que isso supõe de desconhecimento do Lacan lógico e clínico.
Se a primeira proposição é verdadeira, mas supõe captar o que aqui relação quer dizer, a segunda é falsa, pois a sexualidade, isso pode relacionar. Isso, isso pode acontecer.
Esses emails, me foram endereçados por três colegas e amigos psicanalistas e psiquiatras, membros da Escola da Causa Freudiana, os Drs. Carole Dewambrechies-La Sagna, Jean-Pierre Klotz, e Catherine Lazarus- Matet. Os dois primeiros são de Bordeaux, a terceira, de Paris. Carole está de férias em Arcachon e Catherine em Belle-Île. JP viaja pelo Middle West.
De minha parte, chegado quarta-feira em Portes-en-Ré para passar três semanas de férias, interrompi a escrita de “Vida de Lacan” para trabalhar duro em minha resposta ao artigo do Sr. Schneider publicado no Le Point desta quinta. Começado ontem de bom humor, o texto, escapando a seu autor, está tomando proporções consideráveis. O preâmbulo metodológico atinge já 10000 signos, enquanto que o que o suscitou não ultrapassa os 3000. O texto deveria entrar hoje no vivo do tema, e poderia se concluir domingo de manhã. O mau tempo, a calma, o ar puro e vivo, o farniente, favorecem a concentração intelectual.
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NB
Sra. Camille Auzeby, do serviço de imprensa do Seuil, me informou de que os excertos de Lacan foram escolhidos pelo Sr. Michel Schneider.
Tradução: Ruskaya Maia
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