30 de junho de 2014

Autismo hoje e psicanálise lacaniana - O autismo do gozo, por Esthela Solano-Suarez


A partir do último e do ultimíssimo ensino de Lacan, Esthela Solano retoma o termo “autismo do gozo”, conforme isolado por Miller, para abordar como a operação analítica incide no gozo como um corte que visa à disjunção da articulação significante mínima (S1-S2), reduzindo o Um do significante à materialidade da letra. 

O autismo do gozo
Esthela Solano-Suarez 

O autismo do gozo é um termo isolado por Jacques-Alain Miller. É produto de uma extração praticada no último e no ultimíssimo ensinos de Lacan.

Este termo qualifica o modo de funcionamento do gozo do sintoma naquilo que ele é irredutível ao Outro da linguagem, ao Outro do sentido. Isto mostra que o gozo do sintoma é solipsista e opaco, uma vez que ele exclui o sentido.

O autismo do gozo traduz o conceito de sinthoma elaborado por Lacan à semelhança de Joyce, o ilegível.

Somente o discurso do analista torna este conceito concebível e operatório. Ele serve para dar conta do que, na experiência de uma análise, permitiria cernir e estreitar, quando ela está orientada pelo real fora do sentido. Esta visada não deixa ilesa a questão pertinente à natureza da operação do analista.

Esta questão fundamental levará Lacan a conceber a operação analítica como um corte visando a disjunção da articulação significante mínima: S1-S2, produtora de sentido, a fim de isolar o Significante Um sozinho, que pode ser qualquer significante, mas tomado como Um, fora de sentido. Seria o caso de cernir o Um do significante em seu efeito primeiro de gozo. Este rastreamento se mostra na distinção introduzida por Lacan entre a lalíngua - caracterizando a materialidade sonora do significante, disjunta do significado e afetando o corpo do falasser – da linguagem, que acaba por ser uma elucubração de saber sobre lalíngua. Este corte produz  ainda um outro que diz que o gozo do Um de lalíngua não é um ser de linguagem ou mesmo uma ficção, mas que ele ex-siste à linguagem escavando o vazio que será povoado por ficções: sonhos e, particularmente, fantasmas.

E o Um do significante, reduzido à materialidade da letra, que afeta o corpo. O encontro contigente das palavras com o corpo deixará um traço ou mesmo uma marca de gozo, a qual comporta também um efeito de buraco. De onde o troumatisme. O sintoma o testemunha enquanto acontecimento de corpo. O corpo que Se goza de um gozo real e opaco, ex-siste ao Um corpo que se isola em sua consistência imaginária, enquanto forma que comanda o principio de sua adoração. Seria, antes de mais nada, substância gozante que falasser sozinha, sem saber o que diz.

Se o gozo é do Um, então o gozo do Outro não ex-siste. Isto implicaria que o gozo de um corpo Outro fosse excluído realmente. Esta radicalidade se acomoda, no sentido lógico, na categoria do impossível: o que não cessa de não se escrever, é a relação sexual. Por outro lado, o que não pára de se escrever é o gozo do Um, e não do dois.

O gozo do sinthoma é o gozo que há, por falta do que não há. E é este gozo isolado enquanto tal, no curso de uma análise, em seu caráter de  gozo irremediável, autístico e irredutível, que comanda os nossos reencontros  amorosos, assim como os nossos fracassos, a nossa alegria e também a impotência de nosso pensamento; é com o que resta que se trata, no final das contas, de conseguir saber e fazer com.  Nós faremos a constatação, em suma, nós saberemos, que o que resta opaco testemunha a nossa maneira singular de responder ao enigma da vida. 

Tradução Rachel Amin
Revisão Bartyra Ribeiro de Castro.

29 de junho de 2014

Geni somos todos nós – Entrevista de Jorge Forbes para a revista VEJA*

Os preparativos para a Copa do Mundo trouxeram à tona um modo bem brasileiro de lidar com os próprios problemas: atribuí-los a terceiros. Jorge Forbes, em longa entrevista – três encontros em seu consultório – conversou com a reportagem de VEJA sobre as transformações do papel de governantes, da polícia e até dos sentimentos num mundo globalizado em que ainda nos debatemos para tentar compreender (*)

Geni somos todos nós – Entrevista de Jorge Forbes para a revista VEJA*
 
Há uma sucessão de greves e protestos em várias cidades brasileiras. Ao mesmo tempo, crimes bárbaros tornaram-se mais frequentes. O que está havendo?* 

O sistema inteiro está doente, berrando e produzindo excrescências. Sejam os casos horrorosos de linchamento ou greves feitas ao deus-dará, em que há o minigrupo, o subgrupo, o contra grupo, sem nenhum tipo de legitimidade dentro das normas estabelecidas pela sociedade civil e que param cidades na maior tranquilidade. Nossa vida virou um bingo. Saímos de manhã e não sabemos se seremos escolhidos. Estamos num momento em que as pessoas estão indiferentes. Quando uma pessoa quer roubar um celular e para isso decide matar sua vítima, não mata por raiva, mas por indiferença. Não há mais uma competição entre o bandido e o não bandido, não existe mais essa divisão. O que existem são mundos que não se tocam, mundos à parte, mundos que o futebol não une mais. Nem o apelo da Copa do Mundo está funcionando. Sob a ditadura, o povo brasileiro uniu-se em torno do futebol, mas agora, sob um governo democrático, não se une. 

Estamos em crise? 

Sem dúvida. Sigmund Freud [1856-1939] dizia que um analista não deve atender pessoas em crise, porque na crise não é possível analisar ninguém, mas apenas remediar, no sentido de tapar buracos. Só que quando todos os dias surgem novos fatores de crise, há a premência de uma resposta imediata. Não será possível evitar medidas do tipo tapa-buracos, mas o governo tem de adequar-se e ser muito mais rápido, flexível e enérgico nas suas intervenções. Os líderes brasileiros hoje são todos de um tempo ultrapassado. Lideranças atuais devem tocar na vergonha de cada um, não no orgulho. Na vergonha de dizer “eu sou brasileiro e este outro brasileiro linchou esta mulher”, para lembrar o recente caso do linchamento daquela moça no Guarujá, entre tantos outros crimes horrendos que ocorrem. Hoje, o líder tem de fazer com que cada um se engate nas suas escolhas, e não que todos escolham a mesma coisa. Falta uma liderança capaz de tocar na vergonha de cada um, e não no orgulho. Se não nos envergonharmos, continuaremos dizendo “não sou eu, é o outro”. Comumente afirmamos que aquele brasileiro que faz coisas horrorosas, que estoura prazo, que não é simpático é o outro, e nunca nós mesmos. Temos de, por exemplo, parar com essa brincadeira de dizer “Imagine na Copa”. Imagine quem? O brasileiro continua numa posição externa ao seu próprio país e à sua gente. É uma separação irresponsável. Temos de lançar o movimento do “Eu sim”. Senão vai haver um seccionamento cada vez maior da sociedade e daqui a pouco seremos 200 milhões de grupos do eu sozinho. Por que essa coisa do Brasil Geni? O brasileiro faz do país sua Geni e com isso fica sem cidadania. Geni somos todos nós. 

Nesse cenário, que papel cabe aos governantes? 

Os países costumavam ser liderados por grandes homens, De Gaulle, Churchill, Getúlio Vargas. Eram grandes personagens, que concentravam neles a representação do país. Quando Charles de Gaulle morreu, ficou célebre a frase “A França ficou viúva”. Diga-me se hoje a França poderia ficar viúva do François Hollande. Se amanhã Barack Obama morrer, não será possível dizer que a América ficou viúva - mas com Keneddy era possível. Hoje, pode até haver a pessoa, mas não há o trono para ela ocupar. Então acho que os líderes atuais deveriam primeiro parar de consultar o marqueteiro que os elegeu, mas que não os mantêm no poder. O marketing da eleição é uma esperança, o do governo é uma presença. Uma coisa é esperar a viagem e a outra é estar na viagem. Ninguém viaja pensando na próxima viagem. Precisamos de um governo já, estamos sem governo. É preciso mudar. Não estou dizendo depor, estou dizendo mudar. O governo de um país moderno não governa um país que é pós-moderno. 

Quem o senhor apontaria como exemplo de liderança? 

Vou citar alguém que não vejo como um modelo propriamente, mas como um novo tipo de líder, que é o presidente do Uruguai José Mujica. Sua postura leva cada cidadão a se perguntar sobre qual sua cota de responsabilidade no laço social. Independentemente da minha apreciação ou não da sua política, é uma nova forma de liderança. 

E qual a função da polícia nesse contexto de crise? 

A população espera da polícia algo que ela não pode dar. Pedimos a proteção policial e, quando ela entra em cena, é criticada pela forma como nos protege. Nem nossos pais conseguiram nos proteger completamente, por que a polícia conseguiria? Se insistirmos nas coisas como estão, a população vai continuar sendo infantilizada, e a polícia massacrada. A proteção do homem não pode ser feita externamente. Essa obrigação tem que ser dada a cada um. O Bope e a Rota [polícias de elite do Rio e de São Paulo, respectivamente] reiteram a figura arcaica do pai protetor, aquele que vai resolver no meu lugar. Não vai. Não há contingente policial que vá dá conta da barbárie atual. 

Há uma sensação de complexidade crescente. Como a psicanálise explica isso? 

Cunhei um termo para explicar isso, que é o homem desbussolado, ou seja, sem norte. Vivemos a pós-modernidade, que é muito diferente da modernidade. Antes havia uma sociedade piramidal. Na família, as pessoas se orientavam pelo pai. Nas empresas, pelo chefe. Na sociedade civil, pela pátria. Esses três elementos foram deslocados na passagem dessas duas eras, que é marcada pela globalização. O pai não representa mais o caminho disciplinar a ser seguido. Nas empresas, há líderes de projeto que se alternam conforme a tarefa. Na sociedade civil, os mercados comuns sacudiram a noção de pátria. Saímos do vertical e entramos num mundo horizontal, em rede. Isso está acontecendo no mundo todo. O curioso é que, entre os povos ocidentais, quem melhor tem suportado essa transição é o brasileiro. 

Por quê? 

Sérgio Buarque de Holanda já dizia que a raiz do Brasil é a cordialidade. Nós damos crédito à amizade, por exemplo. Até para brigar. No Brasil, você só briga com os seus amigos, senão fica indiferente. E o grande afeto do mundo horizontal é a amizade. Nós não tememos a exposição nas redes sociais, não achamos que porque alguém sabe quem são meus pais eu vou ter minha intimidade invadida e me sentir péssimo. O brasileiro não se sente péssimo, ele acha graça. Sabe que mesmo que o outro saiba tudo isso sobre ele, na verdade não sabe nada dele. Ele pode se deixar viver a pós-modernidade mais facilmente. 

Como fica a cordialidade quando há tantos crimes horrendos ocorrendo no país? 

Ser cordial não é ser bonzinho. É não ser formal. Pense no uso que fazemos dos diminutivos: “Se eu me atrasar um pouquinho, você vai tomando um chopinho e comendo alguma coisinha ou então você me dá uma ligadinha” (risos). É a maneira de fazer tudo mais acessível, menor, próximo, uma vida que caiba na palma da mão. O que eu quero extrair dessa cordialidade não é a marcação que se faz de que somos legais, e sim dizer que este é o cimento do laço social brasileiro. Até mesmo a facção criminosa PCC é cordial. É uma fratria. Experimente trair os princípios dessa fratria. 

Quanto aos crimes, são ações de pessoas doentes? 

Esses fatos todos mostram que o ser humano é muito perigoso. Somos muito esquisitos e muito perigosos a nós mesmos. Não há mais explicações de causa e efeito. Mas já devíamos saber disso, afinal o filósofo Friedrich Nietzsche [1844-1900] explicou isso em 1870. Freud acompanhou esse pensamento, mas em dado momento pôs o pé no freio. O psicanalista Jacques Lacan [1901-1981] acelerou-o, dizendo que o real teria uma posição de supremacia sobre o simbólico imaginário. Bom, estamos nesse momento. E o real não é exatamente a realidade, mas aquilo que não tem nome nem nunca terá. O futuro não é uma projeção do presente, como foi para as gerações anteriores, o futuro é uma invenção do presente. Houve uma flexibilização da disciplina de modo geral e ainda não há uma resposta àquilo que foi desmontado. Só que, motivados pela angústia de não saber o que fazer, utilizamos respostas que não servem mais. E o problema continua e estoura de maneiras assustadoras: meninas que cortam os braços, pais que matam os filhos, filhos que matam os pais, sempre nessa característica de curto-circuito, como se fossem atos cometidos durante ataques epiléticos. Nesse sentido, todo mundo precisa saber que é epilético. Em vez de dizer “você é e eu não sou”, saiba que você também é e todos nós somos. E, portanto, todos deveriam se precaver porque também são capazes de fazer. As ameaças têm de ser tratadas de maneira mais séria. Se em vez de tentarmos descobrir qual a doença que levou fulano a fazer tal coisa pensarmos que não há uma doença que explique aquilo, as pessoas aumentarão sua responsabilidade frente a todas as coisas. 

Mas as pessoas parecem seguir o caminho oposto, de tentar desvencilhar-se cada vez mais das responsabilidades. 

Sim, das responsabilidades padronizadas, da norma e do código. Mas há um tipo de responsabilidade da qual ninguém escapa. Veja o amor, que passou por uma mudança muito grande. Antes, o amor era intermediado: estou com você porque prometi na igreja, ou prometi para o seu pai, ou por causa dos nossos filhos, enfim, sempre uma terceira razão. O que existe hoje é um amor direto: estou com você porque eu quero estar com você. Esse novo amor, não explicado, direto, é o principal elemento que vai legitimar um novo laço social que vai levar a modificações importantes tais como racismo. A nova geração é muito mais responsável nesse sentido do que as anteriores -embora as anteriores fossem muito mais responsáveis sob o ponto de vista do cumprimento das normas. A questão é que as pessoas precisam ter uma responsabilidade maior frente ao seu desejo. Na medida em que diminuímos a expectativa de explicar o amor, aumentamos a responsabilidade frente a esse sentimento. É um novo amor. A globalização chegou, criou uma bagunça monumental e estamos correndo atrás para tentar ocupar esse novo mundo. Isso significa rever todos os nossos critérios: de amor, de educação, de justiça. Não se trata de reformar o Judiciário, e sim de reinventá-lo. A psicanálise foi reinventada. 

Como assim? 

Antigamente, o paciente vinha se tratar para tentar saber mais de si, para ter uma ação mais garantida, fazer menos besteiras. Só que a subjetividade da pós-modernidade é diferente. Hoje, eu tenho de dar condições ao meu analisando para que ele tome decisões baseadas no não saber, e não na expectativa de saber mais. Vou mexer no botão da angústia e transformar a angústia paralisante em angústia criativa, como se transformasse o colesterol ruim em bom. Mas a angústia não deixa de existir.

O senhor diz que o mundo olha para o brasileiro como modelo de pós-modernidade. O que temos para mostrar? 

Todos estão apavorados, numa sensação de salve-se quem puder. Pais me procuram dizendo que não entendem seus filhos, pessoas de cinquenta anos sofrem revezes profissionais e não sabem mais o que fazer, casais querem ter filhos, mas não sabem quando nem como... E o brasileiro é alguém que historicamente sabe conviver com a variação de padrão. O tal do jeitinho significa que por meio da amizade é possível encontrar uma outra forma de fazer as coisas. Isso era malvisto até pouco tempo atrás, mas hoje tornou-se fundamental. Suponha que você trabalhe em uma empresa e fique sabendo de uma vaga. Há dez anos você diria: “Olha, conheço um cara incrível para essa vaga e estou falando isso não é porque ele é meu amigo”. Hoje você diz: “E além de tudo o cara é meu amigo”. A amizade virou uma chancela. 

Isso quer dizer que a meritocracia ficou em segundo plano? 

Não exatamente. O mérito é o óbvio, é genérico. A amizade é um algo a mais que só o afeto dá. Entre duas pessoas de nota oito, eu vou contratar o amigo do fulano. E o cara que contratou o seu amigo sabe que você será a primeira a falar caso ele pise na bola. Sabe aquela coisa “Vê se te manca, eu te trouxe nesta festa, não vá tomar porre”? Isso conta muito. 

As pessoas se vigiam umas às outras? 

Não, as pessoas não se vigiam, elas se necessitam. Vigiar é seguir um conjunto de normas do que é certo e do que é errado, algo de uma sociedade moralista. O que eu entendo é que temos necessidade uns dos outros porque o ser humano se inventa a partir do contato com o outro. “Eu necessito do outro para saber de mim”. Por exemplo, antes mesmo de nascermos, nossos pais já haviam formado uma imagem a nosso respeito. Quando crescemos um pouco, tornamo-nos escravos da expectativa do outro, que tem origem nessa expectativa de nossos pais. Será que fui bem? Será que deu certo? Será que estou legal? Você me ama? Cheguei na hora certa? Não estou incomodando? Você está bem? São infinitas formas que nós temos de saber se estamos correspondendo ao que foi esperado de nós. O problema é que a gente nunca corresponde, e não só porque não sabemos corresponder, mas também porque aquele que espera algo da gente também não sabe bem o que quer. No processo de análise, descobre-se que o outro de quem você ficou escravo tentando dar uma resposta não sabe de você. Isso significa que você não pode mais pedir desculpas e, portanto, tem de se responsabilizar pelos seus atos.
 
Isso deve ser libertador. 

Não é. Porque no dia em que você descobre isso, percebe que está sozinho. Quando a gente descobre que o outro não sabe nada a nosso respeito, não podemos mais pedir desculpas. Temos, portanto, de nos responsabilizar por nossos atos, não estamos mais em função do outro. Há um paradoxo que ilustra isso. Quando alguém que eu amo está longe, então não me falta nada, porque eu preencho o que falta com a fantasia. Por isso os homens se fascinam com o olhar feminino vago. Ele permite que exista um encontro com aquilo que lhes falta. Por outro lado, quando estamos junto de quem amamos é quando mais notamos esse algo que nos falta. E sempre irá faltar. É o que Roberto Carlos canta em Outra Vez: “Você é a saudade que eu gosto de ter”.
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(*) Entrevista – por Mariana Barros – publicada no site da Revista VEJA em 11/06/2014
Link para o site VEJA . 

From: http://ipla.com.br/editorias/acontece/geni-somos-todos-nos-entrevista-de-jorge-forbes-para-a-revista-veja.html

28 de junho de 2014

Seminario de la Escuela: "La formación del psicoanalista y su orientación por lo real" - Sábado, 4 de octubre de 2014



SEMINARIO DE LA ESCUELA 

"La formación del psicoanalista y su orientación por lo real"  

Simultáneo en las Comunidades y Sedes de la ELP-CF, sábado 4 de octubre de 2014 

PRESENTACIÓN
El tema propuesto para nuestro próximo Seminario de la Escuela, "La formación del psicoanalista y su orientación por lo real", nos confronta con la tensión existente entre formación y producción del analista. Retoma cuestiones candentes que ya hemos trabajado en ocasión, por ejemplo, de la celebración de la IX Conversación de la ELP en mayo de 2007 sobre el pase y la formación del analista, o más recientemente en septiembre de 2013 con la XII Conversación "Las paradojas de la Escuela: la garantía, el control y el pase", ambas en Madrid. Devuelve a la actualidad de la Escuela la radical lectura que realiza Lacan de la indicación freudiana, la necesidad de análisis personal para cualquiera que quiera formarse como analista, que podemos enunciar como que un análisis no tiene otro fin propio que la producción de un analista.


La tradicional triada convertida en doxa por el Instituto berlinés de la formación psicoanalítica, estudio de textos, supervisión de la práctica y el propio análisis, queda contrariada por el énfasis en la singularidad de la experiencia psicoanalítica misma ante cualquier intento de estandarización.  

La formación del analista y su producción no pueden ser consideradas equivalentes. Lacan pone en serie la formación del analista con las formaciones del inconsciente, ligándolas a un efecto de significación que viene del Otro. Como el objeto a, producto heterogéneo de la estructura inconsciente, la producción del analista viene a situarse como resto singular de esta operación, producto más que efecto, un real que ex-siste al Otro. La producción se orienta a una formación "con punto de fuga", comportando una mutación psíquica del sujeto, que ubica la extracción del objeto como causa y la caída de las identificaciones, y señala lo que resta de la operación simbólica en el intento de aprehender lo real de la experiencia analítica. Así Jacques-Alain Miller nos recuerda que no hay automatismo de la formación, pues la causalidad ahí en juego no es unívoca.

Aquí podemos situar el esfuerzo institucional de la Escuela de Lacan por definir el procedimiento del Pase, verificación de la producción del analista. La producción del analista relanza el efecto de formación por excelencia que permitirá deducir al sujeto analizado un nuevo encuentro con la causa, fundamento de un deseo inédito, que Lacan denomina deseo del analista. Deseo de obtener la diferencia absoluta, que remite a la singularidad del goce, a la solución sinthomática, excéntrica respecto a ideales sociales o morales colectivas.

Se trata, como hemos podido comprobar en las jornadas de trabajo del IX Congreso de la AMP en París, de lo real imposible abordable como un real, un abordaje que no se realiza por la vía del saber sino a partir de invenciones sobre un funcionamiento sinthomático. La política del sinthome conlleva importantes consecuencias para la formación del psicoanalista. El Real en juego genera formas diversas de no-saber que afectarán al analista, a la Escuela, y al futuro del psicoanálisis mismo. La formación permanente y la transferencia de trabajo a la Escuela son aquí herramientas privilegiadas. Podemos valorar desde estas coordenadas también la articulación entre Escuela e Instituto, tanto en la tarea de enseñanza con ese saber supuesto en el dispositivo analítico que aspira al mathema, como en el trayecto de las jóvenes generaciones hacia un trabajo de formación e implicación en la Escuela.

Será, por tanto, una excelente oportunidad para valorar todos los matices y articulaciones, en relación estrecha con la actualidad de la Escuela. 

Por el Consejo, Elvira Guilañá y Manuel Montalbán
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Ejes posibles:
-Formación y producción del analista
-Formación y control
-Transmisión y formación
-Producción y autorización
-Formación y deseo de Escuela: tensión Escuela concepto-institución
-Relación Escuela-Instituto en la formación del analista

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Distribución del Consejo en las Comunidades:   
Andalucía: Liana Velado y Patricia Tassara
Aragón: Toni Vicens
Castilla y León: Jesús Ambel y Carmen Conca
Catalunya: Manuel Montalbán y Joaquín Caretti
Galicia: Santiago Castellanos y Eugenio Díaz
Madrid: Iván Ruiz y Neus Carbonell
País Vasco: F. Martín Aduriz y Mónica Unterberger
Valencia: Anna Castell y Elvira Guilañá
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BIBLIOGRAFÍA BÁSICA:
-Lacan J. "Situación del psicoanálisis y formación del psicoanalista en 1956". En Escritos, RBA Biblioteca de Psicoanálisis, Barcelona, 2006.
-Lacan J., "El acto psicoanalítico", Reseñas de enseñanza, Ed. Manantial, Buenos Aires, 1988.
-Lacan, J., "La dirección de la cura y los principios de su poder". Escritos, 2. Siglo XXI: Buenos Aires, 1987.
El Psicoanálisis y su relación con la realidad - Otros escritos. Bs. As. Paidós. 2012
-Lacan J.
-Acto de Fundación
-Proposición del 9 de octubre de 1967 sobre el psicoanalista de la Escuela
-Discurso a la Escuela Freudiana de París
-El psicoanálisis y su relación con la realidad
-Exhorto a la Escuela
-Alocución sobre la enseñanza
-Nota italiana
-Quizás en Vincennes
 
En Otros Escritos, Paidós, Buenos Aires, 2012.
-Laurent, E., "Tres puntos acerca de la formación del analista", en: La Carpeta, Nº. 2 (Marzo de 2001), pág. 66-68.
-Laurent, E., "La formación del psicoanalista, consecuencias para la escuela", en: El caldero de la Escuela, Nº. 83 (Marzo-Abril de 2001), pág. 76-78.
-Laurent, E., "Principios rectores del acto analítico". En AMP Blog, 2006. Disponible en http://ampblog2006.blogspot.com.es/2006/09/principios-rectores-del-acto-analtico.html 
-Miller J-A. "El analista síntoma ". En El psicoanalista y sus síntomas. Ed. EOL-Paidós, Buenos Aires, 1998.
-Miller J-A., "Teoría de Torino acerca de la Escuela sujeto". El Psicoanálisis, 1, ELP, 2000.
-Miller J-A., "El desbroce de la formación analítica". El Psicoanálisis, 2-3, ELP, 2000.
-Miller J-A., "El banquete de los analistas". Paidós. Buenos Aires, 2000.
-Miller, J-A., "Para introducir el efecto-de-formación", Virtualia, 5, EOL, 2010. Disponible en http://www.revconsecuencias.com.ar/ediciones/005/template.asp?arts/alcances/Para-introducir-el-efecto-de-formacion.html

-Miller, J-A. y otros, "¿Cómo se forman los analistas?". Grama, Buenos Aires, 2012.

Otras referencias de interés disponibles:
-Alemán, J. "Una arqueología de la formación del analista". Virtualia, 5, mayo, 2002. Disponible en http://virtualia.eol.org.ar/005/default.asp?notas/jaleman-01.html

-D'Angelo, L., "El analista y el concepto de inconsciente". Documentos AMP, La Escuela Una. Disponible en http://wapol.org/es/acercaamp/Template.asp?Archivo=escuela_una/documentos/ocho_textos/dangelo.html

-Bassols, M. "Lo real del psicoanálisis". Virtualia, 25, noviembre de 2012. Disponible en http://virtualia.eol.org.ar/025/template.asp?Lo-real-en-la-ciencia-y-el-psicoanalisis/Lo-real-del-psicoanalisis.html

-Portillo, R., "Sobre la producción y la formación del analista". Documentos AMP, La Escuela Una. Disponible en http://wapol.org/es/acercaamp/Template.asp?Archivo=escuela_una/documentos/ocho_textos/portillo.html 


-Stevens, A., "Las tres dimensiones de la formación". Ornicar? Digital. Disponible en http://www.lacanian.net/Ornicar%20online/Archive%20OD/ornicar/articles/155ste.htm 

-Tarrab, M., "Sobre la formación analítica y la Escuela". Documentos AMP, La Escuela Una. Disponible en http://wapol.org/es/acercaamp/Template.asp?Archivo=escuela_una/documentos/ocho_textos/tarrab.html 

-Tizio, H. "La formación sinthomatica" . Texto presentado en el espacio "Trayectos de formación" de la Comunidad de Catalunya de la ELP. Barcelona, curso 2009. Disponible en http://wapol.org/es/articulos/TemplateImpresion.asp?intPublicacion=3&intEdicion=2&intIdiomaPublicacion=1&intArticulo=38&intIdiomaArticulo=1 

-Vicens, A. "De la resistencia al psicoanálisis a la división constitutiva de la Escuela. Lección política de un trozo de real". Blog NEL Medellín. Disponible en http://nel-medellin.org/blog/de-la-resistencia-al-psicoanalisis-la-division-constitutiva-de-la-escuela-leccion-politica-de-trozo-de-real/

26 de junho de 2014

LACAN COTIDIANO N. 406 - PORTUGUÊS


  Contribuição a uma lógica coletiva, por Éric Zuliani

                                                                                                                                               
A propósito de  Deux jours, une nuit (Dois dias, uma noite) dos irmãos Dardenne.

Poucas obras tocam os elementos da estrutura subjetiva que essa obra, justamente, anima em seus personagens em luta com situações diversas*. Reconhece-se isso graças a um índice: cada detalhe encontra sua razão de ser tal qual isso foi «querido»... pela estrutura, se o autor se deixa levar por ela suficientemente, da forma certa. O último filme dos irmãos Dardenne é um exemplo.

Um problema de lógica
Uma mulher de condição modesta voltando de uma licença médica por depressão, e se preparando para retomar seu posto de operária numa fábrica, toma conhecimento de que uma votação de seus colegas resultou em sua demissão. Seus colegas, na verdade, escolheram a gratificação, que se elevou a determinada soma, ao invés da manutenção do posto dessa mulher. Escrevendo esse curto resumo, percebo que esses elementos são como os dados primeiros de um problema de lógica: de lógica clássica, onde vai tratar-se, para ela, de recuperar um nome de ser, mas também de lógica coletiva que Lacan, em 1945, considerava como um complemento da primeira1. Nesse filme, há certamente algo raciniano, pelos momentos de escolha forçada que se apresentam, mas também algo muito mais moderno do qual Lacan traçou a perspectiva em sua doutrina absolutamente inédita que porta sobre o «coletivo».

Instante de ver
Uma mulher é encurralada ao mesmo tempo em que sua depressão ainda presente é o indício que ela, em algum lugar dela mesma, cedeu de seu desejo; um mulher, então,
suscetível de engrossar as fileiras dos «ejetados do Outro»2. Se o filme acabasse aí, teríamos apenas uma crônica social, que um céu cinza e uma arquitetura sombria tornariam mais verdadeira. O filme toma, no entanto, um outro caminho, sinal de que é menos questão de verdadeiro do que de real.

Um homem se mantém, de fato, ao seu lado: ele a ama, a apoia, a impele a lutar. Esse amor impede essa mulher de juntar-se ao coletivo dos ejetados; ela não pode mais juntar-se ao coletivo do trabalho ao qual pertencia: ela está num impasse lógico.

O tempo de compreender
Uma porta estreita se abre, então: dois dias e uma noite para convencer cada um que participou dessa votação. Dois dias e uma noite para dissolver o coletivo que foi maciço em seu voto, para devolver cada um à sua posição de sujeito. Que encarna então essa mulher durante esse lapso de tempo? Um objeto: precário e instável; um golpe agalma, um golpe palea. Tão precário que sua existência de sujeito é ameaçada pela tentação de empurrar mais longe a ejeção do Outro. Que indício nos faz dizer que essa mulher encarna um objeto? Sua «enunciação»: frases repetidas – sempre as mesmas - a cada encontro com aqueles que foram seus colegas : os elementos do problema lógico inicial se representam a cada vez, para cada um, por seu intermédio. 

Não é ela que fala, mas é sua presença como voz que age como objeto e que, em cada  um, produz não mais um efeito de massa, mas um efeito de sujeito. Isso fala, e o filme se torna, então, uma série de efeitos de sujeito.

O momento de concluir
A conclusão, sem deflorar o fim do filme, mantém-se em duas teses: primeiramente, o jogo foi trapaceado – ele sempre é quando se crê na existência do Outro ; em segundo lugar, se você reintegra o coletivo, deve aceitar sua lógica massificante e, portanto, segregativa: há os que estão nele e há os que estão... excluídos. Recusa da jovem mulher que escolhe, dessa vez, uma solidão assumida.

Últimos pontos: Não é indiferente que o título do filme tenha a ver com uma contagem, pois, nesse filme, trata-se de resolver o problema de contar – como se diz: para alguém -, e ao mesmo tempo de se contar; também não é indiferente que o herói dessa história seja uma mulher que encarna, em cada um de seus encontros, a inconsistência do Outro.


* Esse trabalho se inscreve num trabalho pessoal sobre textos relativos ao coletivo a à Escola : « La psychiatrie anglaise et la guerre », de Lacan (Autres écrits, Paris, Seuil, 2001) ; « La théorie de Turin sur le sujet de l'École» (La Cause freudienne n° 74, avril 2010) et Politique lacanienne de J.-A. Miller (Collection rue Huysmans) ; « Le réel et le groupe » d'Éric Laurent (Ornicar ? Digital, on line).
1 –Lacan J., « Le temps logique et l'assertion de certitude anticipée », Écrits, Paris, Seuil, 1966, p. 213
2 –Miller J.-A., Politique lacanienne, 1997-1998, Paris, Collection Rue Huysmans, 2001, p. 68.
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Maps to the stars, de David Cronenberg, por Thomas Kusmierzyk
 
O novo longa-metragem de David Cronenberg, apresentado numa competição oficial em Cannes, nos propõe uma virada no universo desregulado que é Hollywood. Se a imprensa, em sua maioria, percebeu o filme como um jogo de massacre dessa grande família do cinema americano, o diretor prefere interromper rapidamente esta interpretação: seu filme «não é uma sátira de Hollywood; uma sátira exagera, Maps to the stars diz a verdade»[1]. Sua obra se reconhece como mais do que uma simples encenação dos desvios da indústria do cinema. Hollywood deve ser captada aqui como uma família disfuncional onde cada um vive com suas obsessões e suas angústias.

Este filme é o drama de uma família. Todo mundo goza, cada um de seu lado, o que Cronenberg consegue mostrar brilhantemente numa cena em que coloca quase sistematicamente os personagens sozinhos no enquadre[2]. 

Sem parar, a câmera segue as errâncias e os pontos de colisão desses personagens trabalhados por atores no topo de sua arte – aliás, Julianne Moore ganhou o prêmio de melhor interpretação feminina em Cannes por sua interpretação. Ágatha chega a Hollywood. É uma jovem mulher que traz sobre a pele estigmas de uma tragédia passada. Graças à relação que ela iniciou, via Twitter, com Carrie Fisher[3], encontra Havana Segrand e se torna sua assistente. 

Esta última é uma atriz desesperada que aguarda o papel de sua vida, no caso aquele de sua mãe, uma estrela que conheceu um destino trágico. Quanto a Benjie, é uma criança estrela de 13 anos, que sai de um tratamento de desintoxicação. Sua mãe, sua agente, é totalmente devotada à carreira desse filho prodígio. O pai é um «psi de sucesso» que pratica uma terapia para os menos atléticos. Uma cena chocante mostra uma sessão durante a qual Havana, em roupas íntimas, alongada em uma esteira de praia, se «lembra» dos traumatismos incestuosos supostamente infligidos por sua mãe, enquanto seu terapeuta se apressa, distribuindo-lhe massagens e gritando ordens expressas para liberar sua paciente em lágrimas do mal que a corrói.

Os primeiros diálogos entre Benjie e sua mãe definem a cena. Trata-se de business, mais do que de uma relação familiar: é preciso dar aos produtores segurança de que Benjie está realmente sóbrio e que pode assegurar o melhor a seus contratos. A rotina da jovem estrela é perturbada por uma alucinação, a visão inquietante de uma fã morta que vem lhe falar à noite. Havana também está assombrada pelo espectro de sua mãe, ao mesmo tempo objeto mais odiado e mais idolatrado. 

Se Maps to the stars não é um filme de terror propriamente dito, certas cenas são aterrorizantes, menção especial para Havana - Julianne Moore, que descobre que obtém o papel tão esperado após a morte do jovem filho de sua rival. As alucinações não são fantasmas propriamente falando, são lembranças, esclarece Cronenberg[4].  A terapeuta de Benjie não se engana quando lhe diz, durante uma sessão, que recalcar demais certas coisas pode matá-lo.

Ágatha parece ser a exceção no filme. Se os outros estão desbussolados, perdidos em suas aspirações para ser alguém, ela traz em si uma verdade. Ela é o retorno do recalcado que vem como uma onda poderosa tragar essa família degenerada. Ágatha se orienta por um poema de Paul Éluard, Liberté [5] , do qual ela recita versos tais como mantras, a fim de não se perder de novo. A verdade que ela carrega, do casal parental, vai precipitar a combustão dos protagonistas. Ninguém será poupado, nem mesmo Ágatha que, se conseguiu se preservar da vaidade de Hollywood durante um tempo, será igualmente arrastada pelo turbilhão. 

Assim, Jerôme, o motorista de Limousine – aspirante a ator – recentemente desembarcado de seu Meio-Oeste, perde o que lhe resta de inocência ao ceder aos avanços de Havana, estrela sem viço. Então, as coisas se encadeiam até a cena final, certamente onírica e poética, mas definitivamente trágica.

David Cronenberg não quis fazer de seu filme uma análise [6]. Ele faz o que sempre fez: filmar e mostrar corpos. «Como diretor, se é forçosamente obcecado pelo corpo humano (...) passamos nossa vida a observar e a filmar os corpos e os rostos humanos. Para mim, a própria essência do ser humano, é o corpo. (...) No início da minha carreira, eu utilizei a ficção científica e o horror e em seguida passei ao melodrama e ao drama psicológico. Mas, no fundo, trata-se sempre de um único e mesmo domínio: o humano.»[7]

Hollywood pode desvelar sem pudor o que faz seus habitantes gozarem. O diretor evoca a angústia existencial destas atrizes que não recebem mais chamadas de telefone, o medo delas de desaparecer. Hoje, se você não estiver na Internet, se você não aparecer na tela, você não existe. O filme fala de armadilhas e da liberdade. O que é a liberdade e como é que a encontramos?[8]  Os personagens do filme fazem a descoberta cruel de que a celebridade não lhes dá a liberdade, mas que é mais uma armadilha e que quanto mais quiser brilhar, acaba-se por queimar. 
 

1 - Les Inrockuptibles n°963 du 14 mai 2014, p.48.
2 – « Entretien : David Cronenberg », propos recueillis par J. Reitzer. Disponible à l'adresse suivante : http://www.troiscouleurs.fr/2014/05/entretien-david-cronenberg/
3 - L'actrice, qui joue ici son propre rôle, est devenue culte pour avoir incarné la princesse Leia dans la saga Stars Wars.
4 – « Entretien: David Cronenberg », Ibid.
5 – Éluard P., Poésie et vérité, 1942
6 – Interview de David Cronenberg par Frédéric Mitterrand pour l'émission Jour de Fred du 15 mai 2014 sur France Inter. Le podcast est disponible sur iTunes.
7 – Interview de David Cronenberg (Maps to the stars), propos recueillis par Lucile Bellan, disponible à l'adresse suivante : http://www.artistikrezo.com/2014052016349/cinema/dossiers/interview-de-david-cronenberg-maps-to-the-stars.html
8 - Interview de David Cronenberg par Frédéric Mitterrand, Ibid.

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Cegueira fatal, por Estelle Bialek 
 

A propósito de Pas son genre [Não é de seu gênero] de Lucas Belvaux e de La chambre bleue [O quarto azul] de Mathieu Amalric. 

A angústia entre desejo e gozo antecipa o encontro amoroso porque prenuncia a última visão do destino-x deste encontro com o desejo dos protagonistas.

Dois filmes que estão nas telas neste momento ilustram a problemática. Trata-se de Pas son genre, de Lucas Belvaux, e La chambre Bleue, de Mathieu Amalric, baseado num romance de Simenon(1). Estes dois filmes levantam a questão desta última visão, na qual o sujeito deve acertar suas contas com a cegueira propriamente edipiana na qual seu destino se cumpriu. 

No Seminário A angústia, Lacan interroga: «Qual é o momento da angústia? Será ele a possibilidade do gesto pelo qual Édipo arranca seus olhos, sacrifica-o, os oferece como resgate pela cegueira em que se consumou seu destino? Será isso a angústia? Será ela a possibilidade que o homem tem de se mutilar?» E ele responde: «Não; trata-se propriamente do que me esforço por lhes apontar com essa imagem: é a visão impossível que os ameaça, a de seus próprios olhos no chão.»* 

Em Pas son genre, a última visão do acerto de contas amoroso entre uma cabeleireira e um professor de filosofia parisiense deslocado para o interior do país, está colocada desde o início. Inexoravelmente o destino se cumpriu de maneira cruel, apesar da clarividência da cabeleireira, cujo desejo parece mais advertido do que o do filósofo, que está mais inclinado a se cegar sobre as premissas de uma catástrofe anunciada. O mistério de La chambre bleue desenvolve esta resposta de cegueira anunciada do marido infiel, que se deixa seduzir por uma mulher que não era de seu gênero. Neste filme, a mulher, repudiada por seu amante, tece sua teia de sedução sexual, e como ela não ignora que seu amante não está mais apaixonado por ela, irá  eliminar todos os obstáculos à sua última visão de veste religiosa, do gozo feminino sem limites.

Em ambos os filmes, é a mulher que conduz o jogo da educação sentimental do homem, que tem de aceder à sublimação do desejo, no encontro sexual, porque «só o amor permite o gozo condescender ao desejo», diz Lacan em seu aforismo sobre o amor (2).

Esta é uma falha no Pas son genre, porque o amor, como fato cultural, faz obstáculo à conjunção dos amantes. O efeito pigmaleão do professor de filosofia sobre sua aluna, supostamente kantiana, terminará rapidamente, pois ela lhe oporá mais o saber da cabeleireira sobre a mascarada feminina, e o fã-clube das People. É um fracasso amargo no filme La chambre bleue para o marido infiel, porque o gozo dos amantes se nutre do mal entendido fundamental sobre o amor que o marido leva à sua mulher. No início do filme, pensa-se ter o culpado, mas ignora-se ainda quem é a vítima. Julien matou sua amante ou sua mulher?

A verdade analítica é completamente diferente da verdade judiciária: só a angústia do marido infiel, como sinal de um perigo que não era sem objeto, teria permitido a  ele escapar da cegueira de um erro judiciário. 
 

1Pas son genre de Lucas Belvaux, d'après le livre éponyme de Philippe Vilain, avec Emilie Dequenne, Loïc Corbery et La chambre bleue de ( et avec) Mathieu Amalric, d'après le roman éponyme de Georges Simenon, avec Léa Drucker, Stéphanie Cléau (sélection officielle du Festival de Cannes, section « Un certain regard »). 

2Lacan J. O Seminário - livro 10. A angústia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. p. 197.

* Idem. p. 180.

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LIDO HOJE, por François Regnault

28 de maio de 2014
Lido (no Almanach Vermot, sempre caro) estes trechos do Dicionário das ideias recebidas de Flaubert, ao qual era preciso sempre se referir:

«Gato: Chame-os "tigres de salão" (chic).

Cachorro: Especialmente criado para salvar a vida de seu mestre, "O amigo do homem", porque ele é seu escravo devotado.

Champanhe: Caracteriza o almoço de cerimônia. Fazer semblante de detestá-la, dizendo "Isso não é vinho". Provoca o entusiasmo entre as  pessoas populares. "A Rússia consome mais champagne que a França!" É por meio dela que as ideias francesas se espalharam na Europa. Sob a Regência, não se fazia outra coisa mais que bebê-la. Mas não se bebe champanhe, bebe-se on le "sable" – com abundância.  

Ferrovias: Se Napoleão as tivesse tido à sua disposição, ele teria sido invencível! » 

29 de maio de 2014
Lido em Thomas de Quincey.  Fazer uma comparação entre o inglês e o francês:
«Se um dia um homem se entregar e cometer um homicídio, muito em breve ele não hesitará em roubar; e, a seguir, ele vai do roubo à bebida e ao desrespeito ao Sabbath, e daí à incivilidade e procrastinação.»

Não lido, mas aplicado aos Franceses: «Se um francês começa a considerar que a Shoah – o Holocausto -, é um detalhe, e a minimizar a tortura na Algéria, e pensa que há estrangeiros demais na França e estigmatiza Árabes e Romanos, então ele acaba por desviar  os fundos públicos, por efetuar investimentos na Suíça, por abusar das camareiras nos hotéis, e fazer faturas falsas, e enfim à incivilidade com uma pessoa próxima e à procrastinação no topo da República.

30 de maio de 2014
Lido no Péguy na Ève, a propósito de 30 de maio
«A outra morreu numa manhã  num  trinta de maio
No hesitação e estupor públicos
Uma floresta de horror, de machados e lanças
A possuía circunscrita num círculo fechado.»

Trata-se de Joana D´Arc. «Uma» é Santa Genoveva:
«E uma morreu uma noite em um três de janeiro...»

31 de maio de 2014
Lido hoje, sempre no Almanach Vermot, a crônica «Melhor eles  teriam feito, se tivessem silenciado»:
O sujeito da ciência?: «Máquinas voadoras mais pesadas que o ar são impossíveis.» (Lord Kelvin, presidente da Royal Society, 1895)

Lido ainda em Péguy ("Victor Marie Comte Hugo"), nos "Cadernos XII, 1" (23.10.1910), Obras completas em prosa, Bibl. De la Pléiade, tomo III, p.226-7:
O que é a política? «A Coluna na Place Vendôme» ainda não era a coluna [Quando Victor Hugo escreveu sua «Ode à coluna da Praça Vendôme»]. Só tinha o que Napoleão fizera (um sopro) e o revestimento de bronze dos canhões tomados dos austríacos, dos mil e duzentos canhões tomados  dos inimigos, eu penso, num só campo. Ela não tinha mais que este revestimento de bronze da história mais importante, da maior glória militar, ela não era mais que este revestimento, em 1805. A política não era em absoluto uma história passada, quero dizer, a onipotência única, a política interior, aquela na qual os franceses lutam uns contra os outros; porque lutar contra os austríacos todo mundo faz, todo mundo pode fazer o mesmo, não é? Não é astucioso.  O que é astucioso é lutar entre nós.»

1 de junho de 2014
Lido «Lohengrin / Grande ópera romântica de Richard Wagner e sua primeira representação em Weimar nas festas de Herder e de Goethe », por Franz Liszt, 1850 (em Franz Liszt Três óperas de Richard Wagner consideradas de seu ponto de vista musical e poético. Actes Sud, maio de 2013) : 
« A introdução [A Abertura de Lohengrin] contém e revela o elemento místico sempre presente e sempre escondido na peça : segredo divino, força sobrenatural, sucessão de incidentes, suprema lei do destino dos personagens e da sucessão de incidentes que vamos contemplar. Para nos ensinar a inenarrável potência desse segredo, Wagner nos mostra a beleza inefável do santuário, habitado por um Deus que vinga os oprimidos e só demanda amor e fé aos seus fiéis. Ele nos introduz no Santo Graal; ele faz brilhar aos nossos olhos esse templo de madeira incorruptível às paredes perfumadas, aos portões de ouro, às  vigas de asbesto (amianto), às colunas de opala, às ogivas de ônix, aos átrios de Cymophane, cujos pórticos esplêndidos só estão próximos daqueles que têm o coração elevado e as mãos puras. De maneira alguma ele nos faz perceber dentro de sua estrutura imponente e real, mas como se conduzindo nossos sentidos fracos, primeiro ele nos mostra o santuário refletido em alguma onda azul ou reproduzido por alguma nuvem iridescente – que reflete as cores do arco-íris.»

Exercício: Você relerá este belo texto, assinalará as palavras raras e, por sua vez, descreverá um lugar que tenha inspirado você da mesma forma que o santuário do Santo Graal inspirou Franz Liszt. Você vai notar que o asbesto, cujo nome significa que não pode queimar, significa, infelizmente, o nosso amianto fatal!

(Ilustração no alto:  Franz Liszt)

2 de junho de 2014
Lida uma das últimas cartas da correspondência entre Freud e Jung. (Correspondência Sigmund Freud/C.G. Jung, « Conhecimento do Inconsciente », Ediçoes Gallimard, 1975, tomo II : 

O LAPSO. Carta de Jung a Freud de 11-14 de dezembro de 1912 : « Mesmo os cúmplices de Adler não querem me reconhecer como um de vocês.» [Ou Jung escreveu «Ihrigen» (vocês) por «ihrigen» (deles): «como um deles». A maiúscula indica o plural de cortesia, a minúscula, a terceira pessoa do plural.]

Carta de Freud a Jung de 16 de dezembro de 1919 :
Imediatamente Freud ouve o lapso: «[...] Agora você está bastante objetivo para prestar homenagem sem ficar irritado com o lapso seguinte? «Mesmo os cúmplices de Adler não querem me reconhecer como um de vocês.»

Resposta de Jung a Freud de 18 de dezembro de 1912:
«Sou bastante objetivo para perceber seu truque [em francês, no texto] atualizado. [...] Veja você, meu caro professor, você opera com esse truque há muito tempo, meus atos sintomáticos não importam de forma alguma, porque eles não significam absolutamente nada ao lado da trava considerável que há no olho do meu irmão Freud. Na verdade, eu não sou neurótico de modo algum – satisfeito!  

 

(Tudo que nos irrita nos outros pode nos levar a uma compreensão de nós mesmos. Carl Jung)

NORMAL. Carta de Freud a Jung de 3 de janeiro de 1913
« ... quanto ao resto, não podemos responder à sua carta. Ela criou uma situação que causaria dificuldades no comércio oral e que se tornou impossível de escrever. Fica acordado entre nós analistas que nenhum de nós deve ter vergonha de seu pedaço de neurose. Mas aquele que, se comportando de maneira anormal, grita sem parar que é normal, desperta a suspeita de que ele não tem conhecimento de sua doença. Eu proponho a você, portanto, que rompamos completamente nossa relações privadas. Eu não perco nada com isso [...] »

3 de junho de 2014
Lido hoje no The Spectator, de Addison & Steele e outros, este jornal em quatro volumes publicado na Inglaterra de 1711 a dezembro de 1714 (leitura muito cara a Jacques-alain Miller e a mim mesmo) de onde  retiro os princípios a seguir quando a rubrica de um « lido hoje » é proposta no Lacan Quotidien [The Spectator, em quatro volumes, Everyman´s Library, 1979, vol. 1 No 1, Quinta-feira, 1 de março de 1722, carta de Addison]:
« Assim, vivo no mundo mais como um Espectador da Humanidade do que como um das Espécies; isto significa que eu me transformei em Estadista Especulativo, Soldado, Mercador e Artesão sem nunca me misturar com qualquer Parte Prática na Vida. [...] eu nunca casei com qualquer Partido com Violência, e estou resolvido a observar uma Neutralidade exata entre os Whigs e os Tories* , a menos que eu seja forçado a me declarar pelas Hostilidades de um ou de outro Lado. Em suma, eu terei  agido em todas as Partes da minha Vida como um observador, que é o caráter que pretendo preservar neste Documento/Livro. »

N.T. * Whigs : membros de partido político inglês do séc. XVIII e  XIX que apoiavam o Parlamento contra os poderes ilimitados da Realeza.  Tories : membros do partido conservador inglês.

Tradução: Cláudia Aldigueri e Eucy de Mello
Comunicação: Maria Cristina Maia Fernandes


A cielo abierto # 2 [nel-debates]


  
"A c i e l o A b i e r t o " 
Boletín
26/05/2014 

A partir del documental "A Cielo Abierto" se abre una discusión. El film nos interroga, su propuesta toca nuestra sensibilidad. En este boletín publicamos un envío de Carlos Silva, quien se cuestiona sobre la relación entre los psicoanalistas y el niño autista, y se pregunta por las "presentaciones de enfermos".

También contamos con una contribución del colega Antonio Aguirre donde se refiere a la posición ética de Lacan, que lo distanció de los ideales revolucionarios de su tiempo que "prometían liberar al loco, hacerlo un paradigma y modelo". El escrito de Antonio bien podría titularse: "Más allá del paisaje amable de nuestras fantasías". 

¡Están invitados a participar de esta conversación a cielo abierto! 

Jessica Jara, Comisión Editorial Boletín "A Cielo Abierto"
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Psicoanalistas y niño autista, por Carlos Silva Koppel 

"Sobre el documental «A cielo abierto» de Mariana Otero, quisiera decir nomás que es una muy buena realización y buena propuesta. Pero me gustaría revolver más bien el tema del autismo y el psicoanalista. Ya había mantenido antes esta postura, en la de que se insiste en marcar la separación entre el sano y el enfermo, cuando de autismo estamos hablando: el autista que está allá y el psicoanalista que está acá; un psicoanalista en la posición de agente S1. Un psicoanalista que piensa en la inclusión o la normalización del autista.

Creo que hay que considerar cómo el autismo podría convertirse en un real del psicoanalista. Si el sujeto es un real para la ciencia, el niño autista bien podría ocupar el lugar de un real para el psicoanalista. Retomo la escena de la entrevista que le hacen a un niño autista enfrente a un público de especialistas, este sujeto niño en calidad de autista, como le llaman, no sabe bien qué está haciendo ahí… pues lo están estudiando, es un objeto de goce. Muy parecido a las prácticas psiquiátricas del siglo XIX. 

Si hay sujetos «autistas», es porque ocupan lugar de objeto de real y es gozado por Otro, y la tarea del analista debe ser lo opuesto a ello. En el Seminario XX, Lacan señala que no es la relación del niño con la madre de la que hay que preocuparse, sino de la ubicación del niño como goce Otro de la posición femenina; se encarna ese goce cuando el niño autista se enfrenta con una voluntad de quererlo ayudar, sanar, cuidarle. 

Desde la ética psicoanalítica, habría que ver cuáles son las condiciones a partir del deseo del analista que lleven al niño autista al encuentro con su propio goce. Y este deseo no puede sumarse a las nociones de protección, cuidado, resolución porque obstruyen la lectura como sujeto de goce".
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Los autistas y el psicoanálisis: otro encuentro, por Antonio Aguirre 

"Ha sido una fórmula de Lacan decir que en la psicosis el inconsciente se presenta a cielo abierto. Y en el llamado autista esto es verificable desde el principio mismo. Allí está el lenguaje, y los sentidos trabajan perfectamente para hacer posibles todo tipo de percepciones, pero en el goce de estos niños, no hay el anudamiento que hace nuestra vida de neuróticos. ¿Sufren? Todo parece indicar que su convivencia con el Otro está marcada por la amenaza, el miedo, la agresión. El encuentro con el Otro, descripto como un choque de cuerpos celestes por uno de los operadores en el documental, en ciertas ocasiones no trae la consecuencia de lo que hoy llamamos la locura de todos, sino una diferente, una que no tiene ni siquiera la apariencia de aquella que nos da el imaginario de los nombres del padre. 

Los psicoanalistas, después de Lacan, tienen un desafío: no retroceder ante la psicosis. Es decir que en la reiteración de ese encuentro brutal, de ese cuerpo en órbita singular con un analista, algo radicalmente diferente acontezca. Es un recomenzar, el nacimiento -en los términos de los Lefort- de un Otro que no sea la imposición del mito neurótico. Entre los autistas y los operadores psicoanalíticos ha ocurrido, ocurre y ocurrirá lo que nunca pasará con la humanidad en su conjunto: la construcción de una subjetividad libre de las pasiones criminales que se visten como misiones bondadosas de amor al padre. 

Lacan acudió, durante mucho tiempo, al hospital psiquiátrico. Estaba demasiado lejos de los ideales revolucionarios que ya en su tiempo prometían liberar al loco, hacerlo un paradigma y modelo. Véase a Laing y Cooper, quienes no dejan de conmovernos en sus denuncias contra la explotación y miserias del mundo.

Cuando se lee a Lacan uno puede percibir el desaliento que las necedades colectivistas le producían. Trataba, quizás con poco éxito, de enseñar algo en las llamadas "presentaciones de enfermos"; trataba de decirnos que la condición del cuerpo-que-habla, no tiene remedio, que los delirios, sean únicos o compartidos, llevan a la autodestrucción, y que el psicoanálisis, esa práctica difícil al extremo, ajena a la gloria y a la plaza pública, era al menos algo mejor que los proyectos de la normalización salubrista.

El documental de María Otero nos muestra otra pasión, otra valentía, la de estos operadores que tejen día a día, con materiales mínimos y frágiles, un modo de sobrevivir en un mundo, que por su desgarradura íntima, no puede ser el paisaje amable de nuestras fantasías".

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Para participar en el Boletín "A Cielo Abierto" enviar sus contribuciones menores a 2.000 caracteres a jessikjara@hotmail.com  y/o piedadspurrier@hotmail.com 



25 de junho de 2014

QUELQUES MOTS SUR LE CONTRÔLE. Extraits de l'intervention de Jacques-Alain Miller


 

Grande Conversation de l'École Une 
Paris, le 18-04-2014

Extraits de l'intervention de Jacques-Alain Miller

QUELQUES MOTS SUR LE CONTRÔLE

Deux choses sont à distinguer. Il ne me semble pas que l’on doive se centrer sur le choix du contrôleur car cela, nous n'allons pas le réglementer. Nous n'avons pas réglementé le choix de l'analyste, nous n'allons pas réglementer celui du contrôleur. Vous choisissez à votre gré un contrôleur qui est pour vous une figure du sujet supposé savoir — cette expression de Lacan convient très bien pour le contrôleur — et cela est difficilement contrôlable. Ce que l'homme ne peut pas faire, il le laisse ! L’École ne se mêle pas du choix du contrôleur.

Mais il y a une seconde chose qui, elle, est de la responsabilité de l'École : c’est de donner le titre d'AME. Cela, oui, l'École le réglemente, le décide, en fixe les conditions. Quand elle nomme un AME, c’est pour dire que cet analyste a été formé par l'École, que la qualité de sa pratique est garantie par l’Ecole. Cela suppose l’unité de l'École. C’est le problème du lacanisme : nous venons d'une conception de l'analyse comme d’une science en espérance, mais nous savons qu'elle peut rester en espérance très longtemps, si bien que l’unité de l’Ecole est toujours discutable, relative, c’est un horizon. Mais nous pouvons garder cet horizon comme un idéal. Un AME est supposé capable de représenter, disons-le ainsi, le meilleur de ce qui peut se donner comme formation dans l'École.

La question essentielle est de savoir comment on peut vérifier la qualité d'un AME. On peut la vérifier, certainement, à partir des interventions publiques de l'analyste, c'est à dire de ses communications et de ses publications, mais on ne peut négliger les contrôles qu’il fait ou a faits, et le témoignage du ou des contrôleurs. Si elle fait l’impasse sur le contrôle et les contrôleurs, une Commission de la garantie ne peut travailler convenablement.

Cela n'empêche pas, d’aucune manière, qu'il y est des contrôleurs de fait qui ne soient pas encore AME. Quand une Commission de la garantie apprend que dans une École un analyste fonctionne de fait comme contrôleur, c'est l’occasion pour elle de se demander s'il ne doit pas être nommé AME.

Je le dis de la manière la plus simple parce que c’est arrivé au moment de la fondation de l'EOL D'où viennent les AME de l'EOL ? Il fallait bien commencer ! Évidemment, il y avait des analystes d'expérience au moment de la fondation. Mais il y avait un trou dans la structure : comment les reconnaître et les nommer ? J’ai assumé au grand jour la responsabilité que me déléguèrent les groupes, de nommer — agissant comme universel concret — les trente premiers AME de l'EOL, et ce, à partir de la considération qu’ils étaient des contrôleurs de fait. Il se trouve que je connaissais 29 d’entre eux. La dernière personne, je ne la connaissais ni d’Eve ni d’Adam, je l’ai choisie sur le témoignage d'un collègue averti, qui m’a dit que cette personne avait de nombreux contrôlants, qu’elle était l’un des principaux contrôleurs du milieu analytique local. Je dois dire que cela ne fut pas une réussite : cette personne fut la seule des AME à quitter l'EOL quelques années plus tard. Mais si ce fut une erreur, ce fut une sur trente. C'est un bon pourcentage !

Sur le sujet de la nomination des AME, il faut avancer pas à pas, tranquillement. C'est une question de prudence. Voyons comment cela avance dans les Ecoles.  

Texte revu par l’auteur. 

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Gran Conversación de la Escuela Una 
París, 18/04/2014 

Extractos de la intervención de Jacques-Alain Miller  

Algunas palabras sobre el control 

Hay dos cosas que deben ser distinguidas. No me parece que debamos centrarnos en la elección del controlador porque eso no vamos a reglamentarlo. No hemos reglamentado la elección del analista, no vamos a reglamentar la del controlador. Ustedes escogen a su gusto a un controlador que sea para ustedes una figura del sujeto supuesto saber -esta expresión de Lacan le conviene muy bien al controlador- y eso es difícilmente controlable. Lo que uno no puede hacer ¡lo deja de lado! La Escuela no se mezcla en la elección del controlador.

Pero hay una segunda cosa que sí es responsabilidad de la Escuela: es dar el título de AME. Eso sí, la Escuela lo reglamenta, lo decide, fija sus condiciones. Cuando nombra un AME es para decir que ese analista ha sido formado por la Escuela, que la calidad de su práctica está garantizada por la Escuela. Eso supone la unidad de la Escuela. Es el problema del lacanismo: venimos de una concepción del análisis como una ciencia a la espera, pero sabemos que puede seguir a la espera mucho tiempo, hasta tal punto que la unidad de la Escuela es siempre discutible, relativa, es un horizonte. Pero podemos conservar este horizonte como un ideal. Un AME se supone que es capaz de representar, digámoslo así, lo mejor de lo que puede ofrecerse como formación en la Escuela.

La cuestión esencial es saber cómo puede verificarse la calidad de un AME. Podemos verificarla, es cierto, a partir de las intervenciones públicas del analista, es decir, de sus comunicaciones y de sus publicaciones, pero no podemos dejar de lado los controles que hace o que ha hecho, y el testimonio del o de los controlantes. Si no tomamos en consideración el control y los controlantes, una Comisión de la garantía no puede trabajar de manera conveniente. 

Esto no impide de ninguna manera que haya controladores de hecho que no sean todavía AME. Cuando una Comisión de la garantía se entera de que en una Escuela un analista funciona de hecho como controlador, es el momento de que se pregunte si no debe ser nombrado AME. 

Lo digo de la manera más simple porque sucedió en el momento de la fundación de la EOL. ¿De dónde provienen los AME de la EOL? ¡Había que empezar por algún lado! Evidentemente, había analistas con experiencia en el momento de la fundación. Pero había un agujero en la estructura: ¿cómo reconocerlos y nombrarlos? Asumí a la luz del día la responsabilidad que me delegaron los grupos de nombrar -actuando como universal concreto- los treinta primeros AME de la EOL, y eso a partir de la consideración de que eran controladores de hecho. Sucede que yo conocía a 29 de ellos. La última persona, de la que no conocía nada de nada, la elegí a partir del testimonio de un colega entendido que me dijo que esa persona tenía muchos controlantes, que era uno de la principales controladores del medio analítico local. Debo decir que no fue un éxito: esa persona fue el único de los AME que dejó la EOL algunos años después. Pero si fue un error, lo fue en uno de treinta. ¡Es una buena proporción!  

Sobre el tema de la nominación de los AME, hay que avanzar paso a paso, tranquilamente. Es una cuestión de prudencia. Veamos cómo va avanzando en las Escuelas. 

Texto revisado por el autor. 
Traducción: Miquel Bassols. 
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Grande Conversação da Escola Una
Paris, 18-04-2014

Trechos da intervenção de Jacques-Alain Miller 

ALGUMAS PALAVRAS SOBRE A SUPERVISÃO

Duas coisas devem ser diferenciadas. Não me parece que devamos nos centrar na escolha do supervisor, pois isto nós não vamos regulamentar. Não regulamentamos a escolha do analista, não vamos regulamentar a escolha do supervisor. Vocês escolhem como quiserem um supervisor que lhes seja uma figura do sujeito suposto saber — esta expressão de Lacan convém bastante para o supervisor — e dificilmente isso será controlável. O que o homem não pode fazer, ele deixa! A Escola não se envolve na escolha do supervisor.

Mas, há uma segunda coisa que, esta sim, é da responsabilidade da Escola: conferir o título de AME. Isto sim, a Escola regulamenta, decide, fixa suas condições. Quando ela nomeia um AME, é para dizer que esse analista foi formado pela Escola, que a qualidade de sua prática é garantida pela Escola. Isto supõe a unidade da Escola.

Este é o problema do lacanismo: viemos de uma concepção da análise como uma esperança de ciência, mas sabemos que ela pode permanecer como esperança por muito tempo, se bem que a unidade da Escola é sempre discutível, relativa, é um horizonte. Mas podemos manter esse horizonte como um ideal. Um AME é suposto capaz de representar, digamos, o melhor do que pode se dar como formação na Escola.

A questão essencial é saber como se pode verificar a qualidade de um AME. Certamente ela pode ser verificada a partir das intervenções públicas do analista, isto é, de suas comunicações e de suas publicações, mas não se pode negligenciar as supervisões que ele faz ou fez, e o testemunho do ou dos supervisores. Sem levar em conta a supervisão e os supervisores, uma Comissão da garantia não pode trabalhar convenientemente.

Isto não impede, de modo algum, que haja supervisores de fato que não sejam ainda AME. Quando uma Comissão da garantia compreende que em uma Escola um analista funciona de fato como supervisor, é o momento dela se perguntar se ele não deve ser nomeado AME.
 
Digo isto da maneira mais simples porque aconteceu no momento da fundação da EOL. De onde vêm os AME da EOL? Era preciso começar! Evidentemente, havia analistas experientes no momento da fundação. Mas havia um furo na estrutura: como reconhecê-los e nomeá-los? Assumi publicamente a responsabilidade que os grupos me delegaram, de nomear — agindo como universal concreto — os trinta primeiros AME da EOL, e isto a partir da consideração de que eram supervisores de fato. Ocorre que eu conhecia 29 dentre eles; da última pessoa, eu nunca tinha ouvido falar. Ela foi escolhida por mim a partir do testemunho de um colega atento, que me disse que essa pessoa tinha vários supervisionandos e era um dos principais supervisores do meio analítico local. Devo dizer que isto não foi um sucesso: essa pessoa foi o único dos AME a deixar a EOL alguns anos mais tarde. Mas, se este foi um erro, a proporção foi de um para trinta! É um bom percentual! 

Sobre o tema da nomeação dos AME, é preciso avançar passo a passo, tranquilamente. É uma questão de prudência. Vejamos como isto caminha nas Escolas.
 
Tradução: Teresinha N. Meirelles do Prado

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Grande Conversazione della Scuola Una
Parigi, 18-04-2014

Estratti dell'intervento di Jacques-Alain Miller

DUE PAROLE SUL CONTROLLO


Occorre distinguere due cose. Non mi sembra che ci si debba concentrare sulla scelta del controllore, perché questo non possiamo regolamentarlo. Non abbiamo regolamentato la scelta dell'analista, non regolamenteremo quella del controllore. Voi scegliete liberamente un controllore che sia per voi una figura di soggetto supposto sapere - questa espressione di Lacan è molto appropriata per il controllore - e questo è difficilmente controllabile. Quel che l'uomo non può fare, lo lasci! La Scuola non s'immischia nella scelta del controllore.

Invece c'è una seconda cosa, questa si, di cui la Scuola è responsabile: dare il titolo di AME. Questo la Scuola lo regolamenta, lo decide, ne fissa le condizioni. Quando essa nomina un AE, lo fa per dire che quell'analista è stato formato dalla Scuola, che la qualità della sua pratica è garantita dalla Scuola. Questo presuppone l'unità della Scuola. E' il problema del lacanismo: proveniamo da una concezione dell'analisi come di una scienza a venire ma sappiamo che può restare per molto tempo a venire e sappiamo anche che l'unità della Scuola è sempre discutibile, relativa, è un orizzonte. Ma possiamo mantenere questo orizzonte come un ideale. Un AME è supposto capace di rappresentare, diciamo così, il meglio della formazione che che si può dare nella Scuola.

La questione essenziale è quella di sapere come si può verificare la qualità di un AME. Certamente la si può verificare a partire dagli interventi pubblici dell'analista, vale a dire a partire dalle sue comunicazioni e dalle sue pubblicazioni ma non si possono ignorare i controlli che fa o che ha fatto e le testimonianze del o dei controllori. Se ignora il controllo e i controllori, una Commissione di garanzia non può lavorare come deve.

Questo non impedisce in nessun modo che ci siano dei controllori di fatto che non sono ancora AME. Quando una Commissione di garanzia viene a sapere che in una Scuola un analista funziona di fatto come controllore, è l'occasione per questa di chiedersi se debba essere nominato AME.

Lo dico nel modo più semplice perché è successo nel momento della fondazione dell'EOL. Da dove vengono gli AME dell'EOL? Bisognava pur cominciare! Al momento della fondazione vi erano, ovviamente, degli analisti con esperienza. Ma c'era un buco nella struttura: come riconoscerli e nominarli? Mi sono assunto davanti a tutti la responsabilità, attribuitami dai gruppi, di nominare - agendo come universale concreto - i primi trenta AME dell'EOL e l'ho fatto a partire dalla considerazione che fossero di fatto dei controllori. Di questi ne conoscevo 29. L'ultima persona non la conoscevo, né di nome né di fatto, l'ho scelta basandomi sulla testimonianza di un collega informato che mi ha detto che questa persona aveva numerosi controllanti, che era uno dei principali controllori dell'ambiente analitico locale. Devo dire che non fu un successo: tra tutti gli AME, questa persona fu l'unica a lasciare, qualche anno dopo, l'EOL. Anche se è stato un errore, è stato un errore su trenta. E' una buona percentuale!

Sulla questione della nomina degli AME bisogna avanzare passo per passo, con tranquillità. E' una questione di prudenza. Vediamo come procede nelle Scuole.

Testo rivisto dall'autore.
Traduzione di Giuliana Zani

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Grand Conversation of the School One
Paris, 18.04.2014

Extract from Jacques-Alain Miller’s intervention

A FEW WORDS ON SUPERVISION

Two things need to be distinguished. In my view, we should not focus on the choice of a supervisor, as we are not going to control that. We haven’t placed any rules on the choice of the analyst and we’re not going to place any rules on the choice of the supervisor. According to your liking, you choose a supervisor who is, for you, a figure of the subject supposed to know (this expression of Lacan’s is well-suited to the supervisor) and this is not easy to supervise. What man cannot do, he leaves aside! The School does not get involved in the choice of supervisor.

But there is a second thing that does indeed fall to the responsibility of the School: giving the title of AMS. This, the School does control, does decide and does fix the conditions for. When it nominates an AMS, it does so in order to say that this analyst has been trained by the School, that the School guarantees the quality of his practice. This supposes the unity of the School. It is the problem of Lacanianism: we come from a conception of analysis as a would-be science, but we know that it can stay in this would-be state for a very long time, so much so that the unity of the School is always uncertain, relative, on the horizon. But we can keep this horizon as an ideal. An AMS is supposed to be capable of representing, let’s say, the best of what can be given as training in the School.

The essential question is how the quality of an AMS can be verified. It can certainly be verified on the basis of the analyst’s public interventions, in other words on the basis of his communications and publications, but the supervisions that he has or has had, and the testimony of his supervisor or supervisors must not be overlooked. If a guarantee commission fails to take the supervisor or supervisors into consideration, it cannot do its work properly.

This does not, in any way, stop there from being functioning supervisors who are not yet AMS. When a guarantee commission learns that an analyst is functioning as a supervisor in a School, it is an opportunity for it to ask if he should be named AMS.

I am putting this in the simplest terms because this is something that happened at the time of the foundation of the EOL. Where did the AMS of the EOL come from? We had to start somewhere! Obviously, there were experienced analysts at the time of the School’s foundation. But there was a hole in the structure: how were they to be recognised and named? When the day came, I assumed the responsibility that had been delegated to me by the groups, to name, acting as concrete universal, the thirty first AMS of the EOL, and this, on the basis of the fact that they were already acting as supervisors. It so happened that I knew 29 of them. The last person, I did not know from Adam, I chose her on basis of the testimony of a well-informed colleague, who told me that this person had numerous supervisees, that she was one of the main supervisors in the local area. I have to say it was not a great success: a few years later, the person in question was the only AMS to leave the EOL. But if this was an error, it was one out of thirty. That’s not a bad percentage!

On the subject of the nomination of AMS, we must advance step by step, calmly. It is a question of prudence. Let us see how this unfolds in the Schools.

 
Text reviewed by the author.
Translated from the French by Philip Dravers