4 de junho de 2014

LACAN COTIDIANO N. 401 - PORTUGUÊS


Quarta-feira, 14 maio 2014  14h00 [GMT + 1]    
NO 401
Eu não teria perdido um  Seminario por nada no mundo— PHILIPPE SOLLERS
Nós ganharemos porque não temos outra escolha — AGNÈS AFLALO

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- Combates -

Site de encontros Co-parents
Uma família para todos…,
a crônica de Hélène Bonnaud

Ter um filho tornou-se um direito quase absoluto, um objeto essencial, uma experiência vital. Este objeto, em tempos que não são tão antigos, era uma maldição para as mulheres que estavam com medo de ficar grávida antes do casamento, ou que, uma vez casadas, temiam as gestações sucessivas, este objeto criança tornou-se um bem necessário para a felicidade de cada um. Seria a causa que deveria suportar o dever e ele encarnaria a nova forma de constituição de uma família. A evidência de uma auto-realização, uma extensão do seu ser, ou uma projeção de um ideal, ter um filho hoje é solicitado por ambos os sexos, homens e mulheres, mantendo a igualdade frente à esta  escolha. Esta nova situação marca uma revolução na vida de muitos sujeitos, em direção a essa espera da criança, independentemente do sexo, de sua orientação sexual, sua idade, e circunstâncias pessoais, etc.
De uma certa maneiracom a ciência tinha-se acreditado poder expandir os horizontes da procriação. Com o casamento para todos, a criança aparece como o objeto o mais logicamente esperado, de qualquer casal, quer seja hétero ou homo, é esperado querer uma criança ou várias e de encontrar a maneira de obtê-lo. 
Alguns métodos são proibidos pela lei francesa que não reconhece nem a PMA( procriação medicamente assistida) fora do casamento, nem a GPA( gestação por outra ou mãe substituta). Portanto, a possibilidade de procriar fora dos padrões estabelecidos pelo modelo heterossexual é impossível, enquanto que, em muitos países, os casais homossexuais têm acesso a isso e, podem desfrutar dos mesmos benefícios que os casais heterossexuais. Nós vimos recentemente como o Tribunal de Versailles se recusou a reconhecer depois, uma criança nascida de um casal de homossexuais, após uma PMA feita no exterior, tornando assim impossível a adoção da criança pela parceira do casal.
Mais do que nunca, filhos nascidos de casais homossexuais teriam, portanto, necessidade de  serem protegidos em caso de doença ou de  morte de sua mãe biológica. Qual é o significado do casamento, se você não é capaz de reconhecer a criança que nasce de um desejo para este casal?

Qualquer coisa para obter
 Diante de todos esses problemas, o endereçamento a um site de encontros que promove a ligação entre homens e mulheres, heteros ou gays, para gerar uma criança, não surpreende mais ninguém. Assim o site http://www.co-parents.fr que permite que homens e mulheres se conectem para se escolherem, cada um oferecendo o seu perfil pessoal, para conceber um filho juntos. Esta solução tem a vantagem de evitar os estragos do conjugo, da relação sexual e  amorosa para se envolver diretamente com a parentalidade, ou seja, com a criação dos filhos.
A criança não estará mais ligada ao amor. Nós já sabíamos – são numerosas as crianças nascidas fora de uma relação de amor  - o estabelecimento de uma co-parentalidade antecipa essa perspectiva. Pode-se fazer uma criança sem se amar, sem se desejar, quase sem conhecer o parceiro. Sem ofensa para alguns, Lacan já nos alertou que "a análise mostra que o amor em sua essência é narcísico, (...) e que ele é impotente, ainda que seja recíproco, porque ele ignora que é apenas o desejo de ser UM, o que nos conduz ao impossível de estabelecer a relação dos... A relação dos quem? – dois sexos."1
Finalmente, após a ciência que se pôs a serviço dos casais para obter a criança que não podiam ter, estamos na era do bom processo de troca. Eu lhe dou meu esperma, você me dá um óvulo, e juntos vamos fabricar um filho e o criaremos. Esta fórmula, que tem o privilégio de ser ultra-natural - sem manipulação genética, sem o uso de um terceiro - duas pessoas que decidem se entenderem para realizar o seu objetivo, serem pais, responde ao pragmático do nosso século.

Todos pais
Co-parents.fr,  promove o encontro com o desejo de ter um filho que não se realiza e que não esta atrelado ao corpo, é o desejo de  filho de uma mulher  só, que será capaz de encontrar um pai para o seu filho, ou é o filho de casais homossexuais ou de gays solteiros, que querem também conhecer a paternidade ou a maternidade, é a possibilidade dada a todos aqueles que querem viver a experiência da paternidade .
Esta proposta o que traz de novo é que ela está além da  função da sexualidade. A relação homem/mulher é anulada em favor de outra modalidade que é a do casal parental. O uso do corpo de cada um é dependente, então, de uma autorização para procriar, sem mais delongas. É a vida, além das pressões sociais ligadas à união, a união do corpo que, afinal de contas, se dedicaram a conceber um filho de sua união como uma conseqüência do amor. O contrato só será considerado como um engajamento em uma experiência que vai durar toda a vida, porque ter um filho, não é só programar o seu desejo é muito mais complexo, pois isso concerne a vida inteira. No site, fala-se em uma "experiência humana".
O filho do amor já passou. Depois da criança da ciência, eis aqui o filho da co- parentalidade. Esta criança será o desafio das novas formas de fazer uma família. Como disse Julie, a jovem entrevistada da revista Marie Claire que investigou esta questão em "Cherche père.net "2 " A co- parentalidade isto começa como um divórcio : você se encontra para organizar a sua vida futura com um  desconhecido , a fim de preservar os interesses de uma criança que você não fez ainda! " . Bem visto. O que conta , no entanto, é que essa criança seja falada , que ela seja tomada na linguagem e no desejo do Outro , que criou fantasias antes de concebê-la . Porque nascer de pais que se amam não é garantia de felicidade. Mas nascer de pais que se encontram apenas para uma cópula decisiva , é uma grande generalização. Nós somos todos abortos do desejo de nossos pais, nós indica Lacan no Avesso da psicanálise3. Para a criança, o enigma de seu nascimento não será obscurecido mais do que para um outro . Apenas, justamente, se terá que ver por onde a falta é transmitida , e por onde o mal-entendido é mais sensível. Quanto aos pais , eles vão ter que inventar como suportar compartilhar  o que não é nem um bem no sentido da propriedade, nem um bem no sentido da moral, mas sim o  resultado de um encontro que será necessário lhe contar. Uma história de pais em certa medida.

Un bom exemplo para concluir
"Uma pequena coisa que falta à minha vida", escreveu uma jovem mulher neste site ... é aqui que começa expectativas confusas, e se lê o seu desejo. O desejo de ter isso que lhe falta, isso que está faltando em sua vida. Como ela pode fazer de um homem o pai de seu filho?
Para outras mulheres, é a criança que vem remediar a demanda de amor dirigida a um homem. Porque, na verdade, é difícil imaginar que, para alguns, ou algumas, a questão da criança não mascara a procura  da alma gêmea pai ou da alma gêmea mãe que se espera, mas que  não se encontrou ... Lemos em Lacan no Mais, Ainda, "Fazer o amor, como o nome sugere, é a poesia. Mas há um mundo  entre a poesia e o ato "4.


 Lacan J. O Seminário, Livro 20, Mais, Ainda, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1985, p. 14.
2 Marie-Claire, mai 1014, « Coparentalité, cherche futur père sur le net », par Ingrid Seymann. p.137.
3 Lacan J. O Seminário, Livro 17, O avesso da psicanálise, Jorge Zahar, 1992, p. 207.
4 Lacan J. O Seminário, Livro 20, Mais, Ainda, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1985, p. 68.

Uma atualidade :
Freud e A Grande Guerra
por Marlène Belilos 


 O tenente Kauders foi ferido em uma explosão na frente russa, em 29 de agosto de 1914. Depois de vários diagnósticos e internações, em 24 de novembro de 1917, ele foi finalmente transferido para a clínica neuropsiquiatria de Viena, dirigido pelo médico-chefe Wagner-Jauregg. Ele passará por 77 dias de isolamento e faradização, um tratamento elétrico muito doloroso, que alguns soldados preferiam evitar, inclusive voltando ao front. "O processo terapêutico era de uma força bruta", como dirá Freud (1). Ele foi um dos únicos a queixar-se diante da "Comissão sobre a existência de confiscos de guerra" (delitos cometidos no exercício de funções oficiais), criado no final da guerra, em dezembro de 1918 em Viena.
Durante a audiência pública de dois dias, em 16 e 17 de Outubro de 1920, Freud foi chamado à título de especialista. "A fuga para a doença  que é a  neurose," esta é a questão fundamental que Freud teve que explicar para alguns psiquiatras vienenses que viam antes de qualquer coisa uma "simulação", destinada a evitar a guerra. Freud afirmou: não existe um "neurótico que quer estar doente sem um motivo determinado", "todos os neuróticos são simuladores, e simular, sem o saber, esta é a sua doença" (1).
A propósito dessas manifestações corporais, sem lesão orgânica, Lacan afirma que trata-se de "simular coletivamente algo que funciona como um corpo." (2)
Diante da Comissão, Freud levanta numa discussão ética, a contradição interna entre a eficiência e o dever humanitário dos médicos. Ele enfatiza a prioridade para o médico de estar a serviço dos doentes e denuncia os tratamentos "que não visavam a recuperação dos doentes, mas a restauração da sua capacidade de fazer a guerra." (1) No entanto, isso não é compreendido por alguns psiquiatras encarregados da "cura" dos soldados e eles continuam a praticar tratamentos elétricos. Apesar de uma prudência para não sobrecarregar Wagner-Jauregg, Freud pode testar a duplicidade feroz - "scheinfreundlich" (3) -, dos psiquiatras.

Os tratamentos psicanalíticos de Freud são aplicados com sucesso pelo Dr. Ernest Simmel que irá testemunhar perante o Congresso de Psicanálise em 1918, em Budapeste, no qual  irão participar os médicos militares alemães .
Quanto a Freud, ele está em guerra no movimento analítico, o que levou à sua ruptura com Jung e Adler. A publicação em 1914 de "Uma introdução ao narcisismo" marca os desacordos com o ego dessexualizado de Jung. Freud se engaja em uma reorganização das instâncias psíquicas. Não há mais separação entre as pulsões do ego e as pulsões sexuais, o ego é um grande reservatório de libido. Em seu texto "Os instintos e suas vicissitudes", ele faz da pulsão de morte um ponto crucial. Esta segunda tópica mostra o dualismo das pulsões, e agora ele opõe as pulsões de  morte às pulsões de  vida, e introduz esta nova instância que é o Id ( Ça), como lugar desta oposição .
Alguns de seus discípulos com quem ele pode continuar a se corresponder, apesar da guerra, Ferenczi e Abraham, preferem continuar a ver nas neuroses  de guerra um conflito entre o ego e a libido.
Freud retoma a questão da neurose de guerra, sem fazer diferençacom a neurose em tempo de paz. Ele vê "em ambos os casos, o medo do ego de ser danificado: aqui pela libido, não pelas violências externas". (4) A excitação sexual provoca angústia e o trauma é uma fonte de excitação sexual, como disse Breuer. Há uma fonte traumática no sexual e a instauração de um além do princípio do prazer.
Kurt. R. Eissler, autor de Freud sur le front des névroses de guerre  e criador dos Arquivos Freud em Washington, tem a ata do julgamento deste processo que colocou em questão Wagner-Jauregg, ilustre representante da psiquiatria clássica, na Áustria. É preciso ler principalmente o depoimento perante a Comissão do Dr. Kozlowski que acusa o Tenente Kauters, e vangloria-se em desmascarar as histéricas e os militares "que se escondem para não enfrentar o perigo". (5)
Não foi a não ser no final da guerra que a psiquiatria se abriu à psicanálise ao constatar o fracasso dos tratamentos tradicionais; é necessário então abrir centros psicanalíticos em hospitais, mas essa intenção não será  seguida. "A guerra não vai durar muito tempo", dirá ironicamente Freud.



1 Eissler K.R., Freud sur le front des névroses de guerre, Presses Universitaires de France, 1992, p.49
2 Lacan J., Le séminaire, Les non dupes errent, 9 avril 1974
3 Correspondance Freud -Abraham, 1907-1926, Gallimard 1969, Lettre à Abraham, 31.10.1920, page321
4 Freud S., « Sur la psychanalyse des névroses de guerre », volume XV des Oeuvres complètes,  Presses universitaires de France, 1996, p.223
5 Freud sur le front des névroses de guerre, op. cit., p.263
Classificação Francesa
Dos transtornos mentais
 por Alain Vaissermann
O professor Roger Mises, psiquiatra infantil, do qual já fui uma vez aluno, me disse um dia  que o inimigo não eram os psicanalistas, mas sim as neurociências e os avanços do DSM.
 Ele fez uma obra civilizatória inventando as desarmonias evolutivas que retiravam numerosas  pessoas da categoria de débeis para lhes permitir aceder aos tratamentos. Ele reuniu um grupo de trabalho para desenvolver uma classificação francesa de transtornos mentais em crianças e adolescentes (CFTMEA), agora adotada por todos os psiquiatras infantis da França. Em abril de 2012, ele se reuniu, outra vez, com este grupo, para iniciar uma abordagem idêntica concernente aos adultos, isto em maio de 2012, aparecendo em La lettre de la psychiatrie française  (n° 208), um artigo assinado por  Jean Garrabé e Roger Misés do qual recomendo a leitura.
Durante o verão de 2013, dentro da Ação do Comitê Sindical de Psiquiatria (CASP) a que eu presidia então,  discutimos a possibilidade de desenvolver uma nova classificação francesa dos transtornos mentais, considerando que era certo criticar os DSM, mas sem dúvida, seria melhor propor uma alternativa.
Então eu liguei para as organizações profissionais que trabalhavam sobre esta questão, em setembro de 2013. O grupo de trabalho que já estava em andamento, tinha-se adormecido ligeiramente, mas despertou. Os seus membros propuseram-me que participasse dos seus trabalhos, que eu aceitei com prazer. Embora muitos colegas julgaram a tarefa impossível, estamos agora em condições de produzir uma proposta, que provavelmente ainda pode melhorar. Este documento foi enviado a grupos de sociedades científicas e sindicatos para estudo.
O próximo passo foi testado em campo por ambos os profissionais tanto públicos como autonomos. Vamos considerar os seus comentários e observações ao apresentar um documento definitivo para o governo que deverá  validá-lo.
Como ponto de partida, nós previlegiamos a primeira clínica e a psicopatologia antes de um acesso categórico. Este acesso permitirá também  dar conta da evolução das patologias ao longo do tempo. Por exemplo, uma criança com diagnóstico de autismo por um psiquiatra infantil, poderá ser diagnosticada como esquizofrênico na idade adulta. Por outro lado, em um adulto  diagnosticado como esquizofrênico, será possível, através da anamnese identificar os distúrbios que existiam na infância. Finalmente, um adulto considerado esquizofrênico pode evoluir para a paranóia, como resultado do tratamento, ou não.
Esta perspectiva longitudinal é essencial na medida em que não circunscreve os pacientes em uma categoria fixa e definitiva.
Depois de uma introdução redigida por Jean Garrabé, serão encontrados um manual de usuário e uma tabela dividida em três colunas.
À esquerda, o CFTMEA onde não foi feita nenhuma alteração, a não ser  no título que tornou-se : "na infância e adolescência" em vez de "em crianças e adolescentes" (esta opção permite um diagnóstico retrospectivo nos adultos).
No centro, o CFTMEA (Classificação francesa dos Transtornos Mentais na Idade Adulta) é a nossa nova criação.
Tudo é CFTM 2014.
A direita, finalmente, a correspondência com a Classificação Internacional das Doenças (CID) no que diz respeito a sua seção específica em psiquiatria, cotação exigida na Europa pelos governos (CID 10 e revisada à pouco no CID 11).
Assim, o médico poderá, a partir do quadro clínico, abrir a sua tradução em termos de categoria CID. Ele vai encontrar muitas referências a síndromes clássicas da psiquiatria francesa e alemã, o que poderia incentivar os alunos a querer ver mais de perto.
Então, vamos produzir um glossário e um índice para facilitar o acesso desta nova classificação,da qual esperamos a próxima publicação.



A caixa preta
A revista impressa da U.S. United Symptoms
 por Jean-Charles Troadec

«Quanto aos sintomas na civilização devemos primeiramente decifrar os Estados-Unidos da América»
Éric Laurent e Jacques-Alain Miller, O Outro que não existe e seus comitês de ética


Os números estão caindo. A taxa de crianças afetadas pelo autismo nos EUA passam de 1/88 a 1/68. Estes dados vêm do Centro de Controle de Doenças (CDC)  que sintetizou o conjunto dos diagnósticos em 11 estados, o que representa 9% da população americana. A fração da análise precedente, que cobria 2008-2010, mostrou uma taxa de 1/88, contra 1/110 para a parte ainda anterior da fração .1
"Como no passado, os pesquisadores não sabem qual é a causa do aumento", afirma o Los Angles Times em seu artigo "Sempre em crescimento: 1 criança em 68 sofre de um transtorno de espectro autista ".2 As pistas abertas recentemente continuam a ser exploradas. O meio ambiente poderia influir. A genética igualmente. O autor reconhece que há também um maior número de pessoas com acesso aos centros de recursos locais.  A oferta cria a demanda.

Como estas estimativas são realizadas?
O CDC não estuda os registros de cada criança diretamente. Ele é baseado em registros médicos e sobre o registro da educação nacional dos sujeitos para o qual há a "indicação" ou "o diagnóstico formal", ou mesmo "sintomas" de espectro autístico. Observe, portanto, que basta alguns sintomas desse espectro.
Em seguida, uma média é realizada entre os dados dos Estados; ai a dificuldade aumenta, pois as grandes disparidades se revelam. O Alabama, por exemplo, conta com um caso em 175, contra 1 caso em 45 para New Jersey. Outras incoerências ainda ocorrem durante a análise: os brancos são afetados até 1caso em 63, que é 30% maior do que na população negra e, 50% maior do que nos latinos-americanos. Como entender esses números? Ninguém sabe.
O que é certo é que estas diferenças não se referem às hipóteses sobre uma causa biológica, afirma o jornalista californiano. As diferenças são muito grandes. Por que os brancos seriam os mais afetados? Por que tal estado, tem menos casos do que o outro? É claro que esses resultados apontam mais para as interpretações sobre o funcionamento dos centros de triagem ou sobre as equipes médicas de diferentes estados, localizados em diferentes áreas culturais e, a maneira como apreendem o autismo, conclui o LA Times. Em suma, é a abordagem clínica que é aleatória. Ou seja. E que traduzem essas incoerências?

Autismo: o sintoma da psiquiatria dos EUA
Mais amplamente, na imprensa científica, as causas biológicas do autismo ainda não estão claras. Esta não é, contudo, por falha de  publicação. Os 34000 textos científicos portam a menção "autismo", transmitido desde 1943, data da descoberta da síndrome, a metade é datada após 20082, e uma grande proporção das publicações procura encontrar as causas genéticas e ambientais. Mas o que é digno de nota é o baixo número de publicações sobre o funcionamento da função cerebral. E isto nos diz de modo mais geral sobre o estado da investigação psiquiátrica nos EUA. Os sintomas, como sabemos, são a prioridade da abordagem do DSM. O crescimento exponencial dos distúrbios nas edições sucessivas  do manual o atestam. Para o autismo, passamos de uma sindrome autistica ao conceito de espectro da sindrome autistica com o DSM 5, o que nos permite constatar essa síndrome.
Neste contexto, Thomas Insel, diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental é o primeiro a querer uma ruptura com o DSM . Ele anunciou pela primeira vez em maio de 2013 o seu desejo de não mais utilizá-lo e  de propor outro manual de psiquiatria e vai mais longe em seu blog, de fevereiro de 2014. Ele ataca hoje a pesquisa e denuncia a atitude de pesquisadores que se concentram apenas nos sintomas e nos tratamentos que respondem a eles . Além disso, ele enfatiza que ninguém tenta entender os mecanismos biológicos que lhes estão subjacentes . Os ensaios clínicos medicamentosos deveriam ser usados para entender como o cérebro funciona, e não apenas para validar uma hipótese inicial, sobre a eficácia de uma molécula em um transtorno. Assim mesmo, os ensaios com  resultados negativos devem ser utilizados – pois eles não são, atualmente, jamais publicados. Se , por exemplo, convier continuar estudando um ensaio clínico, mesmo quando os resultados não validam a hipótese inicial. Ele, propõe, portanto, em seu blog , "seguir uma abordagem médica experimental em que cada intervenção  não só serve como um tratamento em potencial , mas para produzir informações sobre os mecanismos subjacentes aos distúbios." 3 A revista Nature corrobora seus propósitos e indica , de fato, que atualmente, apenas os efeitos dos medicamentos, estão sendo estudados , ignorando totalmente os mecanismos biológicos em ação.4

Um exemplo: do Sluggish Cognitive Tempo
A imprensa dá agora um exemplo, entre outros. Uma nova síndrome do transtorno de atenção, o Déficit de Atenção e a Desordem Hiperativa  (TDAH) , foi anunciada pelo New York Times ao qual informou que o The Journal of Abnormal Child Psychology dedicou um recorde de cem páginas em sua edição de janeiro, ao que é chamado de Sluggish Cognitive Tempo (SCT)- ou literalmente de letargia cognitiva - que é composto de sintomas de processamento mais lento de informações, de letargia, e de sonhos diurnos. O TDAH é o primeiro diagnóstico de transtorno psiquiátrico em crianças , e a segunda afecção infantil  depois da asma , pois com o SCT  temos mais de 2 milhões de crianças afetadas. Isto é um acontecimento , e o jornal não se deixa enganar . Em seu artigo " A idéia de um novo distúrbio da atenção estimula a pesquisa e a polémica" 5 (« L'idée d'un nouveau trouble de l'attention stimule la recherche, et la polémique »), o jornalista Alan Scharwz do New York Times informa que a pesquisa é realizada em conjunto com o laboratório Eli Lilly e com o Dr. Barkley pesquisador em  psicologia pela Universidade de Medicina da Carolina do Sul , especialista neste novo distúrbio. Do qual  tenta que seja reconhecido desde os anos 80 . Mas ele afirma hoje que "é um novo transtorno de déficit de atenção", e que ele mesmo criou uma página da Wikipedia para a ocasião. Em novembro de 2013, o Journal of Child and Adolescent Psychopharmacology já publicou um estudo supervisionado pelos laboratórios Lilly : Eles anunciam " O primeiro estudo relatando os efeitos significativos de outros medicamentos para o  SCT ", especialmente com o medicamento Strattera (Eli Lilly). O Dr. Barkley conclui assim que o SCT é a " nova síndrome reconhecida" . O The New York Times entrou no site propublica.org.6, que é um motor de busca sobre os laços financeiros entre os médicos e os laboratórios farmacêuticos ( " Dólares para os médicos " ) , e descobriu , digitando o nome do Dr. Barkley, que tem laços financieros estreitos com a Eli Lilly : de quem recebeu 118 mil dólares entre 2009 e 2012.


Então, é toda esta maquinaria que Thomas Insel pretende suprimir. Em Lacan Quotidien 319, Éric Laurent denominou esta mudança de paradigma de "fim de uma era." Parece que estamos de fato nisso . No entanto, "(...) Os esforços para mudar os médicos no seu sistema de pensamento, não é recente", escreveu ele. "Desde S.E. Hyman, todos os diretores NIHM mantiveram a sua orientação para fazer mudar o princípio organizador das classificações e nisso introduzir mais  ciência e menos consideração pelos  sintomas" .7 O mesmo se aplica a obrigação de divulgar os conflitos de interesse entre os pesquisadores e os laboratórios.
Finalmente, podemos concluir que a psiquiatria americana não tem paradoxalmente jamais realmente se interessado pelo funcionamento do cérebro. "We've all been burnt badly by treating the brain as a black box" ("Todos nós temos sido queimados maltratando o cérebro como uma caixa preta"), lança o neurologista Wakter Koroshetz, diretor do National Institute of Neurological Disorders and Stroke (um ramo do NIMH) na mesma edição da Nature citado acima. Mas a caixa-preta, não é uma expressão dos comportamentalistas? Não é isso também o que sempre buscamos, após um acidente?



 Centers for Disease Control and Prevention, http://www.cdc.gov/ncbddd/autism/data.html
2 Zarembo A., « Still rising: 1 in 68 kids has an autism spectrum disorder, CDC says »in Los Angeles Times, March 27, 2014, disponible sur internet http://www.latimes.com/science/sciencenow/la-sci-sn-autism-prevalence-cdc-20140327,0,2274205.story
3 Wang S., « How to Think About the Risk of Autism », The New York Times, March 29, 2014, disponible sur internet :http://www.nytimes.com/2014/03/30/opinion/sunday/how-to-think-about-the-risk-of-autism.html?src=me&module=Ribbon&version=origin&region=Header&action=click&contentCollection=Most%20Emailed&pgtype=Blogs&_r=3
4 Reardon S., « NIH rethinks psychiatry trials », in Nature, March 14, 2014. Disponible sur internet : http://www.nature.com/news/nih-rethinks-psychiatry-trials-1.14877
5 Scharwz A., « Idea of a new ADHD spurs research, and debat », The New York Times, April 11, 2014, disponible sur internet : http://www.nytimes.com/2014/04/12/health/idea-of-new-attention-disorder-spurs-research-and-debate.html?_r=1
6http://projects.propublica.org/docdollars/search?utf8=_&term=barkley&state%5Bid%5D=41&company%5Bid%5D=&period%5B%5D=&services%5B%5D=

LIDO HOJE
por François Regnault

10 de maio de 2014
Leia no Le Monde de 08 de maio de 2014 o artigo de François Hollande , o dia em que se comemora a Vitória.
  "... Outros simplesmente querem desconstruir a Europa. Quebrando todos ou em parte os compromissos, rasgar os tratados, restaurar os direitos da alfândega e as cabines da polícia das fronteiras. Cortar-se não da Europa, mas do mundo. Aqueles que se dizem patriotas, não acreditam mais na França. Mas, sair da Europa, é sair da História. "
Cortar-se do mundo, sair da História. Curioso como a palavra " História"  tornou-se rara!
Duas questões sobre a história: 1. A Europa ainda está na História?
2. Há ainda a História? Duvidamos disso desde Hegel relido por Kojève.
Duas perguntas sobre o mundo. Que Holanda não conclue: "Sair da Europa é sair do mundo?" De fato: 1. Podemos sair do mundo? 2. Além disso: há somente um mundo? Esta é uma idéia alter-mundialista: querer um mundo diferente deste, que, portanto, existe!

            Reli o capítulo  XVII de São João :
"E o mundo os odiou, / porque eles não são do mundo, / como eu, eu não sou do mundo. "
"Eu não te pedi para os retirar do mundo, / mas para guardá-los do Mal. "
(Variações indicada pela Bíblia de Jerusalem . "De os preservar do mal")
11 de maio de 2014
Leia no número 700 do Caderno do cinema , Maio de 2014. Os cadernos nasceram em abril 1951 !
Para o seu No. 700, Les Cahiers propuseram aos 140 cineastas , atores , escritores, etc. responder através de texto, foto ou comentário a uma pergunta sobre " uma emoção que  te tocou  e qual o momento do filme ( gesto , situação dramática , junção entre duas cenas ... ) que provocou isso."
Aqui  o começo e o fim da resposta de Martin Scorsese :
"O fim do Cidadão Kane [ o filme de Orson Welles ] - não a última imagem sobre a tela No Trespassing imobilizado no fechamento, mas sim, a revelação de Rosebud - é um dos mais famosos momentos de cinema . Foi comentado infinitamente , nós escrevemos sobre ele, e ele foi parodiado . Eu sei de cor . E ainda assim ele sempre me tocou . Sempre que vejo o trenó lançado ao fogo , um arrepio percorre a minha espinha. De certa forma, este é um efeito de estrutura. Nós ouvimos a palavra "rosebud ", repetida ao longo do filme , mas a partir de um momento em que somos então absorvidos pelos detalhes da vida de Kane e por seu sentimento de perda ,  Rosebud torna-se secundário, como um mero pretexto . [ ...] Assustador . Perturbador. E emocionante , porque o filme aponta de maneira poderosa a a maneira na qual, passamos a vida , e como nós nos cercamos de mundos construídos com objetos, de mundos que deixem de existir , uma vez que partimos. "
Ilustração acima: o trenó em Cidadão Kane,  o filme de Orson Welles .

12 maio de  2014
Leia o título do Monde (de 13de  maio): « Os ocidentais submergidos pela nova arte da guerra de Putine »
Duas perguntas: há ainda  uma "arte da guerra? ". Se assim for, pode haver agora, uma nova? O autor do artigo, Nathalie Guibert, cita Janis Berzins, da Academia nacional de defesa da Letónia: "Os russos têm colocado a ideia de influência no coração do seu planejamento operacional. [...] A visão russa da guerra moderna é baseada na idéia de que o principal espaço da batalha está na mente e, como consequência, as guerras da nova geração são dominadas por informação e pela ação psicológica. "
            Portanto, ler a Arte da Guerra de Sun Tse (século IV aC).: "Assim, sem fazer batalhas, tente ser vitorioso [...] Os grandes generais tiveram sucesso desvendando todas as estratégias do inimigo, abortando os seus projetos, semeando a discórdia entre seus defensores, ainda segurando em suspense, privando a ajuda externa pode receber e removendo qualquer possibilidade de realizar nada pode ser vantajoso para ele. "[Sun Tse, A Arte da Guerra, o artigo III: deve ser fornecido antes da luta.]
            En contrapartida, leia esta Maxima de Napoleão: "A arte da guerra é uma arte simples e de fácil execução; não tem nada de vago; tudo nisso é de bom senso, nada nisso é ideologia. " [Napoleão, Pensamentos políticos e sociais, como fazer a guerra ...]
Leia além disso: "Nós tomamos o sul da Ucrânia e em particular a Criméia, e nós faremos uma colônia exclusivamente alemã. Não haverá nada de mal em expulsar a população que se encontra lá atualmente. "[Adolf Hitler, 27 de julho de 1941, Hitler Tischgespräche, Athenaum-Verlag, Bonn, 1951]
(Fontes: Gérard Chaliand, Anthologie mondiale de la stratégie, Bouquins/ Robert Laffont, 1990. Pages 286, 787, 1217.)

O Presidente Vladimir Poutine,  em 18 de abril de 2014

13 de maio de 2014
Leia pela primeira vez, a revista sobre o filme No. 447 , em maio de 2014: Adeus à linguagem.
Adeus à linguagem,  é o título do próximo filme de Jean -Luc Godard :
" Godard não tinha feito a viagem à Cannes em 2010 para a apresentação do Filme Socialismo por causa do problema de tipo grego ( leia-se: ele estava sem dinheiro ) . Ele prometeu que iria estar lá este ano. [ ...] A priori tão crítica como de costume , Adieu au langage  foi filmado ao longo de um período de mais de dois anos , o gênio suíço de 83 primaveras, já não filma mais do que dois dias por semana. E está será a questão no encontro entre um homem e uma mulher, do amor ,do cinema, do tempo que passa e de um  cão dotado de palavras. Atenção Spoiler(revelações de fatos importantes do filme), assinado pelo próprio JLG: "Aquilo acabará em latidos e gritos de bebê." Ah , e é em 3D. "
Basicamente, não está bem perto do último Lacan: que colocou em causa a supremacia do significante, e a topologia do simbólico, do imaginário… e do real? Salvo que a estrutura em «relevo» (em 3D) não parece borromeana!
 

Lacan Cotidiano
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