6 de abril de 2014

EBP-A Grande Conversação da Escola Una - Philippe Hellebois








A Grande Conversação da Escola Una 
Flashes


Histórias belgas em psicanálise
Philippe Hellebois


Nenhuma inquietação me era estranha, mas fiquei particularmente tocado  por aquela manifestada por meu amigo Antonio Di Ciaccia em um Flash precedente. Será que ele não temia que o estatuto concedido à psicanálise pela lei belga sobre as psicoterapias – é explicitamente estipulado que a psicanálise não decorre delas – acabasse por ser uma vitória de Pirro? Não correríamos o risco de ser excluídos dos dispensários, dos hospitais, das escolas, em suma, da civilização, e isolados em nossos consultórios privados como em uma reserva natural?
O que dizer senão retomar o célebre « Não tenham medo!» de João-Paulo II, sem por isso cair na homilia, e relembrar brevemente a diferença das situações italiana e belga? Nossos colegas transalpinos se encontram, há agora vinte e cinco anos, diante de uma maneira de diktat reduzindo a psicanálise à psicoterapia, e não tiveram outra solução senão aceitar o que o senador Ossicini, na origem da lei, lhes concedeu, ou seja, a responsabilidade de um dos centros de formação na referida psicoterapia. Cabia-lhes, em seguida, ir mais longe para fazer existir a psicanálise lacaniana, sabendo bem, como Jacques-Alain Miller o enfatizou mais de uma vez, que nenhuma lei sobre a formação do clínico jamais seria tão exigente quanto nós. Para rir com Antonio da metáfora conjugal maliciosamente pinçada por ele - « A Itália e sua lei sobre as psicoterapias festejam suas bodas de prata » –, diríamos que se a psicanálise casou com a psicoterapia foi para melhor enganá-la. O estatuto, isto é a salvação, da psicanálise, sua extimidade, era assim alcançada em uma estrutura no mais além.
Na Bélgica, as coisas se anunciaram de maneira diferente, uma vez que o casamento era também obrigatório, mas sem dote, não estando os políticos em condição, por diversas razões, de nos dar seja lá o que for. Isso caia bem, pois permite a um comando de colegas decididos, conduzidos notadamente por uma mulher, obter um resultado inesperado e inaudito, a saber, que a psicanálise seja legalmente considerada como diferente de uma psicoterapia – ainda que sob o modo barroco de um reconhecimento negativo, o que é, sem dúvida, único no mundo! Que a análise leiga esteja salva – pequeno detalhe, muitos de nós, entre os quais muitos AE, não são nem psicólogos, nem psiquiatras...! -, isso não faz de Bruxelas o paraíso terrestre. Com efeito, um próximo front se abrirá muito rapidamente em torno da questão da formação dos psicoterapeutas legalizados, dos quais uma parte é qualificada como de orientação analítica na lei. O mesmo comando deverá, então, definir e instaurar uma nova estratégia para que o adjetivo analítico seja algo diferente de decorativo. Se já temos um instituto de formação sob a forma de Seção Clínica, resta saber como ele poderá se articular com as universidades que, nessa área como em outras, quererão evidentemente se apropriar da parte do leão. Não se tratará, como em Roma, de fazer viver a psicanálise apesar da psicoterapia, mas de instilar nesta última um desejo que só pode subvertê-la, ou seja, o de junta-se a nós. Conseguiremos nos tornar os êxtimos da psicoterapia à maneira belga? Talvez! Temos um encontro marcado para a próxima regulamentação, a saber, como diz Antonio, dentro de vinte e cinco anos, em 2039.

Tradução: Vera Avellar Ribeiro 


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