N° 05
«A volta será lacaniana também em Belmopan » - Lacan Cotidiano, 25 agosto 2011
LACAN COTIDIANO
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«Le Monde de Livres e nós», por Lilia Mahjoub
Schneider e Patachón Valdés: dois casos raros
Clotilde à escuta de France Culture
SÁBADO, 27 DE AGOSTO DE 2011
15H 25 [GMT + 1]
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Uma mentira de Freud?
Nótula sobre o artigo «Uber den Gegensinn der Urworte»
por Armand Zaloszyc
Eis então um artigo “Sentidos opostos das palavras primitivas” (1910), onde Freud pensa encontrar nos trabalhos do linguista Karl Abel, a confirmação da concepção segundo a qual “a expressão do pensamento no sonho [teria] um caráter regressivo, arcaico.” É “por acaso” nos diz Freud, que ele leu este “Gegensinn der Urworte” publicado em 1884 – uma afirmação, que de sua parte, há do que se surpreender: um acaso? Talvez, mas que não é sem ser chamado por uma necessidade. De qual tipo de necessidade se trata? Deixo por um momento a questão em suspenso, mas é claro que, uma vez lidos os textos, trata-se neste caso da questão decisiva, ou seja, a questão que decide sobre a própria existência deste pequeno texto de Freud, de seu lugar no contexto teórico da psicanálise.
Não há como não ficarmos mais surpresos ainda, ao ler a nota que Freud acrescenta a este respeito na sua interpretação dos Sonhos (G.W., p. 223) onde ele escreve: “encontrei em um trabalho de K.Abel [...] um fato, surpreendente para mim, mas confirmado por outros linguistas [...]”. Ora, Benveniste assegura-nos, que nenhum linguista classificado, nem na época que Abel escrevia (já existiam em 1884), nem desde então, conseguiu reter este Gegensinn der Urwote, nem com relação ao seu método, nem quanto às suas conclusões. E então? Seria isto uma mentira de Freud?
Foi em um texto de 1956, publicado no número 1 da revista A psicanálise, e retomado em Problemas de linguística geral, intitulado “Observações sobre a função da linguagem na descoberta freudiana” que Benveniste empreende uma crítica, do ponto de vista da linguística, do estudo de Karl Abel sobre os sentidos opostos das palavras primitivas. Ele conduz esta crítica pelo detalhe, retomando a maior parte dos exemplos citados por Freud, para concluir que não podermos conceder nenhum “crédito às especulações etimológicas de Karl Abel que seduziram Freud.”
Mas, vamos nos deter à surpreendente construção do artigo de Freud. Ele cita, primeiramente, “como introdução”, uma passagem de suaInterpretação dos sonhos onde ele “expõe uma observação decorrente da pesquisa analítica que ainda não encontrou explicação: “A maneira pela qual o sonho exprime as categorias da oposição e da contradição é particularmente impressionante: ele não as exprime, ele parece ignorar o “não”. Ele extrapola ao reunir os contrários e a representá-los em um só objeto. Ele representa também, com freqüência, um elemento qualquer pelo seu contrário, de maneira que não se possa saber se um elemento do sonho, suscetível de contradição, trai um conteúdo positivo ou negativo no pensamento do sonho.” E Freud acrescenta então que foi ao ler, “por acaso”, a obra de Karl Abel que ele foi “levado a compreender esta singular tendência que possui a elaboração dos sonhos.” Depois disso, todo o artigo consiste em longas citações textuais das visões de Karl Abel até o momento de concluir à concordância do que se passa no sonho e do que se passa na “evolução da linguagem“.
O que resta desta concordância, uma vez levantado o discurso dos “linguistas qualificados”? A “retificação magistral trazida à falsa via, como diz Lacan, onde Freud introduzia a questão no terreno filosófico” nos intimida a simplesmente abandoná-la, como um erro em relação à verdade qualificada, quer dizer a verdade que podemos aqui qualificar de racional ?
Pode-se imaginar Freud (1910) aventurando-se nas exposições arriscadas de um linguista equívoco. Mas não é exatamente o contrário que acontece? Freud qualificando, confirmando, como ele pode, da ciência filosófica, já antiga, esta ainda audaciosa – para muitos – teoria psicanalítica. Ora, sobre o que é que ele encontra confirmação em Karl Abel? Daquilo que ele faz surgir como lógica do equívoco do significante. Mas isto na forma mistificada da anterioridade histórica, do estado arcaico ou primitivo, do mecanismo pré-formado, do estado regressivo, aí onde o originário é precisamente o modo de funcionamento da estrutura.
Mistificação que é propriamente ligada ao dispositivo teórico dominante, no terreno onde Freud polemiza, onde a psicanálise deve retomar e voltar contra esta racionalidade dominante, as armas que esta havia forjado a seu uso exclusivo e onde, desde então, o sonho, o ato falho, as diferentes formações do inconsciente só podem aparecer (visto que de toda maneira “isto não impede de existir”) em posição dominada: como mecanismo monótono, e, para citar uma expressão de Lacan, «alçado das profundezas, […] primitivo e que teria que se elevar ao nível superior do consciente», ou de uma racionalidade universal. Pode-se então retificar a apresentação do artigo de Freud: não, não é mentira, mas sonho, onde se finalizaria, deformado, o desejo de Freud, que será necessário bem interpretar. Não é a filosofia de Karl Abel que explica a teoria de Freud, mas a teoria de Freud que descobre a verdade das «especulações filológicas» de Karl Abel, e de Freud propriamente.
O PERCURSO DE UM SIGNIFICANTE por Jacques-Alain Miller
A linha final deste texto indicava « Strasbourg, 1975». Ela atiçou a minha curiosidade, e pedi ao autor que precisasse o percurso deste texto. Parece então que ele surgiu de uma exposição feita, sem projeto de publicação, no seminário mensal do professor René Ebtinger, e que ele foi redigido a pedido de nosso saudoso colega Christian Dumoulin, que o publicou no Les Feuillets psychiatriques de Liège, que ele dirigiu, pequeno boletim bastante confidencial. «Passei os últimos dias no meio da poeira, arrumando velhos documentos, me escreve Zaloszyc, e caiu-me às mãos este velho discurso. Então uma descoberta, contingente, e mesmo duplamente, triplamente contingente – com o meu texto da jornada Uforca em Montpellier, e com aquele das Jornadas de outubro da Escola da Causa Freudiana, que abordam uma questão de interesse super atual: a da relação entre o equívoco e o que ela pode tocar do real, como excluído do sentido. Além do mais, há a divertida ligação entre esta questão e a idéia de uma mentira de Freud, bem Livro Noir, e outros. Eis aqui, o que fez com que, ao seu imprevisto pedido, eu respondesse que acabara de me cair nas mãos este velho texto. Mas foi você que acabou por aceitá-lo como conveniente, e depois há também as suas razões.»
E elas são simples: parece que este texto foi escrito nos dias de hoje; o estilo é transparente; ele aborda com leveza e em bom francês e de uma maneira divertida, questões atuais e profundas. Estou mais do que cansado, de ter que me enfiar em um meio analítico de coisas totalmente incompreensíveis. Prestei-me a esta onda de verborragias, se posso assim dizer, mas temos que mudar.
Enquanto que nós, qualificados, nos fechamos em discursos ininteligíveis, são os nulos que ocupam as mídias, que correm as livrarias e contam disparates e ainda mais sobre Lacan, sem a mínima vergonha. Sempre evitei as mídias, não por desprezo (desde que aprendi a ler, eu não queria ser nem bombeiro, nem médico, mas jornalista do jornal diário e é por isto que eu sou imbatível no exercício), mas porque eu imaginava que haveria um trabalho diferente a fazer, discreto: com meus pacientes, com os meus cursos, com os seminários de Lacan.
Por mais dóceis que sejamos, é só no momento que você se dá conta que os outros decidiram enterrar você vivo, como em Kill Bill, que eles decidiram persuadir o mundo de que você não existe, de cercá-lo com uma armadilha invisível, e de encerrá-lo em seu quarto como a gata borralheira, afim de festejar sem você um homem que você amou e admirou e uma obra à qual você dedicou toda sua vida, enquanto que eles não pararam de sujá-lo e de travestir a sua obra, bom, somente aí é que você resolve que é muito arriscado dar de ombros diante de tanta imprudência e idiotice, ficando lá mergulhado em seus livros, inteiramente voltado ao seu trabalho de beneditino. E depois chega uma hora que simplesmente, aqueles que amam você e que estão ao seu redor, não suportam mais. Entre eles, Judith, minha mulher, sua filha. Então preparei a carruagem. Dirigi-me junto a Janus. Eu adoro este momento, e conheci vários em minha vida, quando, desaparecido, dissipado no ar, eu me concentro e salto em um palco onde eu não era aguardado, posto que nem eu mesmo esperava estar lá. Recalcado, vocês me têm, meus bons amigos. É perfeito. E vocês terão que vivenciar o retorno do recalcado. E eu tomarei mais que uma forma. O branco sob o artigo de Zaloszyc está preenchido.❤
EDITORIAL
O PONTO SOBRE O “O” por Lilia Mahjoub
Eu retorno àquele quadro no rodapé da página 7 do Monde des livres de quinta-feira última. É um quadro que não se parece com nada, mas olhando atentamente, quero dizer, lendo atentamente, simplesmente, ele volta a ser aquilo que ele é: um quadro no charco, no pantanal do Monde des Livres.
«A volta será lacaniana», diz o quadro, slogan que ressoa hoje até o fim do mundo. A frase continua: “Além da publicação do seminário (Livre XIX, …ou pior - Editora Seuil) e das conferências da capela do hospital Sainte‐Anne (Eu falo com as paredes - Editora Seuil), nossa colaboradora Elisabeth Roudinesco assina um Lacan apesar de tudo (Editora Seuil)”. Gramaticalmente, a frase não é ambígua: o mesmo grupo nominal assina a publicação dos dois livros, e do terceiro.
O que é que faz com que o acontecimento desta volta, renda-lhe a qualificação de lacaniana? Nós sabemos: são os trinta anos da morte de Lacan, e a publicação de dois livros que o tem como autor na capa. No entanto, no mesmo momento em que se decreta esta volta “lacaniana”, o próprio nome deste mesmo Lacan, só aparece como tal no título de uma obra que lhe é dedicada.
O advérbio “Além“, em “Além do seminário…“, equivale a dizer que o seminário é evidente; no Monde des livres, não há nome de autor, ele não é redigido por ninguém, mesmo considerando que sua edição tenha sido durante décadas objeto de resenhas venenosas e invariavelmente no Monde des Livres. Já não se trata mais de atacar a edição ou o editor (por que?). Só então percebemos que tudo deve desaparecer: Lacan e principalmente aquele que ele encarregou de redigir o seu ensinamento oral, e que teve que aguentar durante anos a perseguição constante da pessoa que justamente a gramática da frase coloca no lugar de todo o mundo.
Resumindo, Jacques-Alain Miller estava no centro do debate quando se tratava de denegri-lo e de desencorajá-lo. Dado que ele resistiu e que não se trata mais disso (por que?), então ele tem que desaparecer sem deixar traços.
O leitor prudente terá corrigido, mas e o leitor comum, culto não duvidemos disso, visto que ele lê o Monde des livres, o que terá ele aprendido? A quem atribuirá ele a publicação dos Seminários e das Conferências? Terão eles crescido em árvores? Caído do céu?
A frase continua: “… e o linguista Jean‐Claude Milner […]“. Este nome de um amigo de quem Jacques-Alain Miller é próximo, é aqui levado a introduzir uma ambiguidade semântica, embaralhar as cartas, primeiro porque esta construção deixa entender que o «linguista» (que é isso, mas também muitas outras coisas) é de agora em diante do partido daqueles que apagam o nome de Jacques-Alain Miller. É injuriar Jean-Claude Milner.
No conjunto desse quadro, dois nomes de autor são então citados, em tudo e para tudo, para os cinco livros mencionados. Com efeito, junta-se um anônimo, O inconsciente no paraíso da Editora Payot, à qual o anônimo autor do quadro sugere recorrer «caso a voz de Lacan continue a parecer impenetrável». Eles não conseguem evitar, não é mesmo?
A voz de Lacan não é, de maneira nenhuma, impenetrável, uma vez que é justamente a partir dela, de seu registro, que o texto dos seminários e das conferências vem a ser estabelecido, publicado, lido, traduzido em várias línguas, e que se transformou, a despeito desta cambada, em uma via desprovida de religiosidade, para psicanalistas cada vez mais numerosos através do mundo. Ele é também para a cultura em geral uma referência que não se apagará.
O fato de que para alguns esta via esteja congestionada, me parece de fato ater-se a esta confusão entre um x e um e. O estabelecimento dos seminários é um trabalho cuja matéria prima é a língua, um trabalho de autor de co-autor, que escreve estes seminários e conferências inicialmente falados. Mas quem os escreve? Onde foi parar o seu nome? Por que o nome de Jacques-Alain Miller foi apagado, ignorado, deixado de fora, como se ele não existisse?
Vejamos! Um nome apagado, não é uma coisa insignificante. Além de todos os nomes a respeito dos quais se poderia qualificar tal censura, é grave. É a desinformação, para não falar da desonestidade intelectual.
E quem trabalha neste sentido? É o mesmo Monde des livres que se vangloria de uma renovação de suas páginas, de suas rubricas, de seu tom.
A volta é lacaniana, sabe-se disto.
Sabe-se em Paris, Toulouse, Bordeaux, Nantes, Rennes, Nice, Lyon, Strasbourg, Ré, em Buenos Aires e em Nova York, em Tel Aviv e em Roma. Graças a Jacques-Alain Miller e à sua rede internacional de envergadura, sabe-se em Belize, em Sottwill, em Tunakatrâbyïé, eu me abstenho.
O newsletter on line LACAN COTIDIANO atesta isto a cada dia e de todas as maneiras.
O seminário XIX, ... ou pior, não poderia calhar melhor. – Les Portes-en-Ré, neste 26 de Agost
O diabo está aí! PORQUE LACAN
O Diabo provavelmente (Verdier) trará o seu so parisian touch a esta volta com o seu número Porque Lacan, que mobilizou a sua fina equipe durante as últimas semanas. Sob a batuta de Deborah Gutermann-Jacquet e de Benoît Delarue, que são os chefes redatores, este Diabo foi feito entusiasmadamente, a 100 por hora, com uma competência que lhe é própria. Ele deu o melhor de si mesmo. Aqui encontramos os habituais redatores da revista. E como guest stars: Eliette Abécassis, Agnès Aflalo, Roland Castro, François Cheng, Catherine Clément, Benoit Jacquot, Pierre Michon, Judith Miller,Jean‐Claude Milner, François Regnault, Philippe Sollers, e ainda Bertrand Lavier, Jean‐Pierre Raynaud, Jean-Michel Othoniel, ou ainda Pablo Reinoso e Kimiko, e Jacques-Alain Miller. Número especial
O CASO MICHEL SCHNEIDER
A PELE DO LEÃO por Pierre Ebtinger
O artigo de Michel Schneider sobre Lacan seria digno de um debate com a condição que ele o tivesse arrematado. Não é que ele tenha que se calar, mas que ele enuncie a sua tese, que ele arremate o processo de significação que ele abre a cada passo. Disto, nem sinal. Sobram alusões, mas o autor se esquiva a partir do momento que se trata de dizer a verdade. O que sobra de Lacan? Questiona Michel Schneider. Mas o que resta de Michel Schneider ao fim de seu artigo?
Essencialmente um lugar vazio ali onde se esperava encontrar um autor, um lugar vazio sobre o qual sopra o vento deletério da alusão. Sobre Lacan, ele escreve que alguns diziam que ele era louco, mas ele, o que diz ele? Sobre Lacan, ele deixa entender que ele suscitava um amor louco, que alguns estariam mortos, mas com relação a estes rumores batidos, ele, o que diz ele? Esta fuga anima todo o seu texto, atravessado pela recusa, a recusa da palavra de Lacan, a recusa de Lacan como autor. Após a alusão e a recusa, vem ao final a máscara de uma mulher sustentando propósitos sobre o amor.
Ao abrigo desta máscara, uma alusão ainda em um paralelo duvidoso que deixa entender que tanto no amor como na psicanálise, fazem mais aqueles que falam menos. Mas evidentemente, isto não é dito.
Não será então possível retorquir que é um pouco cedo, principalmente para assentar uma posição crítica. De toda forma, pouco importa, uma vez que o essencial não está lá. O essencial está na demonstração que nos faz Michel Schneider de seu desembaraço no país das máscaras, da recusa e da alusão, demonstração que, no entanto, esconde mal a pele que ele ambiciona.
EU, O ABJETO por Agnès Aflalo
“Sou um falso irmão, um falso filho, um falso escritor. Eu carrego um nome falso, um pseudônimo, o nome de um pai que não era meu pai”. Estas frases são do próprio Michel Schneider. Elas são citadas no Le Nouvel Observateur por Jérôme Garcin, como extraídas de seu livro que acaba de sair, Você, o irmão, obra largamente autobiográfica. Michel Schneider diz dele mesmo, que com relação a seu irmão, ‘Eu sou o seu sobrevivente abjeto”, etc. Ler com toda urgência. Os motivos de sua raiva são bastante detalhados, a referência ao pai, às mulheres, etc.
A VENDA DOS LIVROS por Philippe Bénichou
O seminário XIX de Lacan, ...ou pior, a coletânea de três conferências-bate-papo, Eu falo com as paredes, Vida de Lacan, de Jacques-Alain Miller, assim como o último número do Diabo provavelmente, o número especial intitulado Porque Lacan, sem ponto de interrogação, como explicita o editorial, estarão disponíveis para venda no site ecf-echoppe a partir de segunda-feira, após o almoço, ou terça-feira de manhã. Nós ainda não estamos com os livros que nos serão entregues proximamente, mas nós podemos desde já colocá-los à venda no site, e enviá-los assim que os tivermos recebido. Relembro o endereço do site www.ecf‐echoppe.com
www.ecf‐echoppe.com
PATACHON VALDES,
UM CASO
CARTA A MEU COLEGA BELIZEEN por Jean-Pierre Klotz
Para mim que viajo no sintoma americano, inesgotável e certamente lacanisável (é a minha aposta) é uma alegria e uma surpresa apaixonante descobrir no coração – que estou eu dizendo? À mediação internacional da volta lacaniana, um eminente pertencente à ex-Honduras britânica, país que eu contemplava faz alguns anos com ambição quando de uma passagem a Cozumel, ao largo de sua fronteira mexicana. Este retorno de Belize, núcleo de anglofonia mais ou menos sufocado pelo hispano, em suma um tipo de pequena Califórnia às avessas, mesmo que não se fale nunca de lá, estaria em vias de tornar-se um chamariz graças a você, que tem a perspicácia cuidadosa de não desconhecer aquilo que permite nos localizarmos melhor, em meio às desordens contemporâneas, graças a Lacan?
Pode ser que eu me iluda, e conto com você para me esclarecer sobre a Belizetude ou Belizetudes, não sei bem como dizer. No âmbito de meus estudos sobre o sintoma contemporâneo, o seu reaparecimento em nosso mundo é um acontecimento a respeito do qual eu fico admirado e confuso. Minha curiosidade está aguçada, conto com você para me esclarecer sobre a possibilidade de te visitar, você e o seu país, agora que somos colegas no LQ. - Como proceder? Estou ávido tanto de suas luzes como de suas obscuras claridades. Belize é para nós, e estou certo que uma pessoa atenta como você não ignora isso, o nome de uma mulher que não é sábia, que serve de exemplo àquelas que acreditam sê-lo: é assim que Molière audaciosamente a posicionou. Mas é ao sábio de Belize que eu me dirijo com impaciência.
Aguardo sua resposta. Até breve.
PS: Escrevo-lhe de Portland (Oregon), uma cidade “liberal” do Oeste, pouco conhecida, estranha e bela, bem sintoma americano.
O EFEITO PATACHON por Anne Poumellec
Há um efeito Patachón. É um efeito leitura-de-texto, saído de uma prática particular da língua que eu acreditava ser minha, o francês. É um efeito feliz de estranheza, que me permitiu penetrar instantaneamente línguas que estavam até o presente momento longe do meu alcance. Assim, eu pude compreender imediatamente a língua de Santanu Biswas («Journey to Y, and return to K») e a de Marco Mauas («taf, taf, nun, taf…»). É um efeito «Pentecostes», dos mais surpreendentes, que alivia.