30 de novembro de 2014

LACAN COTIDIANO. Jean-Daniel Matet, HélèneBonnaud, Vilma Coccoz.

O carnaval dos MadDays, máscara do real da loucura, por Jean-Daniel Matet


A ARS, Agência regional de Saúde de Île-de-France, associada à FNAPSY (Federação nacional das associações de usuários de psiquiatria) e à UNAFAM (União nacional de famílias e amigos de pessoas doentes e/ou deficientes psíquicos), organiza os MadDays (1), dois dias de manifestações culturais a fim «de fazer evoluir os comportamentos em relação às pessoas que são acometidas por "doenças psíquicas"». Os festivais e outras manifestações, sustentando tal ou tal causa, se generalizaram a partir do grande modelo da festa da Humanidade. No domínio sanitário, os Solidays se destacaram, depois do Téléthon e da Sidaction.

Há quinze anos, no mês de junho, o hipódromo de Longchamp acolhe osSolidays. É um encontro indispensávelde variedade musical, mas, sobretudo, um momento muito intenso de solidariedade em relação às pessoas acometidas pela AIDS. Ele chegou a reunir 170000 pessoas sensíveis a essa mescla de ação social e de divertimento musical. Há pelo menos quatro polos nessa ação:

- Ajudar: cada ano, as receitas do festival permitem financiar projetos de pesquisa e de solidariedade na França, assim como no exterior;

- Prevenir: revisar as questões inevitáveis da prevenção e da solidariedade através de animações lúdicas e didáticas;

- Mobilizar: jovens e menos jovens vêm em grande número cada ano, da França inteira, para encontrar os militantes, lhes prestar homenagem e testemunhar seu apreço profundo a uma solidariedade sem fronteiras;

- Defender: diante da virulência do flagelo, é primordial defender um acesso aos antirretrovirais interpelando governos e mídias.

Os ministérios (Comunicação, Juventude, Cultura), assim como numerosos parceiros privados, apoiam os Solidays. Esse modelo - associando os interessados atingidos pela AIDS, os militantes que defendem as medidas contra a AIDS e os profissionais, com o objetivo de levar os grandes projetos de pesquisa - se impôs. Ele modificou profundamente as relações da medicina com os doentes, assim como as relações com as tutelas. A enfatuação médica não tem mais lugar e as doenças estão associadas a projetos de pesquisa.

No mesmo esquema, os MadDays propõem nos conduzir, nos dias 10 e 11 de outubro através de circuitos artísticos para « um outro olhar sobre as doenças psíquicas » que atingiriam uma pessoa em cada 5 no curso de sua vida. A ameaça é acompanhada de uma predição da OMS: elas representarão, até o ano de 2020, a primeira causa de deficiências no mundo.

Os iniciadores dos MadDays desejam fazer dele um evento cultural, festivo e aberto a todos e solicitam o apoio financeiro das instituições culturais da Île de France mais importantes que se engajarão para colocar em foco as doenças psíquicas através de sua programação.

Mas deve-se estar satisfeito por ver que se atrai assim a atenção do público sobre os problemas da doença mental e de seus cuidados? Certamente, a ideia de cruzar os interesses artísticos e as questões ligadas aos sintomas psíquicos é excelente. A psicanálise, a arte bruta, não apostaram há cinquenta anos nos artistas enquanto que eles testemunham de sua solução quanto ao mal estar e seus sintomas, sendo o sintoma deles tomado como aquele de sua sociedade? Pode-se igualmente aprovar o projeto de associar as famílias, as associações de pacientes ou de ex-pacientes, à tentativa de lançar luz sobre o que está em jogo nessas patologias e em se encargar delas. E que a ARS esteja também concernida, isso não é surpreendente, já que ela se encarrega da psiquiatria sob todas as formas sanitárias, pública e privada, de seus estabelecimentos, mas também do setor médico-social, com um papel de controle do funcionamento e do financiamento dos estabelecimentos.

Mas muitas questões veem interrogar os termos desse apelo e sua finalidade.

Por ocasião dos Solidays, a solidariedade e os artistas são convocados para reunir fundos de apoio à pesquisa, com uma eficácia provada na descoberta de meios de luta contra os agentes virais e o desenvolvimento de campanhas muito pertinentes para vir em auxílio dos pacientes e restringir a contaminação.

Quanto aos organizadores dos MadDays, eles não buscam encontrar meios financeiros, apesar de eles fazerem profundamente falta no serviço público, mas « fazer evoluir os comportamentos em relação a pessoas que são acometidas por doenças psíquicas ». Isso é muito parece em todos os programas de humanização dos serviços públicos, como se a potência pública buscasse evitar as reprovações que poderiam ser feitas a ela quanto à carência de seus serviços.

A oposição do termo doença psíquica – que conservaria a inteligência – àquele de doença mental seria barroca se ela não recobrasse um fundo de hostilidade às práticas psiquiátricas supostas estarem a cargo das doenças mentais.

Seria necessário tomar por conta de um certo desbussolamento generalizado o fato de que as estruturas de cuidados, os cuidadores «psi» não sejam representados senão por sua instância tutelar (ARS) ? ou trata-se de uma vontade deliberada de varrê-los do mapa? A Unafam, associação das famílias, menciona os sindicatos de psiquiatras como simples parceiros nos procedimentos diante dos poderes públicos.

Os desacordos nos tratamentos e nos cuidados entre os trabalhadores psiquiátricos, as famílias e os pacientes não seriam inerentes ao tipo mesmo dos sintomas que eles tratam?Em nenhum caso esses desacordos podem se tornar pretexto para desconhecer o ponto de vista do outro. A expertise, em numerosos domínios médicos, é agora confiada àquele que não conhece a questão, pelo fato de que os conflitos de interesse são temidos. É assim que a verdade é esperada da avaliação e do próprio doente numa negação daquilo que seria sua demanda.

Que um paciente dê mais importância para seus sintomas do que para si mesmo, eis o que sempre provoca escândalo pelo fato de que ele não se submeteria ao bem que o outrolhe deseja. É aproximando da questão do sujeito dessa maneira que a psicanálise, baseada na experiência daquele que aí se submete, pode escutar a complexidade dessas situações. Não basta querer mudar as mentalidades, tal como certos psiquiatras sonharam, para tocar o real daquilo que torna você louco.

Por falta de meios humanos, por falta de estruturas adequadas para acolher os pacientes acometidos por sintomas psíquicos, pode ser tentador modificar a perspectiva sobre a loucura, confiar um pouco mais ao meio que cerca cada um o cuidado de encarar os problemas de seus próximos, até negar a pertinência de uma abordagem específica. O filme de Mariana Otero, A céu aberto, encontraria seu lugar nesses MadDays, se o projeto, como eu o temo, não fosse o de fazer esquecer o mais real daquilo que está em jogo no sintoma e que torna deficiente o paciente quanto mais o trabalho sobre o sintoma é negligenciado. Modificar os comportamentos não se improvisa e não é uma questão de opinião sobre a loucura. O real que está em jogo na obra de arte não deve servir de anteparo para essa questão essencial.



O termo de vida psíquica passou atualmente para o discurso sem que nos interroguemos sobre essa psique que se distinguiria do corpo. O fato de que o pensamento seja perturbado, nos sintomas que a abordagem neurológica é insuficiente para definir, não implica em que a psique suplante o mental enquanto que ele concerne tanto o corpo quanto o espírito daquele que se queixa disso.

Lembremo-nos da função dos carnavais nas sociedades da idade média, mas não apostemos que os regozijos públicos, mesmo que eles sejam « dias de loucura », tratem sem o esforço de levar em conta o real pela palavra os sintomas que tocam ao laço social.




Casais e GPA

Uma família para todos, a crônica de HélèneBonnaud

Se a atualidade em torno da família não cessa de se ampliar desde setembro, o nascimento das crianças por GPA (Gestação por outrem) continua a produzir efeitos negativos na classe política que, entretanto, votou a lei a favor do casamento homossexual.

Com efeito, o casamento entre pessoas do mesmo sexo introduz imediatamente a questão da procriação. Os casais de mulheres e os casais de homens querem cada vez mais fundar uma família, e a criança é o objeto essencial, primordial para realizá-la. Nesse sentido, o casamento homossexual era a primeira etapa em direção a esse processo de normalização dos casais homossexuais diante dos casais heterossexuais. Esses efeitos negativos podem ser interpretados como um recuo ligado ao modo pelo qual os partidários do « Casamento para todos »[1], que se reuniram na rua no domingo, 5 de outubro, em Paris e em Bordeaux, para dizer do seu descontentamento quanto à política da família atual e a questão da GPA, e têm peso na vida política.

Ora, Manuel Vals acaba de declarar, numa entrevista ao jornal La Croix, que a GPA é proibida na França. Isso deveria encerrar o debate ou, pelo menos lhe opor uma certa reserva. O primeiro ministro pretende mesmo, fazer nas próximas semanas, « a promoção de uma iniciativa internacional que poderia desembocar, por exemplo, no fato de que os países que autorizam a GPA não concedam o benefício desse modo de procriação às pessoas que se originam de países que a proíbem ». (1) Os manifestantes deveriam se regozijar com isso. A GPA seria não apenas proibida na França, mas os franceses seriam proibidos de GPA fora da França, nos países que a praticam e a permitem, como os USA, a Grã-Bretanha, etc.

 Admitamos que essa declaração seja puramente oportunista, de tanto que parece improvável que se possa recusar, em nossa época, aos cidadãos franceses, viajar e utilizar o direito de outros países para obter essa possibilidade de ter um filho por GPA.

Isso é tão lamentável vindo de Manuel Vals que a Corte europeia dos direitos humanos condenou a França, em junho de 2014, por não ter querido dar a nacionalidade francesa a crianças nascidas por GPA nos Estados Unidos.

Libération(2) entrevistava os célebres pais Mennesson, pais de gêmeas nascidas graças a uma mãe de aluguel, que lutam há anos para que o Estado dê uma carteira de identidade francesa para suas filhas e esse direito deveria agora lhes ser acordado. Mas Manuel Vallscoloca numa posição perigosa essa obrigação, no entanto, necessária, de defesa do « interesse superior da criança». 




Pequeno passo atrás. Quando as crianças nasceram em países que permitem a GPA, suas certidões de nascimento mencionam simplesmente os nomes das duas pessoas que formam o casal que recorreu a esse método. Ora, os opositores à GPA exigem que se recorte a filiação em função do biológico.Se o esperma do pai biológico está na origem da concepção da criança, ele será reconhecido como pai, mas a mãe que não forneceu seu óvulo deverá adotar a criança. Tudo se complica, portanto, quando se busca a prova da paternidade e da maternidade das crianças. Haverá frequentemente um pai biológico e um pai adotivo, - o que poderá ser uma verdadeira dilaceração no caso de separação e de novo fazer do pai adotivo um sub-pai, enquanto que, há muitos anos, considera-se a adoção como uma parentalidade com plenos direitos. Então por que, subitamente, querer diferenciar o pai biológico do pai adotivo? Trata-se simplesmente de utilizar o real da biologia como um argumento em desfavor do reconhecimento dos filhos nascidos fora do enquadramento estrito das relações heterossexuais. Os avanços da ciência encontram seu limite na resposta do direito que proibiria que a certidão de nascimento reconhecesse casais homossexuais como pais, qualquer que seja a modalidade de fabricação de seu filho.

Por que o direito deveria se imiscuir nas relações de um casal casado, de um casal que decide ter um filho, e que deseja educá-lo ? As problemáticas que poderiam surgir do modo peloqual um filho foi concebido decorrem da vida privada, e ninguém pode pretender saber, atualmente, quais poderiam ser os efeitos disso. Nem mesmo a psicanálise, defendendo, sobretudo, o lugar e a função parental na estrutura familiar, pode antecipar as dificuldades próprias à procriação por GPA. Por quê? Porque os filhos nascidos de GPA são frequentemente filhos nascidos de casais desejantes e responsáveis.

Mesmo que essa abertura tenha limites e que ela não garanta os efeitos de um nascimento por procuração, ela indica, sobretudo, a potência do desejo de filho, este podendo conduzir a um excesso de amor e de proteção, mais do que à sua rejeição. Para a criança, a sexualidade e a obtenção de um filho não convergem. Ela não pode imaginar as relações sexuais entre seus pais, nem que ela é o seu produto. É um impossível. Quando ela cresce e começa a vislumbrar alguma coisa do desejo sexual no casal parental, lhe é necessário afrontar essa revelação. Numerosos sujeitos em análise testemunham o horror dessa descoberta.
Eles não querem saber que são a resultante do ato sexual de seus pais. É por isso que tudo o que concerne o real da reprodução é possivelmente traumático para a criança.
                                                                     


Durante muito tempo,temeu-se anunciar aos filhos adotivos que eles não eram filhos biológicos de seus pais; amanhã se temerá dizer-lhes que eles nasceram por GPA. O traumático não se situa na modalidade da concepção, mas no discurso que porta o traço do fato de que o sexo está concernido nele. Lacan o formula no seminário 11, quando ele indica que «o sujeito nasce no que, no campo do Outro, surge o significante». Mas ele acrescenta que a pulsão «presentifica a sexualidade no inconsciente e representa, em sua essência, a morte» e que «dessa conjunção do sujeito no campo da pulsão com o sujeito tal como ele se evoca no campo do Outro, desse esforço para se reunir, depende que haja um suporte para aganzeSexualstrebung».(3) Não há pulsão sexual total, o que Lacan escreveu com a célebre fórmula, «não há relação sexual». Isso significa que não há um gozo sexual localizado no encontro sexual. J.-A. Miller nos dá sua leitura disso: «A teoria do gozo comporta que aquilo que nos é dado de gozo, não convém à relação sexual, e é por isso que o gozo faz sinthoma. O sinthoma de Lacan é o sintoma, simplesmente é o sintoma generalizado; é o sintoma enquanto que não há pulsão sexual total; isso faz sintoma, mas é um sintoma, se posso dizer, irremediável. Por causa disso, no curso dessa série do gozo substitutivo corre uma metonímia. As maravilhosas transformações da libido que Freud pôde detalhar encontram aqui seu lugar – simplesmente, elas não se acabam, elas não se enlaçam numa totalidade unitária.» (4) 

Nada, portanto, nos permite afirmar que haja uma boa maneira de se situar diante desse gozo substitutivo. Ter um filho é uma delas. Há um gozo em realizar esse desejo. E é finalmente o de que se trata sempre para a criança, saber se ela foi ou não o fruto do desejo daqueles que a educam, cuidam, lhe falam, a amam. Para o resto, haverá belas histórias para contar como isso se realizou... o que Lacan já havia notado: « A relação sexual fica entregue ao aleatório do campo do Outro. Fica entregue às explicações que se lhes deem.» (5)

Notas:
1 : http://www.lexpress.fr/actualite/societe/famille/gpa-valls-s-oppose-a-la-reconnaissance-des-enfants-nes-de-meres-porteuses-a-l-etranger_1607578.html?xtor=RSS-3011&google_editors_picks=true
2 : «Nós chamamos para um verdadeiro debate sobre a GPA, não para uma guerra de trincheiras», Libération de segunda-feira, 29 de setembro de 2014, p. 14.
3 : Lacan J., O seminário, Livro 11, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, RJ, Jorge Zahar, 1985, p.187-188.
4 : Miller J.-A, «Choses de finesse en psychanalyse», L'orientation lacanienne, aula de 3 de  junho de 2009, inédito.
5 : Lacan J., Ibid., p. 188.


A céu aberto de Mariana Otero na Espanha, por Vilma Coccoz

No próximo dia 24 de outubro ocorrerá o lançamento nacional na Espanha do documentário A céu aberto realizado por Mariana Otero. Duas projeções em pré-estreia estão igualmente previstas: em Barcelona, no dia 16 de outubro, e em Madri, com a presença da diretora, no dia 17 de outubro (1). A bela acolhida desse filme na França, na Bélgica, na Bulgária, na Colômbia, e os elogios da crítica e do público permitem pensar que será a ocasião de participar de um verdadeiro acontecimento. Por duas razões: trata-se de uma imensa obra de arte e é também a primeira vez na história do movimento psicanalítico que uma instituição abre suas portas para uma câmera, aceitando que a vida seja filmada tal como ela ali se desenrola.









Mariana Otero queria fazer um filme sobre a loucura para compreender como aqueles chamados de « loucos » veem o mundo. Mas os lugares que ela havia visitado antes de conhecer o Courtil a condenavam a um olhar exterior. Os educadores permaneciam fora de seu alcance, estrangeiros às questões que ela formulava. O abismo era intransponível.

Com o Courtil, Mariana teve um verdadeiro encontro: ela iniciou um percurso pessoal e artístico que deu lugar a uma peça única de cinema e de psicanálise. A céu aberto é o resultado desse encontro de uma artista, impulsionada por uma interrogação tão crucial quanto íntima, com um discurso, e que compreendeu que essa instituição conduz à realização, no real, do discurso analítico de orientação lacaniana. Ali, o tratamento dessas crianças que não se inscrevem no discurso comum, por causa das exigências de seus sintomas, é tecido no cotidiano pelos interventores, num dispositivo original inventado por Antonio Di Ciaccia e que Jacques-Alain Miller qualificou de « prática feita por vários ». A prática feita por vários não é um método, nem tampouco um programa, mas uma experiência coletiva destinada a socorrer aqueles que não podem se virar sozinhos com o real da existência, com os fenômenos que invadem seus corpos, seu pensamento, suas relações com os outros.

Fazer um documentário bem sucedido em mostrar a maneira como cada uma das crianças é tratada em sua singularidade, como um enigma cuja decifração abre as portas a uma solução nova, viável graças ao apoio e ao socorro daqueles que aí intervêm, pressupunha que se filmasse de uma maneira diferente. Mariana Otero a princípio se incorporou à equipe do Courtil e quando finalmente decidiu fazer o filme, ela concebeu uma maneira de carregar a câmera de modo a fazer corpo com a câmera, a se tornar um corpo-câmera.

Ela também renunciou ao engenheiro de som, carregando ela própria o microfone. Inserida no cotidiano, sua presença se tornou familiar, seu olhar através da câmera não era mais estrangeiro para as crianças.

A céu aberto é o relato do percurso de algumas crianças na instituição durante três meses, durante os quais se percebem mudanças nos sofrimentos infantis, no ritmo das intervenções das crianças e dos adultos. Os últimos, leitores de Lacan, refletem a partir das descobertas de cada um e discutem finezas do discurso das crianças das quais eles se ocupam. Seguimos com eles seus encaminhamentos durante as reuniões de trabalho, as trocas com um analista de referência. No Courtil, a vida está aí, deseja-se saber, se inventa, se respeita a diferença.

A céu aberto é uma experiência do olhar, um outro olhar, aquele de Mariana Otero, que se vale de momentos preciosos, porque ela não filma essas crianças para mostrá-las, mas para que se possa, graças a essa mídia que ela utiliza com tato, compreender algo de sua língua privada. Cada um de nós, espectadores do filme, é convocado a acompanhar Mariana em seu percurso e participar de sua extrema delicadeza, de sua sensibilidade requintada.

Um livro essencial, ao qual se deu o mesmo título, se emparelha com o filme. Nesse livro, descobre-se, através das entrevistas com os fundadores do Courtil, como ele foi concebido, como ele é organizado, seus fundamentos teóricos e, na última parte, os detalhes da filmagem.

O dia 24 de outubro é um dia de festa para o Campo Freudiano e para todos aqueles que abordam os sofrimentos infantis com o rigor clínico necessário, fundado sobre a convicção de que uma outra maneira de tratar os sintomas e « a loucura » é possível.

Cada um de nós, com esse filme, tem a chance de se tornar o porta-voz da mensagem dessas crianças. Quem quer que se ofereça a escutá-las, se mostra disposto a aprender os signos de sua língua privada, se interessa por suas múltiplas invenções para tecer um laço social, poderá ter a medida de seus esforços para escapar da exclusão social e da segregação. 

Nós o convidamos a ver esse filme, a discuti-lo, a descobrir seus achados.E dizê-lo a todo mundo!


Tradução do espanhol: AzucenaBombín

1 : Barcelona, 16 de outubro no cinema Boliche, 20h - Madri, 17 de outubro no cinemaArtisticMetropol, 20h

Tradução: Cristina Drummond
Comunicação: Maria Cristina Maia Fernandes



[1] O movimento "Manif pour tous".
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29 de novembro de 2014

Lacan Quotidien. TOUT SUR MOMMY. Un film symptôme, par Christiane Terrisse

Dans le film Mommy de Xavier Dolan les trois protagonistes, Steve le fils, Diane « Mommy » et Kyla la voisine s’expriment en joual, mixte d’anglais, de vieux français et d’argot ; la rapidité de leur débit, l’intensité des échanges, le volume sonore des interpellations, le tout sur un fond de musique omniprésente rendent difficile l’écoute et ardue la compréhension. Le spectateur apprécie mieux alors le choix du sous-titrage des dialogues, si tant est qu’on puisse appeler dialogues les injures, invectives, ordres et contrordres qui émaillent le texte écrit par le réalisateur et interprété hyperactivité par les trois excellents acteurs de ce drame contemporain, d’une justesse clinique confondante. 
 
Préliminaire a la projection, l’annonce d’une loi en vigueur en 2015 situe ce qui va suivre comme une anticipation de ce qui nous attend dans un futur proche, l’abandon par les parents des enfants « impossibles a vivre ». Le diagnostic psychiatrique TDAH (trouble de l’attention avec hyperactivité) donne le ton majeur qui infiltre tout le film, pas d’écoute de l’autre et agitation compensatoire, exutoire a ce malentendu fondamental qui anime et epuise les unes et l’autre.
 
Chacun est enferme dans sa petite musique, dans sa bande son : qu’il s’agisse de la compilation héritée du père sur laquelle le fils danse en boucle sur son skate, de la bluette italienne qu’il tente de faire entendre dans ce karaoké qu’ils fréquentaient avant le deuil, de la chanson de Celine Dion qu’ils chantent a l’unisson et ponctuent d’un selfie, pour mémoire de ce moment d’exultation heureuse, ou du magnifique Born to die qui ferme le film en un ironique et déchirant dernier joke. Die pour princesse Diana, la mère mortelle défie la société d’un affirmatif « les sceptiques seront confondus ! » et ne cède a aucun moment sur sa jouissance de ce fils, a la fois fétichise comme un prince et ravale au rang de déchet encombrant.

L’affiche du film, mère et fils en miroir, juste une main qui fait taire ou évite le baiser de trop, annonce la couleur d’une mère-version a la limite incestueuse, jamais franchie, mais qui imprime sa marque d’intrusion, d’accusation, de surveillance réciproque du sexe de l’autre, trop réel pour être supportable.

L’insulte, dernier mot du dialogue qui vise la jouissance, irrigue le film. Die traite le chauffard d’« encule », accuse son fils d’être un « voleur », le chauffeur de taxi noir offense Die par un « bitch », Steve répond par une série de propos racistes... j’en passe !

À l’envers de cette profusion langagière, un personnage, la voisine Kyla, incarne par son bégaiement l’impossible a dire, sa présence introduit une pause dans la logorrhee ambiante et redonne au dire sa valeur d’échange, voire la possibilité du pacte de la parole. La trouvaille de cette suspension de la réponse force au silence et a l’écoute les « épars désassortis » (1) que présente le jeune cinéaste, en phase avec ses personnages et qui ne cède ni au misérabilisme sociologique, ni a l’emphase psychologique.

Au contraire, il offre un film lumineux, esthétique, dynamique, jouant sur le carre du cadre ouvert dans le bonheur ou dans le rêve, puis referme sur l’intime d’un amour qui se cherche et rate.

« Ce n’est pas parce qu’on aime quelqu’un qu’on peut le sauver », avertit dès le début une matrone avisée, mais ce n’est pas parce que la suite de la tragédie lui donne raison que les sujets déméritent dans leur volonté de faire advenir un futur que rien ne prédît, mais qu’ils persistent a espérer, a défaut de parvenir a le construire.

« L’urgence de la vie », ce sont ces moments ou s’élargit le cadre de la vision et tout l’art de ce cinema est de nous les faire entrapercevoir, le temps d’un film qui n’ignore rien de ce qui nous attend dans le monde tel qu’il est. Tout en annonçant « une extension de plus en plus dure des procès de ségrégation » (2), il la dénonce.

X. Dolan qualifie J’ai tue ma mère de film de la crise de l’adolescence, adresse a l’Autre maternel, tandis que Mommy est le film de la crise existentielle face a l’Autre qui n’existe pas. Cette vacance affecte le langage qu’il a su magnifiquement désaccorder dans cette œuvre, symptôme du temps présent. 

Notes:
1 : Lacan J., « Préface a l’édition anglaise du Séminaire XI », Autres écrits, Paris, Seuil, 2011, p. 573.
2 : Lacan J., « Proposition du 9 octobre 1967 sur le psychanalyste de l’École », Autres écrits, op. cit., p. 257.

28 de novembro de 2014

EBP: A Diretoria na Rede - Nº 16 - Novembro


  

 

 

 

 

 

   

 

 

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Neste Número:

Editorial 

  • Maria Josefina Sota Fuentes

Orientação Lacaniana

  • Editorial - Elisa Alvarenga
  • O OBJETO E O GRAFO DO DESEJO - Carmen Silvia Cervelatti
  • Seminário do Conselho da EBP-SP de 01/10/2014 - Leitura do Seminário VI – O desejo e sua interpretação, de Jacques Lacan - Lição VIII – A mensagem da "tossinha" - Maria do Carmo Dias Batista

Espaço da EBP

  • Violência e poder - Sérgio de Campos
  • La acción hace lazo - Marcelo Veras 

Territórios Lacanianos

  • Editorial - Glória Maron e Andrea Reis
  • Projeto Caput - Frederico Feu e Musso Greco

Destaque

  • VII ENAPOL - Rômulo Ferreira da Silva

Bibliô

  • Editorial - Tânia Abreu
  • Especial Lançamentos XX Encontro
    • Mirta Zbrun sobre o livro: "A formação do analista"- De Freud a Lacan.
    • Entrevista concedida por Lucíola Freitas a Laura Rubião sobre seu livro Subversos.
    • Entrevista realizada por Laura Rubião com Maria de Fátima Ferreira sobre o livro A dor moral da melancolia.
    • No Cinema com Lacan - Stela Jimenez
    • Outros Lançamentos
    • Lançamentos de Revistas das Seções e Delegações
  • Sete Lições sobre Hamlet - Continuação - Pesquisa realizada por: Mirta Zbrun (Coordenação). Clarisse Boechat; Lenita Bentes; Leonardo Scofield; Maria Aparecida Malveira; Paula Legey; Patricia Paterson
  • Bibliô Referências
    • A TRAGÉDIA DE HAMLET.  Príncipe da Dinamarca - De William Shakespeare - Apresentação - Cida Malveira

Dobradiça de Cartéis

  • Editorial - O amor e o Cartel - Cássia M. R. Guardado
  • Escrita cartelizante
    • Trabalho apresentado na Jornada de Cartéis da Seção Minas em 23 de maio de 2014
      • Dimensões do gozo Outro nas tramas das redes sociais - Lilany Pacheco
      • A pulsação do supereu no surgimento do sinthoma - Alberto Murta
      • A embaraçosa exclusão do objeto em Kant Adelmo - Marcos Rossi
      • O sujeito autônomo e os imperativos de gozo - Gabriel Coimbra Carvalho
    • Trabalhos apresentados na Jornada de Cartéis da Seção São Paulo em 4 de outubro de 2014
    • A elaboração de uma questão sobre o amor - Georgia Soares De Sordi
    • Um amor furado? - Sílvia Sato
    • Sublimação - Elisangela Miras
  • Agenda de Cartéis da EBP

Extimid@des

  • Editorial - Márcia Szajnbok
  • A Psicanálise, o Público e o Privado - Maria Cecília Galletti Ferretti
  • Harun Farokcki e o Desenvolvimento da Ilusão de Completude da Imagem - Fabiola Ramon

EBP Debates

"Quais são as suas expectativas e perspectivas em relação ao seminário/conferência dos AMEs que você prepara para o XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano?"

Editorial – Paula Borsói e Frederico Feu
Respostas de:  Ana Lucia Lutterbach Holck (RJ)Francisco Paes Barreto (MG)Cristina Drummond (MG)Elisa Alvarenga (MG)Heloísa Caldas (RJ)Luiz Henrique Vidigal (MG)Maria do Carmo Dias Batista (SP), Sandra Arruda Grostein 

Acontece na EBP

Confira o que acontece na EBP pelo Brasil…e no mundo - Ruskaya Maia e Rogério Barros
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27 de novembro de 2014

Crónica: ¿Por qué las sesiones lacanianas no se rigen por el reloj? Amanda Goya (NUCEP), por Miguel Ángel Alonso


La pregunta ¿Por qué una sesión lacaniana no se rige por el reloj?, junto con un poema de Borges, constituyeron el epígrafe de la quinta sesión del ciclo de conferencias ¿Qué es el psicoanálisis lacaniano?* pronunciada por la psicoanalista Amanda Goya, que inició la charla refiriéndose a lo misterioso del tiempo articulado a la condición mortal y finita de los seres hablantes, a la historia del tiempo tomada por griegos y hebreos en relación al movimiento natural y cíclico de los cuerpos celestes, pero también en relación a la idea de eternidad. Eternidad inmutable y verdad fuera del tiempo para Platón en su concepción de la geometría; paradoja del ahora para Aristóteles; enigma y paradoja imposible de atrapar para San Agustín; tiempo y espacio como formas apriori de la sensibilidad, condición previa a toda experiencia para Kant; horizonte del ser, dimensión propia del ser-ahí, del ser-en-el-mundo, del ser-para-la-muerte en Heidegger.

La formulación literal de la paradoja del ahora fue la siguiente: “el pasado ya no es más, el futuro aún no es y al ahora no podemos inmovilizarlo…” ¿qué es el tiempo…? “¿Existe el tiempo? ¿Es una categoría íntima, subjetiva, como afirmaba Plotino, el filósofo del Uno?”

Más allá del tiempo relativo al registro de la conciencia, de la medida, de la linealidad, de la uniformidad, de la espacialidad, o de las múltiples variedades psicológicas articuladas al reloj, las coordenadas del tiempo en el psicoanálisis se establecen dentro de una experiencia subjetiva. Tendrían que ver con ritmos, escansiones, puntos conclusivos, y con el inconsciente freudiano, que no conoce el tiempo. Tesis deducida de experiencias como los sueños, las fijaciones traumáticas a un eterno presente, la fijación a ciertos objetos libidinales, la indestructibilidad del deseo como resto imperecedero.

El inconsciente freudiano fue definido como una memoria que registra huellas psíquicas de experiencias vividas, incluso en épocas remotas de la existencia, que retornan de forma intensa como si el tiempo no hubiese pasado. La traducción lacaniana de este inconsciente freudiano sostiene que el inconsciente es un saber, una trama de significantes desconocida por la conciencia, un saber inaccesible si no se crean ciertas condiciones artificiales, como lo es la experiencia analítica.

Para sintetizar lo dicho, Amanda Goya trajo a colación una cita de Freud en Más allá del principio del placer: “Hemos averiguado que procesos anímicos inconscientes son en sí atemporales. Esto significa que no se ordenaron temporalmente, que el tiempo no altera nada en ellos, y que no puede aportárseles la representación del tiempo”.

Tomó a continuación dos dimensiones del inconsciente presentes en la sesión analítica, el inconsciente-sujeto y el inconsciente-repetición, o en términos aristotélicos la tyché y el automaton. En el primero situó lo azaroso, lo fugaz como pulsación temporal que acontece aleatoriamente, que nos sorprende y que, en la experiencia analítica, tomará estatuto de acontecimiento. La segunda fue ilustrada por las acciones y ceremoniales obsesivos que se repiten de la misma manera, a la misma hora y en el mismo orden,  donde asistimos a una suerte de anulación del tiempo.

Jacques-Alan Miller, y más concretamente su seminario Los usos del lapso, fueron tomados para ubicar la sesión analítica en estas dos dimensiones. La sesión como acontecimiento regular instituido por el discurso analítico, casi burocrático, como condición para que el inconsciente-sujeto tenga lugar. El tiempo de las sesiones se rige no por el reloj sino por lo que el paciente dice en lo que el analista escucha, que es quien decide el momento de concluir la sesión. Es la posibilidad de suscitar el azar, la sorpresa, lo imprevisto, y que los efectos de verdad sean susceptibles de desciframiento. Quedaría anulada así cualquier simetría temporal, pues se trata del tiempo subjetivo del analizante, un tiempo relativo a cada sesión tomada como unidad. Tiempo lógico en el que el analista decide el corte de la sesión.

Coordenadas del tiempo diferentes a los estándares de la I.P.A., cuestión en la que se detuvo Amanda Goya para relatar la experiencia de Lacan con esa institución y su expulsión de la misma. Punto de inflexión para la creación de una escuela lacaniana en la que el tiempo deja de ser una medida estándar. Diferenciación muy específica entre tiempo y duración, entre medida y escansión, entre medida y puntuación, lo cual supondría, según Miller “la adquisición de un resultado parcial que lleva a cabo una mutación respecto del problema inicial”. Por ejemplo, en la escucha, el analista interrumpe el discurso sin dejar que la frase concluya para hacer oír una verdad subjetiva. Es el corte que sorprende al sujeto, lo deja en suspenso, eclipsa la significación y propicia, como revelación, el surgimiento de una rectificación subjetiva, cuestión que fue ilustrada con un ejemplo clínico. 

Tiempo lógico, no cronológico, que Amanda desarrolló también en el Apólogo de los tres prisioneros situados ante el enigma propuesto por el carcelero y que implicaría la libertad de aquél que lo resolviera. Reflexión acerca del tiempo que recae sobre estos tres sujetos, tiempos lógicos que se desglosan en tres escansiones, el instante de ver, el tiempo para comprender y el momento de concluir. El primero y el último instantáneos, sólo el segundo relativo a una duración. La sesión lacaniana no es cronológica es lógica, este es el giro que produce Lacan para que el sujeto pueda progresar en la estructura y desenredar los hilos que le tienen atrapado en su cárcel personal.

* CICLO DE CONFERENCIAS DE INTRODUCCIÓN A LA ORIENTACIÓN LACANIANA (Nucep-Madrid)  2014 ¿QUÉ ES EL PSICOANÁLISIS LACANIANO?
Coordinan: Amanda Goya y Gustavo Dessal

26 de novembro de 2014

AMP -Asociación Mundial de Psicoanálisis-. FAPOL -Federación Americana de Psicoanálisis de Orientación Lacaniana-. CONDOLENCIAS


FAPOL
 Federación Americana de Psicoanálisis 
de Orientación Lacaniana

CONDOLENCIAS 

Nos enteramos con dolor del fallecimiento de nuestra querida colega Lucía Blanco.
Lucía, miembro de la EOL y de la AMP participó activamente en nuestra comunidad desde mucho antes de la fundación de la Escuela. Lo hizo siempre con lucidez y con su temperamento. Los amigos, los compañeros de ruta sin duda la extrañaremos.
 
A ellos y a su familia les hacemos llegar nuestro afecto.

Mauricio Tarrab                          Flory Kruger
Presidente                              Vice presidente



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AMP
 Asociación Mundial de Psicoanálisis 

CONDOLENCIAS

Conocí a Lucía Blanco hace ya algunos años, en 1984, aquí en Buenos Aires, en ocasión del Encuentro Internacional del Campo Freudiano. Como a muchos otros colegas que hemos compartido su amistad, me impactó ya entonces su gran viveza, su entusiasmo y su dignidad en la relación con la causa analítica que ha seguido manteniendo hasta el final.

Ese real imprevisto que llamamos destino ha querido que justo a mi llegada a Buenos Aires, treinta años después, me golpee la noticia de su muerte.

Vaya aquí el testimonio de mi profundo sentimiento de dolor y de mi mayor afecto a todos los colegas de la EOL y los familiares de Lucía Blanco.

Miquel Bassols.
Presidente de la AMP.


Buenos Aires 25 de Noviembre de 2014.

25 de novembro de 2014

L'AFFICHE du congrès de la NLS à Genève, Moments de crise et sa présentation, par François Ansermet

 
L’AFFICHE 
du XIIIème Congrès de psychanalyse de la New Lacanian School
Moments de crise
à Genève, les 9 et 10 mai 2015



La crise, entre l’entaille et le temps, 
par François Ansermet 
  
Note à propos de « Attese » de Lucio Fontana, 1963, l’œuvre choisie pour l’affiche du XVIIème Congrès de la NLS, « Moments de crise », Genève, 9-10 mai 2014 

Comme l’ont reconnu Freud et Lacan, l’artiste ouvre très souvent la voie au psychanalyste. Fontana est en cela exemplaire. L’œuvre choisie met en elle-même la crise en jeu, par les entailles qui la traversent, restes de coupures qui ont eu lieu. Ces entailles sont comme les traces d’une série de gestes qui ont eu lieu, qui ont traversé la toile au  moyen d’une lame qui l’a fendue en de multiples coupures. En même temps la surface de la toile, d’un rouge intense, est là, offerte au regard, presque apaisante. Fontana  parlait d’une « douce coupure », choisissant  l’oxymore pour dire cette tension. Dans toute crise, le réel se dévoile et ouvre sur un infini, sur un vide, qui se révèle à travers la fente. Un réel qu’aucun mot n’arrive à dire, qu’aucune image ne peut contenir. Un réel qui reste en attente – d’où Attese, le titre donné par Lucio Fontana à cette série.

Entre coupure, temps et attente, on retrouve les composantes de toute crise. Notre XVIIIème congrès, avec son titre « Moments de crise », porte à la fois sur le temps et la crise. La crise a en effet à voir avec le temps. On pourrait même décliner une clinique différentielle des crises par rapport au temps. Il y la crise qui fait effraction, qui sidère, qui pétrifie le temps, comme dans le traumatisme. Il y a la crise qui accélère le temps, qui fait perdre tous les repères, jetant dans une spirale sans fin. Il y a la crise qui résulte d’un temps devenu immobile, gelé, comme dans la dépression. Il y a la crise qui se prend dans le temps de la répétition, jusqu’à la compulsion, à l’addiction. Il y a la crise suicidaire, avec le risque de sortir pour toujours du temps.  

Quoi qu’il en soit, si une crise  surgit – qu’elle soit psychique mais aussi sociale, économique, culturelle ou guerrière - plus rien n’est comme avant. Ceux qui la vivent ne savent plus où ils vont. La crise fait coupure. La crise ouvre une entaille. Elle résulte d’un réel qui s’impose et fait effraction. La déchirure qu’implique crise dévoile à son tour un réel impossible à supporter. Le moment de crise débouche sur le cercle de ce qui ne cesse de se répéter, de traverse la toile blessée de la subjectivité, comme l’entaille faite au tableau.

Mais la crise est aussi un moment critique, un moment décisif, un moment propice. Elle oblige à se situer, à décider ce qui sera au-delà. La décision est en lui-même un mot étymologiquement connecté avec le fait de trancher, avec la coupure. Le moment décisif de la crise est aussi celui où l’on peut couper avec ce qui faisait impasse, s’ouvrir à de nouvelles dimensions, sortir du monde tel qu’il était. Toute crise apporte avec elle ce type de potentialité.  Elle porte en elle une telle ouverture. Une crise peut en elle-même comporter les éléments décisifs vers une issue. Les choses retrouvent parfois un sens quand elles changent. La crise permet l’invention, elle oblige paradoxalement à aller vers ce qu’on ne sait pas encore.

Cette obligation d’inventer rejoint pleinement la démarche de Lucio Fontana. Dans son Manifeste Blanc en 1946, juste après la crise qu’a impliqué  la guerre et son exil en Argentine,  et les autres Manifestes qui ont suivi, comme le Manifeste technique du spatialisme en 1951, Fontana ouvre la voie vers un dépassement des arts de son époque. Il crée une conception nouvelle dont il fait une nécessité à travers laquelle va s’ouvrir tout un champ de création qui mettra sa création artistique sur une nouvelle voie, qui dépasse les frontières  des domaines artistiques de son époques, les connectant de façon nouvelle avec la culture et la science.

Dans le Concetto spaziale et la série dite Attese – dont fait partie l’œuvre choisie judicieusement pour l’affiche de « Moments de crise » - la toile est perforée d’entailles, soit unique, soit multiples. L’entaille connecte avec un espace au-delà de la toile, avec le temps au-delà de la surface. Comme a pu le dire Lucio Fontana, l’infini passe à travers l’entaille (il taglio) : l’œuvre semble abandonner le plan, quitter la toile, pour se poursuivre dans le temps et dans l’espace.

Toute crise met en jeu un rapport au temps. Elle se joue dans l’instant. L’instant de voir, pour reprendre ce premier temps du « temps logique ». Dans la crise, on a parfois l’impression que le moment de conclure se joue avant l’instant de voir. Pour traiter la crise, pour en sortir, il faut rétablir le temps. Le traitement de crise est un traitement du temps. Il faut créer une ouverture. Par l’acte analytique, pas la coupure, il s’agit de faire entaille : mais cette fois, une entaille qui libère.

Faire l’expérience d’une liberté nouvelle introduite par la crise, tel est le paradoxe du moment de crise. C’est ce moment que voulait atteindre Lucio Fontana  par la voie de l’entaille : comme il a pu l’énoncer, il s’agit de libérer l’homme « de l’esclavage de la matière » - on pourrait dire, à partir de la psychanalyse, de l’esclavage de la répétition - afin de lui permettre d’aller au-delà, « vers l’étendue du présent et du futur ». Tel est le pari de tout  moment de crise, ce dont notre congrès pourrait aussi chercher à témoigner. Tel est l’enseignement d’un artiste comme Lucio Fontana qui, avec ses entailles - Attese – nous met en « attente » de ce qui sera, au-delà de ce qui était, dans le suspend que l’œuvre permet d’expérimenter  dans l’instant.

24 de novembro de 2014

O tabu do incesto: uma questão ética. Dorothee Rüdiger

Lei, moral e bons costumes, no entanto, nunca impediram alguém a viver como bem entende, ainda mais quando se trata da sexualidade.


Como se mantém o tabu do incesto?* Boa questão a ser feita em pleno século XXI, quando o poder do pai está desmoronando. Se depender do Conselho de Ética da Alemanha, em breve, o incesto não será mais um caso de polícia. Hoje, contrário do Código Penal brasileiro que não prevê o tipo penal, o parágrafo 173 do Código Penal alemão proíbe relações sexuais entre irmãos. A quem infringe a Lei nesse sentido, esperam anos de prisão.

Foi isso o caso de um casal de irmãos alemães, que causou polêmica não somente na Alemanha, como no mundo afora. Patrick S. foi separado da família biológica aos 7 anos de idade, quando foi adotado por outra família. Adulto, procurou sua família de origem e apaixonou-se pela irmã, Susanne S. De seus quatro filhos, dois tiveram doenças geneticamente transmissíveis. Foram condenados e percorreram todas as instâncias da Justiça alemã em vão. Alegaram inconstitucionalidade do parágrafo 173 do Código Penal. Não tiveram sorte nem na Corte Federal Constitucional alemã e nem na Corte Europeia de Direitos Humanos. As cortes não aceitaram o argumento de que sexo entre irmãos seria uma questão de foro íntimo.

Recentemente, o Conselho de Ética da Alemanha tomou uma posição não menos polêmica que o assunto do incesto. Os intelectuais que representam a sociedade alemã em questões éticas decidiram que “o direito penal não é meio adequado para guardar um tabu social”.

A decisão do Conselho é um importante passo na descriminalização da sexualidade. Mesmo praticado entre irmãos adultos, continua um tabu. Para Sigmund Freud, esse tabu é fundamental para a vida humana na civilização. O limite à sexualidade é o tributo que o ser humano paga para poder viver em sociedade. Se não fosse assim, haveria briga entre os irmãos pela mãe e pelas irmãs. Não haveria pacto social, nem haveria lei.

A lei não é a única maneira de manter uma sociedade funcionando. Existem também a moral e os bons costumes. Lei, moral e bons costumes, no entanto, nunca impediram alguém a viver como bem entende, ainda mais quando se trata da sexualidade. Será que a lei deve limitar as expressões da sexualidade humana entre pessoas adultas? Será que pode proibir práticas sexuais, por mais estranhas que sejam?

No Brasil, não há proibição legal. Há o exercício da responsabilidade ao menos dos adultos decidirem como viver a sexualidade. No entanto, a decisão do Conselho de Ética da Alemanha reverbera também aqui. Tirar a sexualidade do campo da lei, da moral e dos bons costumes e, portanto, da culpa, e colocá-la no campo da ética e da responsabilidade íntima de cada pessoa singular é sábio. Quando recomenda a despenalização de um aspecto da sexualidade que continua um tabu, o Conselho dá um importante passo no campo do direito. Abandona a lógica da moral e da culpa contida na construção jurídica. Fundamenta o direito na ética e na responsabilidade e abre o direito para a pós-modernidade.  

 
Dorothee Rüdiger é psicanalista e doutora em Direito pela Universidade de São Paulo