Papers em Pauta – Noite Preparatória ao VIII Congresso da AMP
Intercâmbio e Cartéis – Jornada de Carteis
Biblioteca – Acervo, Tradução, Reflexão
Publicações – Lançamento
Ecos do Mundo – Congresso da AMP
Terra de Santa Cruz – XIX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano
|
Seminário da EBP-SP |
PAPERS EM PAUTA
Na quarta-feira, 7 de março de 2012, a EBP-SP promove a Noite Preparatória ao VIII Congresso da AMP - A Ordem Simbólica no Século XXI.
Serão apresentados textos publicados nos Papers, por Cristina Drummond - Diretora da EBP, Luiz Fernando Carrijo da Cunha - Diretor da EBP-SP eRômulo Ferreira da Silva - Conselheiro da EBP, com comentários e debates de Angelina Harari, responsável pelos Papers no Comitê da Escola Una.
Endereço
Rua João Moura, 674, Pinheiros, São Paulo.
Entrada Aberta |
Intercâmbio e Cartéis |
JORNADA DE CARTÉIS
Dia 16 de junho de 2012 vai acontecer a Jornada de Carteis da EBP-SP, com a presença de Marcelo Veras. Preparem seus trabalhos!
|
Biblioteca |
ACERVO 1. 2. O acervo da Biblioteca da EBP-SP está em constante crescimento, graças ao trabalho de intercâmbio com o Campo Freudiano e diversas universidades de nosso país.
***** A EBP-Bahia enviou:
Motta, Carlos Gustavo. Psicoanálisis Y Sida.
***** Wellerson Alkmin organizou e presenteou a Biblioteca com um exemplar:
Vigano, Carlos. Novas Conferências. Belo Horizonte: Scriptum livros, 2010
Facebook – Escola Psicanálise Ebp Sp com 2510 amigos Siga-nos no Twitter - @ebp_sp Blog – ebp-sp.blogspot.com, 6.927 visualizações Site – www.ebpsp.org.br com 3.245.114 visitantes
______________________________
Jorge Forbes lança mais um livro: INCONSCIENTE E RESPONSABILIDADE - Psicanálise do Século XXI e gentilmente autorizou a publicação da quarta capa de seu livro, assinada por ele.
[...] O inconsciente do qual vamos tratar é aquele que leva o ser falante a responsabilizar-se pela invenção de seu estilo singular de usufruir de seu corpo e de sua vida. No discurso da psicanálise difundida nos meios de comunicação, responsabilidade e inconsciente não são termos que aparecem conjugados, chegando a ser considerados excludentes. Assim, a responsabilidade estaria associada à consciência plena e onde houvesse inconsciência não poderia haver responsabilidade. Diante de um ato que cometeu – voluntária ou involuntariamente – e sobre o qual estranha a própria participação, é comum a pessoa dizer: ‘Só se foi o meu inconsciente’. No século XXI, o psicanalista que acredita no inconsciente irresponsável não trata o sintoma e não cura. É urgente considerar a responsabilidade pelo que é inconsciente, pois já não podemos mais contar com as ficções – tais como a do mito paterno – que, até o século passado, nos permitiam escapar, dizendo: ‘Foi por causa de papai’. Também a clínica psicanalítica, por essas mesmas razões, atravessa um novo momento. […]”
______________________________
No site da EBP-SP podem ser encontradas as diferentes publicações digitais do Campo Freudiano no Brasil. Entre em Biblioteca> Links> Publicações online do Campo Freudiano. Entre no link desejado. Veja abaixo as opções:
Opção Lacaniana Online - Revista Brasileira Internacional de Psicanálise Latusa Digital - Revista digital da EBP-Rio Agente Digital - Revista digital da EBP-Bahia MOTe Digital - Revista digital da Delegação RN Almanaque On-line - Revista digital do IPSM-MG CSP-ONLINE – Revista digital da EBP-SP
_______________________OUTRAS PUBLICAÇÕES DO CAMPO FREUDIANO
Além das publicações listadas acima, vocês pode consultar as publicações digitais do Campo freudiano no resto do mundo. Entre em Biblioteca >Links > Publicações online do Campo Freudiano e depois acesse os Links das publicações do Campo Freudiano disponíveis atualmente.
______________________________
“Lacan Cotidiano” é uma publicação diária da Orientação Lacaniana: nossas mídias veiculam as traduções feitas por psicanalistas brasileiros sob a coordenação de Maria do Carmo Dias Batista e Cristina Maia.
As discussões sobre o autismo continuam: leiam, em especial, o artigo de Eric Laurent publicado no nº 164. Aqueles que desejarem ler no original francês entrem no site http://www.lacanquotidien.fr/
|
Ecos do Mundo |
CONGRESSO DA AMP: “A Ordem Simbólica no Século XXI não é mais o que era. Quais as consequências para o tratamento”?
O Boletim informativo do VIII Congresso da AMP - Hurry Up! – pode ser visitado no site: www.congresoamp.com
Além de todo o trabalho epistêmico que vai proporcionar aos participantes, a ida ao Congresso permitirá também que se revisite ou conheça a cidade de Buenos Aires.
Leiam as sugestões de uma apaixonada:
Descobrindo Buenos Aires em boa companhia!
Buenos Aires querido não só de Gardel, Mallea e Borges, mas também de todos nós. Viver Buenos Aires do tango, do design e de mil segredos, considerando-se sua cultura, arte, arquitetura, música e a vida noturna da cidade cosmopolita, pode ser fonte inesgotável de descobertas: uma experiência singular para cada participante da semana do VIII Congresso da Associação de Psicanálise Mundial - AMP em Buenos Aires entre 23 e 27/04 de 2012.
Caminhe pelas ruas de Borges e descubra algo pitoresco que cada esquina tem a oferecer. Das ruas de casas multicoloridas do bairro La Boca até o polo gastronômico de Puerto Madero com seus tijolos vermelhos, como na zona portuária londrina, e a sinuosa Puente de La Mujer, projeto do arquiteto espanhol Calatrava simbolizando um casal a dançar o tango.
Olhe ao redor... Há muito a desvendar! E o Teatro Colón, em estilo renascentista? Se você escolher seguir pela Corrientesprovavelmente terá trilha sonora acompanhando até chegar à Av. 9 de Julio, onde o Teatro Colón espera, à direita.
Dirija-se ao deslumbrante reinado dos livros – El Ateneo – antigo cine-teatro construído em 1919, por Peró e Torres Armengol, transformado em mega livraria, em 2000: encontre aquele cantinho aconchegante em um dos antigos camarotes para entregar-se às delícias da leitura, um bom café com media-lunas, rodeado pelas cortinas de veludo vermelho do antigo palco.
No bairro da Recoleta, detenha-se na estrutura polêmica e intrigante, em estilo moderno brutalista-racionalista, do prédio que abriga a Biblioteca Nacional da República Argentina.
Deleite-se com os restaurantes do bairro: escolha difícil! Comer, comer, comer, eis a questão! O Million, em plenaRecoleta pode ser boa pedida para a happy hour de 6ª feira, pós-congresso. A Casa Cruz ou Bar Uriarte na própria calle Uriarte, 1572, em Palermo Viejo; o Sucre, na rua Sucre, 676 no bairro de Belgrano ou jantar e dançar no Rumi; Tegui, do mesmo chef da Casa Cruz vai fazer você gostar de tudo, da fachada à comida e até das bananeiras, parte da decoração; a calle Baez cheia de bares e restaurantes, no bairro Las Cañitas, lugar para baladeiros.
Para finalizar, e não mais falar em comer, se você ainda não viu “o homem que come gente”, o “Abaporu”, de Tarsila do Amaral - obra relevante em nossa Semana de Arte Moderna -, terá oportunidade de vê-lo no MALBA – Museu de ArteLatinoamericano de Buenos Aires, na Av. Pres. Figueiroa Alcorta, em Palermo.
Voilá! Buenos Aires é todo seu. Disfrutelo!
Carlos Gardel (Http://youtu.be/RmXCVOmOCPU)
Cláudia Aldigueri
_____________________________
SCILICET
A CSP-ONLINE convidou membros da Seção SP para comentar textos publicados na Scilicet (revista do Campo Freudiano, com textos preparatórios em estilo verbete, ao VIII Congresso da AMP) Nº 4 – Nova série - A ORDEM SIMBÓLICA NO SÉCULO XXI.
O verbete “Incurável” foi desenvolvido por Celso Rennó Lima e convidamos Maria Cecília Galletti Ferretti para comentá-lo.
______________________________
Ao abordar o verbete “incurável”, Celso Rennó Lima, após ligá-lo ao sintoma – pois quando falamos em incurável estamos falando em sintoma – liga o à pulsão. É ela que apresenta um caráter incurável e, além disso, não faz laço social.
A pulsão é envelopada pelo sintoma fazendo com que o objeto “pequeno a” definido aqui a partir dos orifícios do corpo, seja também ele, o incurável. O objeto “pequeno a” é o incurável porque em torno dele a pulsão faz seu circuito, provocando a escritura e a repetição do sintoma.
Após estas precisões conceituais, o autor adentra as consequências clínicas presentes neste arcabouço teórico. A primeira delas refere-se à fundamental importância de que o analista desfaça a presença do Outro, matriz que tem duas entradas: a do objeto ”pequeno a” e a do significante. Desfazer a presença do Outro significa aqui livrar-se das diretrizes que determinam a fixação do circuito pulsional, origem da repetição automática.
A outra consequência clínica diz respeito à interpretação, tema este de fundamental importância para a clínica psicanalítica. A interpretação atingirá o sintoma em sua face de efeito de sentido e em seu valor de gozo; por outro lado, a face antinômica do sintoma só se deixará apreender pelo equívoco, levando, assim, à função da letra. Deparamo-nos, então, com uma importante conclusão quanto ao incurável: ele poderá ser apontado pela interpretação. Desta forma será devolvida ao objeto sua característica de ser qualquer um, ficando, assim, mobilizado seu valor de gozo.
Na medida em que a clínica é abordada no desenvolvimento do verbete, a transferência necessariamente faz sua entrada: o sujeito suposto saber e o amor, tendo cumprido sua tarefa, levam o sujeito a uma nova relação com o saber e com o seu modo próprio de gozo.
A conclusão deste importante texto leva a falar em uma nova aliança com a pulsão, assim como em uma revitalização do Nome próprio. Vemos, então, que o incurável leva ao “saber fazer ali com o sintoma”.
Maria Cecília Galletti Ferretti
|
Terra de Santa Cruz
|
E a Bahia nos espera em Novembro para o XIX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano – dias 23 e 24 de Novembro de 2012.
Entrem no link para o número 1 do Boletim Outras Palavras.
______________________________
A Cinemateca Brasileira (Largo Senador Raul Cardoso, 207, vila Clementino. Fone: 3512-6111) traz a exposição QUERO SER MARILYN MONROE! A exposição comemora os 50 anos da morte de Norma Jeane Mortensen? Não, os 50 anos de Marilyn Monroe, personagem, um enigma do feminino. “O ar de garota doce e vulnerável aliado ao sex appeal foi a fórmula perfeita para que arrebatasse não só a plateia masculina. Deu a ela o privilégio de ser desejada pelos homens e admirada pelo público feminino, que viam nela uma mulher real”. Flavia Guerra – O Estado de são Paulo, domingo, 4 de março de 2012 Caderno 2 + TV.
Comemorando os 125 anos de Heitor Villa-Lobos maestro e compositor, principal responsável pela descoberta de uma linguagem peculiarmente brasileira em música, considerado o maior expoente da música do modernismo no Brasil, o Shopping Villa Lobos promove uma exposição.
______________________________
A biblioteca da EBP-SP buscando incentivar o debate ao redor do tema do próximo congresso da AMP, A ORDEM SIMBÓLICA NO SÉCULO XXI, vem traduzindo textos publicados pela Revista Colofón - N° 30, Feminidades. O texto abaixo, de Inma Guignard-Luz foi traduzido por Paola Salinas, revisado por Marcela Antelo e está sendo publicado com a amável autorização da autora.
O masoquismo feminino segundo Hélène Deutsch(1) Uma referência a “Propos directifs sur la sexualité feminine”
Inma Guignard-Luz
Após a leitura das primeiras páginas do texto de Hélène Deutsch(2) a respeito do que ela chama “O masoquismo feminino” cheguei a acreditar, num primeiro momento, que ela se inscrevia na tentativa de Freud de captar o ser da mulher a partir de uma posição masoquista. Espero que o resultado da leitura continuada do restante do texto que lhes proponho permita, porém, fazer ressaltar como Hélène Deutsch não faz do masoquismo feminino o pedestal de “o ser mulher”, senão o de uma definição da sexualidade feminina. Apoiando-se em vários casos vemo-la examinar e explorar certa operação feminina para inscrever-se num discurso, que me parece ser da ordem da privação. Nos casos que descreve, essa manobra servirá para construir no nível do próprio corpo, um ponto de sutura entre o imaginário e o gozo excedente real(3). Tentativa arriscada e dolorosa, porém, através da qual, segundo ela, as mulheres se introduzem numa “realidade social” que parece funcionar como limite para algumas delas. É ai que Hélène Deutsch localiza o que chama de “masoquismo feminino”, sem fazê-lo equivaler, contudo, como Freud, à perversão masculina.
Médica psiquiátrica ela mesma, muito impregnada das aderências do saber da psicanálise, debruça-se, contudo, de forma valorosa sobre as declinações femininas da “parte maldita da natureza humana”, da qual os homens também não estão protegidos e frente à qual desfalecem tanto as vocações terapêuticas quanto os serviços sociais.
A interrupção precoce da sua análise com Freud, para ceder seu lugar ao “Homem dos Lobos” a pedido do próprio Freud, parece tê-la impedido tirar todas as consequências que poderíamos esperar da fineza de suas observações e do interesse de alguns dos seus comentários. Hélène Deutsch situa de entrada, o próprio corpo de uma mulher como lugar onde jogam dois interesses contraditórios difíceis de conciliar: "os do indivíduo e os da espécie”. Qualificada de ilimitada e ingênua a busca de prazer do indivíduo feminino, situa por outro lado a dor do parto “inscrita na natureza”, “a serviço da propagação da espécie”, como necessária para uma mulher. Inscrevendo ai o masoquismo feminino, via maternidade, como uma espécie de ontogênese feminina.
Se em suas associações deduz o que chama a associação entre sofrimento e prazer, diretamente da função da “reprodução”, estabelece uma articulação interessante que designa como “colaboração mais ou menos harmoniosa do masoquismo e do narcisismo”. A noção da necessidade da dor como limite ao prazer reteve minha atenção. Também a questão da inscrição social feminina que ela abre aqui pela via da espécie.
As mulheres suportariam, segundo Hélène Deutsch, a dor do parto em suas duas caras: versão limite ao prazer/versão reconhecimento social. Seria essa marca corporal dolorosa a que as inscreveria, segundo ela, no vínculo social.
Se, à primeira vista, para Hélène Deutsch, masoquismo-passividade parecem indissociavelmente ligados à posição feminina, veremos adiante que não duvida em arriscar-se um pouco além do ponto onde se encontrava Freud em sua investigação nesse momento. O faz no momento em que consegue descolar um pouco a questão feminina da maternidade e da propagação da espécie.
Por um lado tenta resolver a questão da uma suposta essência feminina de origem, na maternidade; até o ponto em que chega a fazer da dor, para toda mulher, uma função quase homeostática: “a dor apazigua o sentimento de culpabilidade e provoca o prazer”. Contudo, se lhe impõe que o prazer corporal para uma mulher é problemático; até o ponto que chegará a interrogá-lo colocando-o em dialética com a dor. Acolhendo-a pelo avesso, chegará assim a reverter a questão da “passividade inscrita na natureza” em uma posição ativa do sujeito feminino. Indica por esse difícil caminho que o prazer é problemático e pode inclusive ser devastador para uma mulher.
Nesse ponto Hélène Deutsch descobre certa tendência nas mulheres em geral, que qualificaremos com Lacan, como gozo da privação (furo real-objeto simbólico).
Assim, pois, passamos das ânsias biológicas do parto à surpresa para uma mulher a respeito das manifestações do seu próprio corpo; não é o mesmo registro, apesar de que Hélène Deutsch se desloca de um ao outro sem que nos permita localizar com certa precisão onde se joga para ela essa passagem.
A defloração, nos diz, libera uma menina da sua responsabilidade. “A razão primordial de todas essas modalidades de prazer masoquista reside nas necessidades eróticas de componentes que foram reprimidos e que aparecem abertamente na vida imaginativa. É evidente que essas imaginações não podem aceder à consciência a não ser recobertas por uma sanção dolorosa e a não aceitação do objeto real”(4).
Podemos interrogar, sem grande esforço, aquilo que faria com que uma menina devesse recorrer a tal reforçamento de uma lei imperativa e feroz para canalizar a emergência de pulsões que se manifestam sobre a cena do próprio corpo. Esta operação, de recurso então, aponta a um fenômeno clínico que tem todo seu valor, inclusive em nossa época de direitos para homens e mulheres. Num filme recente intitulado L´Antéchrist (5), a psicose desencadeada pela maternidade em uma mulher serviria apenas de álibi para colocar, exclusivamente do lado da psicose feminina, um gozo excedente informe que uma mulher experimenta vagamente em todo seu corpo e que o personagem do filme tenta conjurar sem êxito até a morte.
Com a noção lacaniana de um gozo não-todo fálico, a equação que estabelece Hélène Deutsch entre o que nomeia a passividade feminina e o que chama “manifestações quase biológicas”, reunidas no masoquismo, tem para nós outra ressonância. Ela situa a causa do lado do que chama os componentes reprimidos das necessidades eróticas, “forças instintivas que jogam seu rol na infância e retornam com força na puberdade”. O corpo, terreno das manifestações pulsionais, captado de entrada pela linguagem do Outro, não se apazigua nesse vinculo com o Outro. Implicaria mais num certo fracasso do vínculo (fracasso do princípio do prazer), o fracasso da repressão manifestando-se pelo retorno do reprimido.
“Essas imaginações substitutivas (recalque) em uma jovem só podem aceder à consciência recobertas por uma sanção dolorosa"(6), tentativa de re-enlaçar o corpo a uma sanção significante como cobertura, envoltura, e cuja dor constituiria a marca, o sinal eficaz. A jovem enfrenta-se com o gozo real, informe, no próprio corpo, sem o recurso a bússola peniana para orientar sua pulsão(7). Segue por sua conta, a invenção de outras.
O imaginário na jovem não se configura no próprio corpo, não se localiza ai nenhum órgão próprio que sirva realmente para isso. Marie Bonaparte, por exemplo, tentou em vão resolver esta dificuldade em encontrar o equivalente a um condensador de gozo no corpo de uma mulher, que faça limite e proteja da devastação. Hélène Deutsch chama isso de “não aceitação do objeto real”.
Para Deutsch: “As tendências masoquistas não se apresentam como premonições obscuras e inconscientes, mas bem como imaginações concretas em contato com a realidade".(8) Coloca em relevo seu caráter fantasmático. Concernindo diretamente ao corpo, “são, contudo, menos perigosas que outras imaginações masoquistas perversas”. Assim, pois, estabelece muito claramente a diferença com a perversão. “Se as imaginações fossem diretamente satisfeitas implicariam diretamente à perversão, o que é extremamente raro nas mulheres”.
“Quando encontramos uma perversão, consiste no desejo de ser batida sem motivo”. Nos casos que cita, com efeito, o corpo dessas mulheres não parece ser o terreno de nenhuma divisão, de nenhuma devastação, de nenhuma significantização dolorosa, e acrescenta, “de nenhum prazer”.
Ainda mais, a dor parece completamente desconectada do próprio gozo. “Elas não experimentavam nenhuma sensação de prazer quando eram batidas”.(9)
Razões de contabilidade, profissionais, sem estados de ânimo. Entre elas distingue as que se ofereciam como “sacrifícios de amor” a seus amantes sádicos. Aí, indica mais precisamente o registro da psicose. Observa, contudo, de forma muito pertinente, inclusive nos exemplos que cita o valor sintomático do que nomeia de desejo masoquista, que nesses casos seria satisfeito por outra via, por um rodeio, diz. Ou seja, pela eleição de um objeto de amor sádico e a indulgência à sua perversão, enquanto que a satisfação direta é rechaçada. Não goza, é gozada; sacrifício do gozo não-todo a um Mestre absoluto não castrado.
O que chama masoquismo feminino, contudo, é mais uma questão de divisão na cena do próprio corpo, assim como de retorno do reprimido. Desse modo não há denegação da castração do Outro. É um masoquismo, nos diz, “não desprovido de sentido sexual”.
Situa a causa nos movimentos obscuros da excitação sexual, pouco clara, não localizada de maneira genital e que na puberdade, encontra de maneira premente as solicitações sociais. Acarreta estados de ansiedade, frente “às exigências idealistas narcisistas”, sobre as quais se constituem as “imaginações masoquistas".(10)
Desse modo, o masoquismo feminino considerado inicialmente como tendência natural, perfila-se agora como uma “resultante” da tensão que existe entre forças que não são homogêneas: “Forças no sentido contrário”. Sua estranheza e sua monotonia assinalam, já para Hélène Deutsch, a insistência da inapagável pulsão que as organiza.
A melhor maneira de alcançá-las, nos diz, é a psicanálise, onde podem ser desmascaradas. O ato sexual, tendo raízes tão profundas, é inacessível a qualquer correção puramente intelectual. Aqueles que se alinharam à “Psicologia do eu” deveriam ter levado isso em conta.
Depois nos dá indicações clínicas preciosas a respeito da psicose: em certos casos nos quais a mulher adota uma posição de dejeto, o Eu ideal repudia qualquer liberdade sexual, inclusive a liberdade em imaginar; ou seja, a incapacidade de uma construção fantasmática. As imaginações próprias, como ela mesma as chama, retornam ao sujeito sob a forma de insultos ou auto-recriminações. Não há dialética nem contradição possível.
O amor ao pai, segundo HD em certos casos onde a filha é a preferida dentre outras filhas (o que era o caso de Hélène Deutsch), favoreceria a divisão feminina mediante o relevo que suporia para a filha o próprio corpo da mãe acerca do pai. A filha se veria assim preservada em sua divisão, precipitando-se com mais força na versão do amor ideal(11). Mas, nos indica também inconvenientes: o luto não feito desta posição privilegiada em relação ao pai seria a origem de certas cegueiras femininas: as incautas do pai, que se oferecem ao primeiro que encontram, acreditando em tudo que se lhes diz.
Contudo, põe na conta das “desencantadas do pai”, que denunciam com cinismo sua incapacidade de resolver o injusto da sua divisão, certas mulheres que andam de braço dado, sem contradição nenhuma, com o ambiente muito codificado da prostituição e da ausência de reticências morais.
Finalmente, Hélène Deutschproblematiza a questão do masoquismo feminino, introduzindo em seu texto sujeitos femininos lutando com conflitos psíquicos adquiridos e não inatos(12).
Contudo, no concernente ao que ela chama “vínculo de amor masoquista”, me parece ser necessário interrogar a equação um tanto rápida que estabelece: heroísmo-necessidade de destruir-se. Um dos casos que cita é de uma mulher que abandona seu marido quando ele fica fora do circuito ao ser preso. Casa-se com um homem rico que lhe dará tudo o que pede: uma vida agradável, uma posição social, um filho, porém não hesitará em nenhum momento em abandoná-lo quando o primeiro, recém egresso da cadeia, se enfurece com ela por tê-lo abandonado. Ainda que saiba claramente que ele não lhe dará o que lhe pede, volta para ele. Declara-se satisfeita e sem nenhum arrependimento. Parece-me que o exemplo citado introduz a diferença entre a questão do ser e do ter para uma mulher. E coloca o imenso valor que tem para uma mulher isso que tem se trocado, mais alem do ter(13).
O segundo caso, de uma mulher “alienada totalmente a um parceiro que lhe bate sem parar” coloca a seguinte questão: seria o Mestre sádico o único que estaria à altura de responder frente a certa solicitação de amor, que para algumas mulheres não pode manifestar-se mais que como um imperativo? Como um homem pode chegar a ser um “parceiro devastador” para uma mulher? |
7 de março de 2012
CARTA DE SÃO PAULO-ONLINE - ANO II/Nº2
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário